Refém da escassez de investimentos, o Brasil cresceu apenas 0,9% no ano passado, pior resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três anos. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os recursos aplicados pela indústria e pela agropecuária despencaram 4% – quadro que levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a comparar ao desempenho da economia em 2012 ao da recessão de 2009, quando o Brasil foi atingido em cheio pelos efeitos da crise internacional.
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Dentre os setores analisados, apenas o segmento de serviços, que inclui comércio, avançou, graças ao mercado interno ativo em razão do aumento de emprego e renda. O resultado do indicador que mede o consumo das famílias foi uma das poucas boas notícias na apresentação do PIB, sexta-feira.
No entanto, as vendas não reverteram necessariamente em negócios para a indústria, que sofre com a entrada de mercadorias importadas, a baixa atividade econômica internacional e condições adversas para aumentar a produção, explica Emerson Marçal, coordenador do Centro de Macroeconomia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. O valor total de investimentos caiu 4% no ano passado em relação a 2011.
– O PIB de 2012 deixou ainda mais claro que é preciso enfrentar os fatores que impedem o investimento produtivo, como gargalos na infraestrutura, sistema tributário confuso e a baixa poupança interna – avalia Marçal.
Entidade aponta ação do “tripé do mal”
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A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) atribuiu ao “tripé do mal”, formado por juros, tributos e câmbio, os motivos pelos quais o país tenha crescido tão pouco.
O economista Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, acrescenta que a indústria congelou os planos de expansão em razão de incertezas com a política econômica do país.
– Os empresários percebem uma sequência de interferências do governo na economia, como a redução na conta de luz, que, embora cercada de boas intenções, foi conduzida de forma um hostil. Isso espanta os investidores – afirma.
Ao analisar o PIB, Mantega admitiu que os investimentos ficaram abaixo das expectativas. Mas preferiu atribuir o resultado a razões pontuais, como a queda na fabricação de caminhões (a indústria iniciou 2012 com os estoques cheios para escapar das novas exigências técnicas da Europa), que teria causado um efeito cascata na indústria de máquinas e equipamentos.
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– Do ponto de vista do investimento, (2012) foi muito igual à trajetória de 2009 – disse Mantega.
Para 2013, esperança na indústria
Fenômenos que sustentaram o crescimento da economia brasileira nos últimos anos, a ascensão da classe média e a disparada do consumo devem reduzir sua influência no desempenho do país em 2013.
Conforme especialistas, o menor reajuste no salário mínimo neste ano e o crescimento no endividamento, aliados ao fim das reduções de IPI, devem impedir altas expressivas na atividade de comércio e serviços. Um aumento de PIB, que vem sendo projetado entre 3% e 4% para este ano, dependerá principalmente da indústria.
– Em vez das lojas, quem deve movimentar a economia neste ano são as fábricas – projeta Francisco Pessoa, especialista em cenários econômicos da LCA Consultoria.
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Medidas como redução dos juros do BNDES para investimentos industriais, corte de impostos na folha de pagamento e desconto na conta de luz devem gerar mais investimentos em 2013, explica Pessoa.
Ritmo de expansão depende de uma agenda de reformas
No último trimestre do ano passado, a formação bruta de capital fixo, que mede os investimentos produtivos, interrompeu uma sequência de três quedas seguidas, subindo 0,5%. É pouco, mas pode sinalizar uma mudança, avalia o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
– O primeiro trimestre está se configurando bom, o crescimento observado no quarto trimestre do ano passado está sendo consolidado. Tivemos um PIB mais fraco, abaixo das nossas expectativas, mas em uma trajetória positiva de aceleração – analisa.
Mais do que os estímulos pontuais, será importante que o governo acene com uma agenda de reformas para que a indústria volte a investir no ritmo de que o país precisa para crescer, pondera o economista Vítor Wilher, especialista do Instituto Millenium:
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– Apenas assim teremos condições de crescer de forma constante por pelo menos 10 anos.
Também poderá pesar para a retomada do setor industrial o início das concessões de obras de infraestrutura, movimentando a cadeia da construção pesada. Além disso, a agropecuária deverá contribuir para um PIB mais generoso neste ano. Há promessa de boas safras nas regiões Sul e Centro-Oeste.
As projeções do mercado para o crescimento neste ano são mais modestas do que as traçadas pelo governo federal, variando de 2,5% a 3,5%. O economista e sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, afirmou que as projeções de alta de 3,2% do PIB de 2013 serão revistas e que os dados preliminares apontam expansão inferior a 3%.
– Para crescer o que prevíamos, seria necessária uma alta de 1% por trimestre, o que não vai acontecer – afirma Jensen.