Para a ex-mulher do homem que manteve dez pessoas reféns no domingo de Páscoa e se entregou somente dez horas depois do início do cárcere privado, Kerlli Sabadini, a ação não chegou a ser uma surpresa.
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– Era uma tragédia anunciada – disse Kerlli, 33 anos, que concedeu entrevista na mesa casa onde seus familiares, incluindo seu filho, de 12 anos, ficaram sob ameaça do ex-marido, Leandro Adílio Pimmel.
Demonstrando muito equilíbrio, apesar de tudo que passou, ela lembrou que chegou a fazer cerca de 15 boletins de ocorrência e os representou, todos de ameaça do ex-companheiro. Ela reclamou que ele nunca foi chamado para depor, o que poderia inibir sua ação.
Kerlli chegou a mudar-se para Presidente Prudente-SP, para afastar-se do marido e poder ter o sonho de cursar Medicina. Mas depois que conseguiu a separação oficial, há um ano e três meses, nunca mais teve sossego.
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Agora, seu maior temor é que ele passe apenas alguns dias preso e volte a ameaçar sua vida. Confira a seguir a entrevista que Kerlli concedeu ao Diário Catarinense e RBS TV.
Diário Catarinense – Há quanto tempo que você vinha sendo ameaçada?
Kerlli Sabadini – Há uns dois anos, quando eu decidi me separar. Mas aumentaram a partir de janeiro do ano passado, quando a separação foi judicial. Fiz uns 15 boletins (de ocorrência). Mas ninguém chamou ele. Sei que não havia crime que justificasse, pois ele nunca me agrediu. As ameaças sempre foram verbais. Fui até na promotoria. Consegui uma medida protetiva em que ele não poderia ficar a menos de 200 metros de mim. Mas ele violava isso sempre quando eu estava sozinha. No Carnaval, ele conseguiu entrar na garagem da casa onde eu estava hospedada e disse que queria conversar. Mas o conversar dele era eu voltar com o namoro. Aí chegou minha tia e ele saiu. Acho que se alguém tivesse chamado, talvez ele ficasse inibido. Era uma tragédia anunciada.
DC – Vocês ficaram 12 anos casados, ele demonstrava algum desequilíbrio?
Kerlli – Ele não tinha muitos amigos, era nervoso e não gostava de ser contrariado. Mas era muito inteligente. Não éramos um casal de andar de mãos dadas. Mas crescemos financeiramente. Sempre fui muito submissa. A partir do determinado momento confrontei ele e pensei em separar. Ele nunca aceitou isso. Meu sonho era fazer Medicina. Fui fazer cursinho em São Paulo já pensando em conseguir minha independência. Ele nunca aceitou.
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Depois que separamos ele chegou a fazer 800 quilômetros e foi morar um semestre em Presidente Prudente, na mesma pensão que eu tinha morado no início. Até pagou mais para ficar no mesmo quarto. Outra vez, vi ele na porta da faculdade onde estudo, vestido de preto.
DC – Você vivia com medo?
Kerlli – Eu até andava com spray de pimenta na bolsa e agora comprei uma arma de choque. Sempre tive que me cuidar. Até troquei o carro com minha tia. Por isso ele invadiu a casa pensando que eu estava lá.
DC – Mas você iria na festa, o que lhe atrasou?
Kerlli – Cheguei no sábado de São Paulo e estava na casa de parentes. Demorei para fazer a salada de maionese, pois não estava acertando o ponto. Foi Deus que me segurou. Ele chegou para matar. Não teria comprado arma só para assustar.
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DC – Como você foi avisada do sequestro?
Kerlli – Alguém conseguiu fugir e já me ligou. Minha tia me segurou senão eu tinha entrado na casa. Pensei que era melhor uma pessoa morrer do que toda a minha família, incluído meu filho.
DC – Quantas vezes você conversou com ele por telefone e o que ele disse?
Kerlli – Conversamos o tempo todo. Mas não consegui saber direito o que ele queria. Primeiro disse que iria matar todo mundo. Depois queria que eu fosse lá. Aí pediu para pedir desculpa para a mãe dele pois ira se matar. Ele entra dentro da tua mente, faz uma confusão e faz você se sentir culpada. Ele dizia que iria matar todos e que a culpa era minha. Disse que era para eu agradecer por não ter me enviado uma bomba pelo correio, pois agora já sabe até fazer bomba. Eu brinquei que ele era o Bin Laden e ele riu. Ele assistia muito filme e dentro da casa disseram que ele fazia umas poses. Ele estudou muito antes de fazer isso.
DC – E com o filho, como foi?
Kerlli – Meu filho agiu friamente. Ele não acreditava que o pai fosse matar alguém. Consegui falar com ele pelo telefone e disse que estava bem. Em outras vezes o pai já tinha ameaçado suicídio e até mandava mensagens para o filho. Meu ex-marido tentou a guarda dele mas não conseguiu e jogou a culpa no advogado. Ele não gosta de ser contrariado. Ele teve permissão apenas de visitas assistidas. Mas recentemente nem o filho queria vê-lo. Ele reclamou disso.
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DC – Qual é o seu sentimento agora, depois de tudo?
Kerlli – Eu ainda estou com medo pois ele vai sair de lá. Ele saiu prometendo que, quando saísse da cadeia, iria fazer muito pior. Ele continuou ameaçando de morte a mim e meus familiares. E aumentou ainda mais a lista dele.
DC – O que você espera?
Kerlli – Espero que seja feito algo para manter ele afastado da minha família. Que ele fique preso e que alguém o ajude, com um tratamento psicológico. De repente ele é uma pessoa que tem conserto, só precisa de ajuda.