Derek Rabelo passou toda a infância de frente para o mar, em Guarapari, no Espírito Santo. No entanto, uma deficiência o impedia de realizar um desejo simples: surfar. O capixaba nasceu cego, por causa de um glaucoma congênito, e, apesar das tentativas de tratamento, não conseguiu reverter o quadro. Mas ele não se conformou em ficar apenas ouvindo de longe o barulho das ondas. Começou brincando na água, passou a praticar bodyboard e, aos 17 anos, finalmente ganhou uma prancha de surfe do pai.

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– Lembro da primeira vez como se fosse hoje, meu pai me levando para surfar, eu tentando ficar em pé na prancha. Fiquei super emocionado, amarradão mesmo e me apaixonei pelo surfe – conta.

Começava uma trajetória de superação – e inspiração. Dois anos mais tarde, em 2012, Derek conseguiu apoio para ir ao Havaí surfar em Pipeline, conhecido por ter as ondas mais perigosas do planeta.

Sua história ganhou o mundo, foi parar nos telejornais internacionais, apareceu no Caldeirão do Hulk e atraiu olhares dos maiores nomes do surfe, como Kelly Slater e Carlos Burle. Derek virou atleta profissional, um free surfer, tem patrocínio de grandes marcas e volta e meia está se apresentando fora do Brasil. Sua história, inclusive,virou filme.

A fama repentina às vezes assusta o tímido jovem de 21 anos; o mar não. Quem o vê fazendo o que faz pode se impressionar, mas para ele é não há nada mais natural do que estar na água.

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– A sensação é de liberdade. Surfe é minha vida, um presente que Deus me deu. Hoje vivo do surfe, trabalho com o que eu amo.

Visita à Santa Catarina

Derek veio a Florianópolis no último fim de semana para divulgar o documentário que conta a sua história e aproveitou para experimentar um pouco do que a Ilha tem a oferecer para os amantes de esportes. Acompanhado por atletas locais, experimentou sandboard nas dunas da Joaquina, skate downhill no Morro da Mole e, como não poderia faltar, surfe na Praia Mole. O Diário Catarinense o acompanhou em uma tarde cheia de adrenalina e muito aprendizado.

À primeira vista, é difícil identificar que Derek tenha algum tipo de deficiência. Ganhando proximidade e conversando com ele, torna-se praticamente impossível. Quando descreve suas passagens pela Califórnia, Havaí, o dia a dia no Espírito Santo e até mesmo as duas experiências anteriores na capital catarinense, não dá para dizer que ele não viu.

– Aqui é um paraíso, um lugar maravilhoso, com altas ondas e voltado para o esporte. Me sinto bem à vontade – fala Derek sobre Floripa.

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E ele não tem medo de se arriscar. Quando descia o morro de skate, sofreu uma queda que por pouco não teve consequências mais graves. Derek queria repetir. Convidado para o sandboard, nem hesitou. Alguém o chamou para mergulhar de uma ponte, topou prontamente. Ele encara tudo. Quer experimentar na pele o que quem enxerga tem medo só de olhar.