O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), ligado à Aeronáutica, anuncia às 15h30min desta terça-feira o esperado resultado da investigação sobre o acidente que matou Eduardo Campos, candidato do PSB à presidência da República nas últimas eleições. O desastre aéreo, ocorrido em Santos em 13 de agosto de 2014, matou as sete pessoas que ocupavam o jato Cessna usado pelo presidenciável, incluindo o piloto Marcos Martins e copiloto Geraldo Magela Barbosa da Cunha. Entre as causas que serão anunciadas está a possível desorientação dos aviadores, que não tinham treinamento formal exigido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar esse modelo de aeronave.

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Alguns fatores que despertaram suspeita logo após o acidente a investigação descartou. Entre os episódios que não ocorreram estão colisão com animais; choque com um veículo aéreo não tripulado (Vant); que a aeronave estivesse de cabeça para baixo; fogo em voo; e falhas técnicas nas turbinas.

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Zero Hora conversou com especialistas em desastres aéreos e aponta algumas das constatações do inquérito – parte das quais já foram antecipadas em relatório parcial do Cenipa, em janeiro de 2015:

Falta de treinamento: nem o piloto nem o copiloto estavam acostumados àquele avião. Eles tinham habilitação para o jato Cessna C560 quando começaram a operá-lo, em maio e junho de 2014 (respectivamente), mas para modelos menos avançados que o Plus (+, tipo usado por Eduardo Campos). O modelo C560XLS+ tinha configuração de instrumentos em locais da cabine diferentes dos quais eles estavam acostumados – o que pode ter retardado reações na hora do desastre. Um exemplo de desconhecimento: o manual do fabricante recomenda não retrair os flaps em velocidade acima de 215 nós, ou 398 km/h. Flaps são equipamentos na asa que funcionam como freio aerodinâmico, no procedimento de pouso. Há indícios de que o piloto teria retraído o dispositivo ao fazer a curva após abortar o voo, o que pode ter contribuído para frear e embicar a aeronave em direção ao solo.

Desorientação espacial: o Cenipa concluiu que o avião fez trajeto diferente daquele previsto no plano de voo para a tentativa de pouso e a arremetida. Ao arremeter (subir após tentativa de pouso abortada), o Cessna fez uma curva mais curta do que a prevista. Fora isso, na sua derradeira tentativa de descida, o avião estava a um ângulo de 38º (totalmente inclinado em relação ao solo), quando o normal é inclinação de 3º a 3,5º (quase horizontal). Por quê? A hipótese é que o piloto tenha confundido céu e terra, voando direto ao solo, no que se chama CFIT (Controlled Flight Into Terrain ou Voo Controlado Direto para Terra). O aviador está no comando, mas perde orientação e bate direto no terreno. Isso é comum em casos de fadiga, como a dos pilotos a serviço de Eduardo Campos. O tenente-coronel aviador Raul de Souza, encarregado da investigação no Cenipa, confirmou recentemente que a posição de voo transmitida pelo piloto aos controladores não era a real.

Fadiga: o piloto Marcos Martins voou por Brasília, Recife e Rio na semana da sua morte, antes de colidir o avião em Santos. Em mensagem postada no Facebook, cinco dias antes do acidente, o aviador se queixou do ritmo intenso. “Cansadaço…Voar, voar e voar. E amanhã tem mais. Recife”. A fadiga é um dos maiores fatores para o CFIT (quando o piloto confunde céu e terra), avisa o piloto Georges Ferreira, especialista em segurança de voo e ex-professor de Ciências Aeronáuticas na Universidade Federal de Goiás.

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Clima ruim: chovia e a visibilidade estava baixa na região de Santos. Isso pode ter contribuído para o CFIT (confusão entre céu e terra) na hora do pouso.

Manobra pode ter causado queda

Confira imagens do acidente que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas:

* Zero Hora