O governo do Estado admitiu, na sexta-feira, a terceira onda de atentados em Santa Catarina. Na segunda, até a Força Nacional foi chamada para ajudar. A situação parecia controlada. Até o PGC voltar a agir.

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Em Joinville, um ônibus foi queimado na avenida Santos Dumont, no bairro Bom Retiro, zona Norte, na noite de quinta-feira, levando autoridades de segurança a intensificarem barreiras e escoltas que já haviam sido iniciadas um dia antes. Outros ataques já haviam sido registrados durante a semana em São José, Criciúma, Itajaí, Gaspar e Penha.

A nova onda de atentados também trouxe uma reflexão sobre o que o Estado deixou de fazer para se prevenir de ações criminosas e o que pode ser feito daqui para frente. Para o juiz da Vara de Execução Penal de Joinville, João Marcos Buch, o fortalecimento do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) é resultado da omissão do Estado em não rever a política de gerenciamento do sistema prisional. Buch defende que ações de valorização do agente penitenciário e de humanização do sistema penal sejam implantadas em todo o sistema catarinense.

O sistema prisional, aponta, precisa ser entendido como uma massa única, e a crise em uma unidade prisional, como na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, pode refletir na articulação de ataques em outras regiões do Estado, como em Joinville.

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– Precisamos trabalhar com uma política de Estado em segurança pública e, de uma vez por todas, implantar uma política de valorização aos agentes penitenciários. A Lei de Execução Penal não está sendo respeitada.

O presidente do Conselho Carcerário de Joinville, Nasser Haidar Barbosa, diz que a grande queixa é a saúde.

– As torturas que foram denunciadas eram parte de um problema maior de tratamento cotidiano que historicamente vem sendo empregado aos familiares e presos. A grande queixa é a saúde (faltam medicamentos, por exemplo), e até agora nada foi resolvido.

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O sistema de revista íntima também tem sido uma das reclamações frequentes desde novembro do ano passado, destaca Nasser. A portaria publicada pelo juiz corregedor de Joinville não impede que o problema se perpetue nas demais unidades prisionais de SC. Os reflexos, portanto, podem respingar em todo o Estado.

Para ele, o governo do Estado precisa negociar com a população carcerária.

– É preciso rever o processo de revista íntima, pois existem outras formas de impedir a entrada de produtos ilícitos. Por falta de diálogo, a truculência aumenta.

O conselho admite que novas formas de revista podem se tornar um problema para o Presídio Regional de Joinville, pois faltam agentes prisionais nos plantões.

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Já para o delegado regional da Polícia Civil, Dirceu Silveira Júnior, todas as medidas necessárias foram tomadas. Das cem pessoas presas por envolvimento em atos criminosos, 74% foram resultante de investigação.

– As pessoas foram identificadas e responsabilizadas com medidas criminais e administrativas -, avaliou o delegado.

Para prevenir novos ataques, Dirceu comenta que é preciso dar sequência às apurações dos atos criminosos praticados. Ele pondera, ainda, que entre os novos casos pode haver situações de vandalismo.

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Alerta havia sido dado há uma semana

João Marcos Buch revelou, na sexta-feira, que a possibilidade de novos ataques na cidade já era considerada por serviços de inteligência há cerca de duas semanas, e autoridades públicas já haviam sido alertadas.

– Tínhamos conhecimento da possibilidade de que ataques voltassem a se repetir em Joinville. Oficiei as autoridades públicas a esse respeito, com dados concretos, de inteligência, há cerca de dez a 14 dias. Ninguém é uma ilha. Por mais que aqui em Joinville tentemos acalmar os ânimos, o sistema é unificado e o crime organizado está disseminado em várias cidades. Tudo indica que este novo ataque decorre, sim, de uma orientação do crime organizado e tem origem em São Pedro de Alcântara.

O QUE O ESTADO DEIXOU DE FAZER…

– Rever a política de gerenciamento do sistema prisional, com ações de valorização do agente penitenciário, e humanização do sistema penal.

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– Falta estrutura para o atendimento de saúde aos presos. Há reclamação de que faltam medicamentos, por exemplo.

– Rever a revista íntima (em Joinville, portaria acabou com esse tipo de procedimento).

– Falta de condições de trabalho dos agentes, que vivem em situação de insegurança.

…E O QUE PODE FAZER PARA PREVENIR

– Ampliar os atuais presídios e construir novos.

– Trabalhar com uma política de Estado em segurança pública e implantar uma política de valorização aos agentes penitenciários.

– O governo do Estado precisa negociar com a população carcerária para estabelecer cronograma de alguns atendimentos.

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– Dar sequência às apurações de todos os atos criminosos praticados independentemente de quem os tenha praticado e da origem.

– Manter as barreiras móveis nas ruas para surpreender a criminalidade.

– Viaturas do serviço tático e de inteligência nas ruas.

– Escolta a ônibus.