A investigação sobre a venda irregular de peças apreendidas a ferros-velhos seguia no anonimato. Apesar dos rumores de corredores sobre a existência de inquérito em torno de autoridades da Secretaria de Segurança Pública (SSP), ele só alcançou grande repercussão após a exoneração do delegado Cláudio Monteiro da direção da Deic.
Continua depois da publicidade
Monteiro perdeu o cargo por desvio de diárias de uma operação policial da qual não participou. Nos dias da ação, havia embarcado numa viagem pessoal a Miami (EUA). Com a confirmação das informações, o secretário César Grubba não hesitou e decidiu exonerá-lo.
Os dias seguintes foram de rebelião na Deic. Agentes e delegados revoltaram-se com o tratamento dado a Monteiro e começaram a vazar as primeiras informações do inquérito. Os delegados Renato Hendges, Rodrigo Green e Alexandre Carvalho de Oliveira chegaram a dar entrevista coletiva detalhando a investigação e as supostas provas que dizem haver.
Mesmo não declarado, está claro o racha entre delegados da Deic e a cúpula da SSP. Assim como o novo conflito entre delegados e oficiais da Polícia Militar, pois o caso respinga em alguns militares. São poucos os sinais de que a relação conturbada e a crise darão trégua enquanto o inquérito não desembarcar na Justiça.
Continua depois da publicidade
Leia a entrevista com Jorge Klöppel, gerente do complexo administrativo da SSP
De férias, o gerente do complexo administrativo da SSP em São José, Jorge Klöppel, disse ao DC que alertou o coronel Fernando de Menezes sobre os desvios
Diário Catarinense – Está de férias ou foi exonerado do cargo?
Jorge Kloppel – Segundo e-mail do diretor administrativo da Secretaria de Segurança Pública, a partir do mês que vem estarei exonerado.
DC – O coronel Fernando e o coronel Theodósio sabiam do desmonte dessas peças?
Jorge – Sim, sabiam, eu avisei.
DC – Eles estavam sabendo que aqueles motores não poderiam ser levados para o ferro-velho?
Jorge – Não é que não sabiam. Eu interpretei que não poderiam ser levados, pois o objeto do contrato (da SSP com a Gerdau) seria a trituração de todo o material ferroso.
Continua depois da publicidade
DC – Como, então, que esses motores foram levados?
Jorge – Foi contratada uma equipe para desmontar os carros, separar os motores, botar no caminhão e levar embora do complexo.
DC – Mas as autoridades sabiam que estes motores estavam sendo retirados do complexo?
Jorge – Sim, sabiam, pois eu avisei quando começaram a pôr os motores na carreta. Eu mandei e-mail ao coronel Fernando avisando que estavam separando os melhores motores e colocando dentro da carreta.
DC – E por que não impediram a saída da carreta?
Jorge – Esta é uma pergunta para a qual eu quero uma resposta e até hoje eu não sei.
DC – Qual a relação da G-Truck com a Comissão de Leilões?
Jorge – Não sei. A única coisa que sei é que o Sidney, em setembro passado, já esteve acompanhando o coronel Theodósio no complexo.
Continua depois da publicidade
DC – Essas pessoas foram escolher as peças lá no pátio?
Jorge – Sim, sim. O pessoal estava desmontando os carros e separando as peças. As fotografias mostram claramente isso aí.
Leia a entrevista com Fernando de Menezes, secretário adjunto da SSP
Por e-mail, o secretário adjunto comentou as declarações do gerente do complexo administrativo da SSP em São José, Jorge Klöppel
Diário Catarinense – O senhor tomou providências após a comunicação do gerente Jorge Klöppel?
Fernando de Menezes – De imediato. Recebi um e-mail do Klöppel dia 13 de dezembro, às 15h, e respondi, às 18h do mesmo dia, que as tratativas em relação à desmontagem e separação de peças estavam cobertas pelo edital, pelo contrato com a empresa e pelas atas assinadas pela comissão, inclusive pelo Klöppel.
Continua depois da publicidade
Informei que não estava autorizada a saída de qualquer material sem que o termo de cooperação entre o Ministério Público, o Judiciário e o Estado, por meio da SSP, fosse assinado.
Respondi, ainda, que estava convocando uma reunião para as 15h do dia seguinte, com toda a comissão do complexo, na sala de aula do complexo, onde qualquer dúvida seria dirimida. Contudo, o gerente Klöppel, alegando problemas médicos, não compareceu, procurando o Ministério Público, que o encaminhou ao gabinete do secretário. Às 18h de 14 de dezembro, na sala do secretário, foi realizada nova reunião, na qual todas as dúvidas do senhor Klöppel foram sanadas, e o assunto, pacificado.
DC – Por que não foi possível evitar a saída dos motores?
Menezes – Porque até o dia 27 de dezembro, quando o caminhão saiu do complexo, se desconhecia qualquer irregularidade ou ilicitude.
Continua depois da publicidade
DC – A Deic lança suspeitas de que o senhor teria dado o aval à saída das carretas com as peças, e que, num dado momento, supostamente tentou impedir o andamento da investigação policial. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Menezes – Houve aval para a saída de materiais regulares e lícitos. Não houve impedimento às investigações. No dia 2 de janeiro, solicitei ao secretário, por ofício, instauração de sindicância para apuração dos fatos e análise das condutas dos servidores. E informei que cópia dos expedientes e atas atinentes aos gerenciamento do complexo estavam sendo enviadas ao Ministério Público Estadual.