Há um ano, os empresários viviam em lua-de-mel com o presidente Michel Temer (PMDB). Os índices de confiança subiam estimulados pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) e pela possibilidade das reformas trabalhista e da Previdência. Em julho de 2016, o clima era de “agora vai” no setor econômico e financeiro do país. Apesar do bom humor do mercado, os escândalos políticos não pararam. Os áudios de Joesley Batista, da JBS, revelaram uma conduta pouco republicana da Presidência, houve prisões de ex-ministros e uma denúncia formal de corrupção chegou pela primeira vez ao Planalto. Os fatos não deixam dúvida que o caminho para a recuperação será tortuoso, mais do que se imaginava. Nada de novo no país do imprevisível.
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A economia chegou, sim, a melhorar, ainda que os sinais sejam incipientes. No primeiro trimestre deste ano, o PIB cresceu 1% – graças ao agronegócio – após oito semestres de quedas consecutivas. A inflação, que vinha asfixiando os salários, desacelerou aos poucos, menos motivada por políticas do Banco Central (BC) e mais pela boa safra e queda da demanda em razão do desemprego recorde. Com o consumo interno fraco, as empresas correram atrás do prejuízo no exterior. As exportações nacionais cresceram 19% no primeiro semestre, e as catarinenses, 16%, após dois anos de queda.
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Em Santa Catarina, além das exportações, muitos índices passaram do vermelho para o azul neste ano. O IBCR, que mede a atividade econômica, acumulava queda de de 4,8% em abril de 2016, enquanto agora registra alta de 2,4%. A produção industrial caía 7,5% nos primeiros quatro meses do ano passado, e de janeiro a abril de 2017 acumulou 3% de crescimento.
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Todos esses sinais chegaram a alimentar um clima de otimismo inicial. Porém, o episódio Joesley abalou a confiança geral com a economia do país. O Índice de Confiança Empresarial (ICE), medido pela FGV, caiu 2,1 pontos em junho, interrompendo uma sequência de cinco altas consecutivas. Não é que a situação estivesse fácil antes da delação da JBS. Não se sai de uma recessão da noite para o dia, especialmente para os assalariados que, mesmo quando reabsorvidos pelo mercado, têm a remuneração depreciada. Mas dá para dizer que voltamos ao mesmo cenário de incerteza vivido pouco antes de Dilma ser apeada do poder?
— Estamos em uma situação muito mais grave politicamente, e a política é o que está mais mexendo com a economia. Ainda é cedo para falar, mas desde a divulgação dos áudios de Joesley o país parou. Não se investe mais, não se faz mais nada até haver uma definição — avalia o economista-chefe do modalmais, Álvaro Bandeira.
Permanência de Temer agrada ao mercado
Para o presidente da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Glauco José Côrte, não resta dúvida de que o ambiente político emperra o andamento da economia ao adiar investimentos, especialmente porque enfraquece a possibilidade das reformas. O que não significa que os empresários torçam pela queda de Temer:
— Há um sentimento generalizado de que o melhor para o país seria a continuidade do atual governo. Agora, ninguém pode concordar com ilicitudes. Então, todas essas denúncias precisam ser apuradas. Para a economia, o prosseguimento é bem visto, mas sempre com a ressalva de que não pode haver impedimento das investigações.
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No diagnóstico de Bandeira, o empresariado preferiria a continuidade e vê a situação no curtíssimo prazo se deteriorar, entretanto a preocupação maior é a médio prazo, com quem vai assumir ou quem vai governar o país até 2018. Mas nem tudo são lágrimas.
— A economia norte-americana está se recuperando, a do Japão também, a China deve fechar o ano com 2,3% de crescimento e a Europa vai bem, então isso pode dar um alívio por meio das exportações. Outra coisa é que muitas empresas se deterioram e isso já está precificado nas ações. Então qualquer melhora, qualquer medida nova aprovada pelo governo, já é o suficiente para que os mercados mudem de patamar — diz o economista.
Para o segundo semestre é difícil dizer o que esperar. Se em economia prever o futuro já costuma ser arriscado, que dirá no Brasil, onde até o passado é incerto, como teria proferido o ex-ministro Pedro Malan. O BC estima crescimento do PIB de 0,5%. Já o mercado acredita em 0,39%, segundo o relatório Focus. É esperar para ver.
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