Santa Catarina terminou o primeiro semestre de 2017 com os principais indicadores econômicos no azul. Embora o resultado seja favorável, não há espaço para otimismo: a turbulência política em Brasília traz incerteza para o resto do ano. Para debater as expectativas do segundo semestre, o DC fez três perguntas a cinco especialistas entre representantes de setores econômicos e professores acadêmicos.
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Economia em SC começa o segundo semestre de 2017 com bons resultados, mas futuro incerto
BRUNO BREITHAUPT
Presidente da Fecomércio-SC
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SC está saindo da recessão? E o Brasil?
A diversidade econômica de Santa Catarina fez com que nosso Estado fosse o último a entrar em recessão e o primeiro a sair. Os números mais recentes de volume de vendas, divulgados pelo IBGE, apontam que o Estado registrou a maior alta do país (24,5%) em abril na comparação com 2016, enquanto no varejo brasileiro o comportamento foi tímido (1,9%). Duas particularidades catarinenses influenciam no poder de compra: o menor índice de desemprego do país e a renda média mais alta. A geração de vagas e os investimentos ainda precisam avançar, mas dependem bastante da confiança do empresário, que está diretamente ligada ao cenário político.
Que fatores ainda emperram a economia?
O panorama de incertezas e profunda crise política e institucional não permitem ao Brasil planejar a retomada dos investimentos e dos postos de trabalho. A aprovação das reformas estruturantes se torna ainda mais urgente neste momento. Com a modernização das leis trabalhistas, o Brasil se encaminha para uma nova dinâmica. A trajetória mais equilibrada do endividamento público também deve pesar nesta equação.
O que é possível esperar para o segundo semestre no Estado e no Brasil?
Apesar do fechamento de vagas em maio, mantemos a liderança com a menor taxa de desocupação no país. As condições de empregabilidade devem começar a melhorar em 2018, visto que Santa Catarina é um gerador de emprego por excelência. Nossa diversificação permite maior mobilidade do emprego entre os diferentes setores e regiões.
O comércio catarinense também começa a respirar mais aliviado. Registramos o 6º resultado positivo consecutivo, desempenho que não se via desde setembro de 2015. A consistência destes dados reforça que estamos no caminho da recuperação econômica.A sucessiva queda da inflação e a retomada, ainda que reduzida, do tripé crédito, renda e emprego, deve provocar melhora no ambiente de negócios.
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GLAUCO JOSÉ CÔRTE
Presidente da Fiesc
SC está saindo da recessão? E o Brasil?
No conjunto dos Estados brasileiros, SC é um dos que têm tido melhor desempenho. O dado mais recente da atividade econômica do Banco Central dá para SC um crescimento de 2,4 % contra 0,4% do Brasil, então nós temos um desempenho melhor. Todos os nossos dados, quando comparados com o ano passado, neste ano estão melhores: crescemos no emprego, na produção industrial, e nas exportações foi o melhor mês de junho desde 2011. Santa Catarina está enfrentando a crise com bons resultados. É claro que essa crise política mais recente tende a travar o crescimento.
Que fatores ainda emperram a economia?
Nós temos duas questões. Uma, sem dúvida, é a política envolvendo agora o presidente da República, que cria um ambiente de incerteza. Temos sinais de que alguns movimentos para investimento em SC e no Brasil estão parados aguardando evolução da questão política. A outra são as reformas. Tivemos avanços com a terceirização e o corte de gasto, e tudo indica que a trabalhista será aprovada.
O que é possível esperar para o segundo semestre no Estado e no Brasil?
Depende do que vai acontecer na área política, se de fato o país superar de uma ou de outra forma a questão política para reduzir o grau de incerteza que tem hoje. Temos incerteza inclusive quanto ao presente: não sabemos o que vai acontecer até o final do dia. Se essas questões ficarem mais claras , o segundo semestre tende a ser um período melhor que o primeiro semestre.
JOSÉ ÁLVARO CARDOSO
Supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina
SC está saindo da recessão? E o Brasil?
Infelizmente, não. As políticas nacionais determinam as políticas estaduais, em sua maior parte. Economias como a de Santa Catarina (que representa modestos 4% do PIB nacional e 3% da população brasileira) estão sendo fortemente impactadas pelas políticas do governo federal.Tais políticas prejudicam os entes federados e o conjunto da classe trabalhadora. Por exemplo, o nível de atividade econômica. Até o primeiro trimestre de 2017, o país sofreu oito quedas trimestrais seguidas no PIB, a maior sequência da história. Santa Catarina segue na mesma toada: entre 2012 e 2016 a economia catarinense encolheu 1,7% enquanto a brasileira 2%, ou seja, desempenhos desgraçadamente muito semelhantes.
