Funcionário do Banco do Brasil desde os 17 anos e hoje ocupando uma das vice-presidências da estatal, o paulista Paulo Ricci não mede as palavras quando fala da incorporação do Besc: o negócio alçou sua carreira. Em 2008, Ricci trocou a superintendência do banco em Tocantins pela de Santa Catarina, quando as conversas já estavam em andamento. A experiência no processo de incorporar um banco estadual ao BB depois o levou a participar da compra da Nossa Caixa, em São Paulo e, desde 201X, à vice-presidência de Varejo, em Brasília – de onde conversou com a reportagem por telefone.

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Diário Catarinense O senhor assumiu a superintendência do BB em setembro de 2007. A negociação para incorporar o Besc já tinha começado ou ainda era uma intenção?

Paulo Ricci Era uma intenção. Eu cheguei em setembro e em outubro nós recebemos o presidente do BB e o presidente Lula para anunciar em um evento o processo de incorporação do Besc pelo BB.

DC O senhor veio com a missão de tocar a operação?

Ricci Isso. Tinha um pessoal em Brasília com a missão de tocar o processo de incorporação propriamente dito e eu tinha a responsabilidade de incorporar as culturas. Fazer o período de transição entre aquilo que era Banco do Brasil em articulação com o pessoal que estava conduzindo a rede Besc.

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DC O senhor ficou com as questões que mais preocupavam o Estado: manutenção das agências, da marca, dos funcionários…

Ricci Exatamente. Eu tinha um compromisso de demonstrar para todos os funcionários do BB, mas principalmente do Besc, o negócio que era comum dentro do banco. Atestar que o processo de incorporação ia ser o mais tranquilo, o menos traumático e que as pessoas não deveriam ficar preocupadas se teria emprego ou onde iria trabalhar. Garantimos que o BB não ia fechar nenhuma agência, não ia demitir pessoas e ia estar presente em todos os municípios.

DC E a ampla maioria dos funcionários optaram pela carreira do BB.

Ricci Acabou aderindo de uma forma natural e muitos que eu via no Besc e hoje são executivos do BB em Brasília.

DC Como foi o processo de incorporação na prática?

Ricci A gente queria fazer o processo de uma forma muito tranquila, para que ninguém na população e nem os funcionários fossem prejudicados. A gente cuidou para manter o atendimento em todos os pontos, para interligar todos os sistemas para que a virada, o sábado em que nós viramos todas as agências do Besc para o BB, para que os clientes não pudessem perceber nenhuma mudança a não ser que mudou do sistema do banco A para o sistema do banco B. Uma coisa que eu lembro que foi marcante e depois acabamos usando na Nossa Caixa, em São Paulo, é que nós fizemos as equipes do BB junto com as do Besc virarem uma grande família. Nós criamos as agências madrinhas. Cada agência do Besc, cada ponto de atendimento, tinha uma agência madrinha que o gerente era responsável pela integração. E fizemos uma troca de funcionários. Pessoal do Besc foi trabalhar em agências do BB e do BB foram trabalhar em agências do Besc. Para que sempre tivessem pessoas que conhecessem o sistema do banco. Isso a gente acabou adotando nas outras incorporações.

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DC O senhor ficou até quando em Santa Catarina?

Ricci Até abril de 2009. Foi exatamente no mês que nós mudamos o sistema. Em um único final de semana, 100% das agências e dos clientes Besc, numa sexta-feira dormiram dentro do sistema Besc e no sábado amanheceram vendo seu saldo no sistema BB. Com os terminais funcionando, dinheiro na conta, cartão funcionando de forma completa. Mobilizamos todo mundo no final da semana para trabalhar. Na hora que você me ligou, caiu a ficha. Parece que foi ontem.

DC Foi um processo bem gradual, para a virada da chave ter acontecido só em abril.

Ricci Sim. O processo foi andando. Começou em 2007. Em novembro de 2008 houve a incorporação. Naquele momento acaba, entre aspas, o CNPJ do Besc. Aí nós fizemos a transição, já com o banco incorporado, de novembro até abril. Porque era importante para o cliente que a partir da mudança no sistema ele tivesse acesso a todos os outros produtos, serviços e linhas de crédito que o BB tinha um pouco além do que o Besc tinha.

DC O que isso representou na sua carreira?

Ricci Se perguntar qual foi o passo decisivo que eu dei na minha carreira e que me colocou como vice-presidente do BB, foi o dia em que eu recebi o convite para entrar nesse processo de incorporação. Isso me permitiu ser o único superintendente do banco que tinha essa experiência. Logo em seguida, o banco anuncia a incorporação do Nossa Caixa, em São Paulo, um banco de governo. E eu tive a oportunidade, pela experiência e pela forma como a gente conduziu todo esse processo, o banco me convidou para fazer parte de uma diretoria de transição da Nossa Caixa. Provavelmente se eu não tivesse ido ao Besc, não teria ido à Nossa Caixa, não teria tido a experiência de ser o diretor em São Paulo e hoje não estaria credenciado a ser o vice-presidente que cuida da rede do BB. E com a alegria de ter feito isso dentro de tudo que a gente pregou. Sem demissão, sem fechamento de agência, diferente de muitas incorporações que a gente vê no mercado.

DC Ainda existem algumas queixas dos funcionários incorporados. Não conseguir migrar suas previdências para a Previ é uma delas.

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Ricci O banco assumiu compromisso de que ninguém teria nenhum prejuízo quanto ao que tinha. Tanto que uma quantidade significativa de funcionários na época tiveram reajustes de salário. Muita gente o salário aumentou mais de 50%. Porque a política de salários do BB era diferente da do Besc. Mas tem duas coisas que ainda estão sendo desenhadas, até para não prejudicar também. Tinha aí um plano de previdência que tem o seu padrão, e o BB vem assumindo do jeito que estava, e um plano de saúde que o banco também vem assumindo do jeito que estava. Fazer a migração para outro não é simples, porque são modelos e políticas diferentes. Esses são os estudos que o banco está conversando muito. Mas o importante é que ninguém está tendo prejuízo sobre aquilo que tinha. Já, já ajusta para o melhor caminho. Isso está sempre em discussão.

DC Para o BB, a manutenção das agências pioneiras, além de uma obrigação contratual, também é um bom negócio?

Ricci Foi excelente. Foi de novo nesta experiência que o banco entendeu algumas outras coisas. Santa Catarina passou a ser por um bom tempo o único Estado em que o BB estava presente em todos os municípios, por conta até do Besc. Essas agências pioneiras, além do banco estar sozinho lá e fazendo seu papel, levando o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e um monte de linhas que até então não se tinha. O Besc operava com o Pronaf, mas de uma forma mais tímida. O foco dele era mais servidor e pessoal jurídica. Essas agências quando foram trazidas para o BB, abriram oportunidade de todo produtor ter acesso ao crédito. Logo em seguida, o banco começa a fazer um desafio de estar presente em 100% dos municípios brasileiros com agência. Em 2011 o banco assume esse compromisso, porque viu que era extremamente válido. Isso que aconteceu em SC foi decisivo para outro grande processo que o BB fez que foi entrar na disputa pelo Banco Postal. Em 2011 ganhamos a licitação e a partir de 2012 e o BB passa a estar em quase 99% dos municípios. Então, a agência pioneira foi extremamente importante. Abriu a oportunidade do banco repensar isso em outros estados e hoje é compromisso do BB de que até 2015 a gente vai estar em todos os municípios do país.