A mortandade que vem tomando conta do Egito é acompanhada de episódios que remetem ao puro barbarismo, relata a rede de TV britânica BBC. Nas manifestações da Praça Tahrir, mulheres que se arriscam a aparecer em público têm sido violentadas. Ao todo, entre o começo da nova onda de protestos (28 de junho) e o último dia 3 (deposição de Mohamed Mursi), foram registrados 180 casos de ataques sexuais, índice que, segundo a Anistia Internacional, já ultrapassa, hoje, o de 200 casos.

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Em entrevista à BBC, Diana Eltahawy, investigadora da Anistia Internacional no Cairo, pinta um quadro ainda mais grave ao considerar os episódios que não vêm à tona:

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– São mais de 200 agora, sem incluir os que não são registrados.

Ao ressalvar que casos corriqueiros de abusos sexual não são novidade no Egito, Diana se diz impressionada com “o nível de violência”. Autora do documentário Mulheres na Praça Tahrir, Hanan Razek explica, porém, que tais ataques sexuais são, sim, fenômenos novos. Diz que, na queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, não havia esses incidentes. Vídeos mostram como eles ocorrem: dezenas de homens fazem um círculo em volta de mulheres nas manifestações e as levam em meio à multidão, tocando-as e as atacando.

Hania Moheeb relatou, em vídeo da ONG Human Rights Watch:

– Fizeram um círculo ao meu redor. Começaram a tocar cada parte de meu corpo, a violar cada parte de meu corpo. Estava tão traumatizada que só conseguia gritar.

Yasmine El-Baramawy, outra vítima, conta, no mesmo vídeo:

– Se aproveitaram que eu estava no chão, me pegaram, me viraram, colocaram minhas pernas para cima e me estupraram como quiseram.

De acordo com a Anistia Internacional, o difícil para definir autorias é não saber, em meio ao caos, quem tenta salvar a vítima e quem a ataca.

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Um jovem, para tentar justificar o barbarismo, dá a seguinte explicação:

– Se está aqui e vê uma menina vestida de forma indecente, o que vai fazer? Não se pode evitar.

Uma das explicações para as violentações é a de que a Irmandade Muçulmana as promove para evitar que mulheres participem dos protestos. A Irmandade nega.

Como reação, surgiu o grupo Operação contra Ataques Sexuais, formado por homens que denunciam casos de agressão e protegem as manifestantes com cordões humanos, além de fazer alertas em redes sociais.