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Que fatores ainda emperram a economia?
Temos uma crise econômica inédita no Brasil. O IBGE nunca havia registrado oito trimestres seguidos de recessão. E as políticas do golpe são as que emperram a economia. Por exemplo, a emenda que congela gastos públicos por 20 anos para pagar a dívida. A medida afetará os repasses federais para os Estados e municípios, limitando a capacidade de investimentos e políticas sociais.
O que é possível esperar para o segundo semestre no Estado e no Brasil?
A previsão para este ano é de crescimento quase zero. Não haverá redução do desemprego de forma sustentada. Pode haver redução na margem, em função da sazonalidade da economia (segundo semestre costuma melhorar um pouquinho). A retomada do crescimento pressupõe a luta contra o golpe e suas políticas devastadoras. O baixo crescimento causado pela crise e pela falta de perspectivas de retomada elevou a taxa de desocupação de 3,9% em março de 2015 para 6,2% em dezembro de 2016, em Santa Catarina.
LAURO MATTEI
Professor da Economia e da Administração da UFSC e coordenador do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense
SC está saindo da recessão? E o Brasil?
A recessão brasileira está se aprofundando e indo em direção a um quadro deflacionário que poderá ser mais maléfico. O IPCA de junho mostra que a economia do país – e por tabela as dos Estados – entrou em deflação, o que não ocorria desde 2006. A deflação é pior que a inflação porque, embora os preços caiam, indica, no caso atual, uma redução expressiva do consumo. Cria-se um cenário muito pessimista uma vez que, acreditando que os preços possam cair ainda mais, parte das pessoas adia ou reduz o consumo ainda mais.
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Que fatores ainda emperram a economia?
A economia está muito contaminada pela política. Um indicador essencial a ser observado nesse cenário é a taxa de investimentos. Os investimentos privados passaram de 18% do PIB em 2014 para 13,5% em 2016. Com isso, o investimento global caiu de 21% para 15% do PIB nos últimos dois anos. As consequências foram ampliação da ociosidade e o aumento do desemprego.
O que é possível esperar para o segundo semestre no Estado e no Brasil?
Por um lado, a crise política tenderá a prevalecer por um tempo ainda imprevisível e, por outro, os instrumentos econômicos essenciais para recuperação – elevação dos investimentos e expansão do consumo – devem se manter prejudicados. Isso revela que a visão conservadora de combater a inflação a qualquer custo nem sempre é o melhor remédio. Como é essa a visão que prevalece no comando da política macroeconômica do país, não se pode esperar muito mais do mesmo.
MARIANNE STAMPE
Professora de Ciências Econômicas da Udesc e coordenadora do Observatório Econômico da Esag
SC está saindo da recessão? E o Brasil?
No Brasil, o resultado do PIB para os primeiros três meses do ano indicou crescimento de 1,05% em comparação com o trimestre anterior. No entanto, considerando o acumulado em quatro trimestres, a taxa é negativa, com queda de 2,06%. Ou seja, o resultado foi melhor, mas ainda estamos em um processo de recuperação. Por outro lado, tivemos uma surpresa inflacionária positiva, com inflação acumulada em 12 meses até maio de 2017 em 3,6%, o menor valor em 10 anos. Santa Catarina, em geral, vinha se recuperando de maneira mais rapidamente que o Brasil até a delação da JBS, mas o país tem diminuído essa diferença. Em virtude da crise política, os resultados positivos podem demorar.
Que fatores ainda emperram a economia?
Necessidade de aprovação de reformas, principalmente a previdenciária . Lembrando que se existir uma necessidade de o governo ceder a pressões de grupos de interesse e voltar a praticar as políticas da Nova Matriz Econômica, corremos o risco de a equipe econômica atual, que vem obtendo resultados positivos como a queda da inflação e a queda da taxa de juros, não permanecer.
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O que é possível esperar para o segundo semestre no Estado e no Brasil?
Difícil prever algo diante de tanta incerteza política. Qualquer pessoa que for prever algo nesse momento teria que ter uma bola de cristal.
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