O presidente interino do Egito, Adly Mansour, decretou nesta segunda-feira à noite a realização de eleições legislativas antes de 2014, depois das quais será anunciada uma data para a presidencial, informou a imprensa estatal.
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O país terá cinco meses para modificar a constituição suspensa, ratificá-la em um referendo e, depois, realizar eleições parlamentares, segundo o texto do decreto divulgado no site do jornal Al-Ahram.
A declaração constitucional prevê, segundo o jornal, a nomeação em um prazo de no máximo 15 dias de um comitê constitucional que terá dois meses para apresentar suas emendas ao presidente interino.
Este deverá, em seguida, submetê-lo a um referendo popular em um prazo de mês. A partir de então, legislativas serão organizadas dentro de dois meses. Em seguida, uma data será anunciada para a realização de uma eleição presidencial.
– A formulação da declaração leva a crer que todo o processo eleitoral transcorrerá nos prazos anunciados – declarou à AFP o constitucionalista Zaid al-Ali.
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Apesar disso, ressaltou, a declaração composta por 33 artigos é bastante “vaga” para permitir que Mansour interprete a realização de eleições como o lançamento da apresentação dos candidatos, o qual prolongaria o processo.
Na noite de quarta-feira, o Exército nomeou Mansour, presidente da Alta Corte Constitucional, como presidente interino, e destituiu Mursi, contestado em grandes manifestações.
A Constituição foi suspensa e a câmara alta, que realizava o trabalho legislativo e era dominado pelos islamitas, foi dissolvida.
Morte de 51 seguidores de Mursi gera comoção no Cairo
A emoção era grande nas proximidades do prédio da Guarda Republicana, no Cairo, nesta segunda-feira, quando mais de 50 pessoas foram mortas atingidas por tiros contra seguidores do ex-presidente Mohamed Mursi, no que testemunhas descrevem como massacre.
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Num hospital do bairro, dezenas de pessoas olhavam atentamente as listas de vítimas à procura de um membro da família ou de conhecido, numa mistura de caos e lágrimas.
– Esta é a camisa do meu amigo que foi morto – mostra Ahmed Mansur, balançando a peça de roupa coberta de sangue.
– Eu vi 30 corpos, nenhum de criança”, diz a médica Layla al-Dessouki, na tentativa de acalmar as famílias preocupadas. Um fotógrafo da AFP diz ter visto cerca de 20 corpos ensanguentados, todos eles enfileirados no chão de um necrotério.
Segundo os serviços de urgência médica, 51 pessoas morreram e 435 ficaram feridas por tiros disparados na manhã desta segunda-feira em frente à sede da Guarda Republicana, onde quatro simpatizantes de Mursi foram mortos na última sexta-feira.
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No bairro, o forte cheiro de gás lacrimogêneo, os vidros para-brisas estilhaçados e árvores queimadas são o retrato dos momentos de violência vividos na grande avenida Salah Salem, em frente ao edifício militar.
A Guarda Republicana, encarregada de proteger a Presidência, é alvo de revoltas por parte dos islamitas que a acusam de ter “traído” Mohamed Mursi, deposto na última quarta-feira pelo Exército.
Nas paredes de um prédio do Ministério da Defesa, vizinho à Guarda Republicana, pichações acusam o Exército e seu chefe, general Abdel Fattah al-Sissi. “Aqui será em breve a sede da República Islâmica”, prevê uma das inscrições.
– Nós estávamos fazendo uma prece bem cedo quando soldados da Guarda Republicana abriram fogo contra nós. Depois instaurou-se um caos, e as pessoas caíam em poças de sangue – conta a manifestante Shaima Younes.
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Anas Aymas, manifestante da região de Gharbeya, no Delta do Nilo, acusa a presença de policiais à paisana em meio às manifestações.
– Eles entraram pela direita e começaram a atirar enquanto fazíamos as preces. Depois, se esconderam atrás de um carro da Polícia. Nós chamamos o exército para nos proteger, mas eles também nos atacaram – afirma a mulher.
Outras testemunhas relatam ainda que os soldados atiraram para o alto para dispersar os manifestantes, e que foram homens vestidos como civis que abriram fogo contra a multidão.
– Os homens vieram e atiraram contra a gente, enquanto o Exército disparava bombas de gás lacrimogêneo – conta Hussein, outra testemunha.
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Morador do bairro, Baddredine Adel conta que “os simpatizantes da Irmandade Muçulmana jogaram coquetéis Molotov contra o Exército”, causando um princípio de incêndio num prédio vizinho.
– A polícia atirou contra a gente – afirma Ayman Sayyed, cujo rosto estava coberto de sangue, mas não apresentava ferimentos. Alguns pacientes saíam do hospital cobertos de bandagens, mas com poucos vestígios de sangue aparentes.
Já o Exército explicou por meio de comunicado de imprensa que “terroristas armados” atacaram a sede da Guarda Republicana. A nota foi publicada no jornal al-Ahram, do governo.
-Nós não vamos permitir ameaças à segurança nacional egípcia, quaisquer que sejam as circunstâncias”, declarou o porta-voz do exército, coronel Ahmed Ali.
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O coronel Ali afirmou que “um grupo armado atacou” soldados por volta das 4h da manhã (23h de Brasília). De acordo com ele, o Exército teria então respondido “dando tiros para o alto e disparando bombas de gás lacrimogêneo” e “só interveio após ter sido atacado pelo outro lado”.
O porta-voz disse ainda que um oficial do Exército foi morto durante os confrontos, e que 42 soldados ficaram feridos.