Do dia em que decidiu matricular-se em uma faculdade de medicina na Europa até o dia que decidiu voltar para o Brasil, passaram-se 18 anos. Nem ele imaginava que seria tanto. Hoje, aos 36, o médico Julio Lima ainda lembra dos planos que tinha quando desistiu das faculdades brasileiras e embarcou para a Espanha: queria terminar o curso e voltar para trabalhar no Brasil. Mas nada disso aconteceu.

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Depois da formatura, as oportunidades foram acontecendo e ele foi ficando. Encontrou bons empregos, especializou-se em medicina do trabalho e começou a namorar aquela que viria a se tornar sua mulher.

Mas o lançamento do programa Mais Médicos serviu como uma oportunidade de voltar às origens. Em 16 de setembro, depois do curso de aperfeiçoamento para médicos estrangeiros, começa a atender em Mafra, sua cidade natal. Por telefone, Julio conversou com o DC.

Diário Catarinense – O que fez você se inscrever no programa?

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Julio Lima – Sempre sonhei em, um dia, trabalhar na cidade onde nasci. Era um projeto de vida prestar esse serviço para Mafra. Mas, até então, isso não passava de um desejo distante. A oportunidade temporária de emprego, de três anos, me chamou a atenção. Vejo como uma espécie de prazo para me readaptar ao país. Se der tudo certo, fico por aqui.

DC – O que espera encontrar aqui?

Lima – É um sistema completamente diferente do que estou acostumado. Há muito mais limitações. Sei também da resistência dos médicos brasileiros com a nossa presença e só o que posso pedir é paciência. Eu não trouxe na mala só a vontade de voltar ao Brasil. Trouxe também toda a minha experiência como médico e quero usar isso aqui.

DC – Qual a diferença da medicina européia para a brasileira?

Lima – O acesso à atenção básica lá é bem mais fácil. Cada médico tem seu cadastro fixo de pacientes, o que garante o acompanhamento constante. Não é como aqui, que as pessoas são atendidas pelo médico que está no posto. O acesso a exames também é mais fácil e o paciente não é obrigado a passar por um especialista para requisitá-lo. Qualquer clínico geral pode fazer isso.

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DC – Há como aproveitar essa experiência européia no Brasil?

Lima – A base do sistema, o SUS, é preciso respeitar. Mas os médicos sempre têm certa autonomia nos postos. Pretendo usar parte desse modelo de gestão européia aqui, mesmo o sistema sendo mais limitado. Mas primeiro preciso conhecer bem a realidade de Mafra para, só depois, tentar implantar algumas melhorias na saúde da cidade.

Confira pontos contrários e favoráveis ao Mais Médicos apontados por articulistas no DC