Se tem uma coisa que eu gosto muito é de cuca. Para quem está só visitando Blumenau agora na Oktober, favor não confundir com a Cuca, vilã do Sítio do Pica-Pau Amarelo. A nossa só faz mal para a silhueta! Cuca é uma corruptela do alemão Katarinisch para Kuchen, a palavra alemã que significa bolo. É fácil fazer: pegue uma receita tipicamente alemã, troque as frutas de clima frio por banana e outros sabores tropicais, acrescente o dobro de açúcar e pronto. Está feito!

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O caso é que eu e todo mundo que vive em Blumenau crescemos comendo cuca. A de banana com farofa é, provavelmente, a campeã. A massa feita geralmente com fermento de pão, a banana docinha acomodada no meio de uma camada de farofa doce crocante. Se você é de fora e não provou isso ainda, por favor, largue o jornal agora e vá correndo até a padaria mais próxima!

Fiquei pensando que só uma cuca verdadeiramente alemã poderia ser mais saborosa que as catarinenses. Então me mudei para a Alemanha e comecei uma saga pouco saudável de encontrar a cuca perfeita. Comi cucas – Streuselkuchen, por aqui – de Norte a Sul, de ameixa, de creme, de queijo, de damascos, de pêssego, mirtilo, framboesa, morango. E digo: nenhuma chega nem perto das de Blumenau e região. Existem outras coisas gostosas aqui, claro: o doce de creme com sementes de papoula, o Strudel de maçã, os bolos de queijo. Agora quando se trata de cuca mesmo, me perdoem os alemães, mas superamos os mestres faz tempo.

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Nessa minha saga de reencontrar a origem dos sabores tão característicos do Vale do Itajaí me deparei com outros pratos. Como Sülze, aquela gelatina salgada com pedaços de carne da cabeça do porco. A que a minha oma fazia em casa era muito melhor. Pão com banha, aquele que quem levava para escola era motivo de bullying – bem antes dessa palavra ser levada a sério -, é, por aqui, uma iguaria vendida em quermesses.

Também comi chucrute até dizer chega e, nesse ponto, estamos empatados. Já as nossas beterrabas em conserva dão de 10 a zero na Alemanha, mas eles ganham nos pepinos por 7 a 1, no mínimo. Palmito não existe aqui e, para os alemães, é coisa de mexicano. Hackerpeter, aquela carne crua temperada servida com pão preto, é originalmente de porco. E antes que a Vigilância Sanitária me telefone, um conselho: é melhor não tentar repetir em casa aí no Brasil! Essa exploração gastronômica serviu para notar a falta de um prato: sabe a famosa torta alemã? Pois é, não existe por aqui. Nem a bolacha Maria, ingrediente básico da receita lá de casa, se acha e as similares, por assim dizer, são bem sem graça. O mais perto que cheguei do bolo alemão foi o italianíssimo Tiramisu.

No entanto, o mais engraçado foi lembrar da comida que alemães blumenauenses, pomerodenses e vizinhos consideram um ícone da sua culinária: aipim! Delícia, não? Eu amo, mas só posso comer quando volto de férias, já que alemão nenhum nunca ouviu falar da iguaria e o produto mais próximo que consigo achar é uma mandioca de qualidade duvidosa em mercados asiáticos e africanos.

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Salsichas, joelho de porco e pratos com pato não faltam. Marrecos são os primos que vão para panela em Santa Catarina, confirmando que a nossa culinária alemã é um reflexo do nosso processo imigratório. Salsicha alemã é outro termo que soa bem engraçado na Alemanha, um país onde existem mais de 1,5 mil tipos de Wurst. No fim das contas, a culinária alemã do Vale é feita de receitas adaptadas, sabores que ganharam complemento do caldeirão cultural que é o Brasil, e garanto, muito mais saborosa!

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