O vazamento de produtos tóxicos no rio São João após um acidente entre três caminhões na BR-376 exige um trabalho de contenção e limpeza dos materiais por uma força-tarefa desde sexta-feira (6). No entanto, a engenheira sanitarista Therezinha Novais de Oliveira, professora da Univille, defende um trabalho de prevenção para que casos como esse não voltem a acontecer na região. Integrante o Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Cubatão e Cachoeira, ela entende que medidas como o controle de cargas perigosas, além de obras estruturais e aumento da sinalização, podem ajudar a diminuir os acidentes.

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— Tem vias que não têm nem a necessidade de passagem de caminhões com cargas desse tipo, mas se esse não for o caso, a rodovia precisa ser amplamente sinalizada para o cuidado com o rio. Isso já minimiza os riscos — explica Therezinha, que aponta a necessidade de muretas de contenção, redutores de velocidades e proibição de ultrapassagem em trechos em que há rios nas margens das rodovias.

Assista vídeo do acidente entre caminhões que contaminou rio entre Garuva e Guaratuba

Homem morre em acidente envolvendo três caminhões na BR-376

Para a professora, mesmo que não se tenha como evitar acidentes e a consequente contaminação das águas, é importante a criação de um plano de transporte de cargas perigosas para as bacias hidrográficas. Isso possibilitaria a capacitação e o treinamento de profissionais no sentido de ajudar a minimizar os impactos na hora em que aconteça algum desastre.

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Therezinha considera que o grande problema são os órgãos responsáveis resolverem a situação no momento do acidente e não manterem um acompanhamento posterior. Ela diz sentir falta de um estudo aprofundado que aponte o que aconteceu, qual a concentração do produto tóxico na água do rio, as possibilidades de contaminação e a cadeia tóxica.

A especialista afirma que mesmo o rio São João não sendo usado para o abastecimento de água da região, o vazamento dos produtos tóxicos contamina os peixes. Alguns deles poderão até sobreviver e mesmo assim apresentar concentração de algum um contaminante e depois se tornar alimento para as pessoas futuramente, prejudicando-as.

— Tem que ter uma ação porque esse acidente (no rio São João) vai reduzir a pesca e ter um impacto atrás do outro. Precisamos sempre saber o que foi lançado na água e em que concentração para estudar os impactos futuros. Não é só liberar o rio à população — aponta.

A professora alerta que um acidente como esse poderia ter sido um desastre de grandes proporções se tivesse acontecido em uma região como a Serra Dona Francisca, em Joinville. O rio Cubatão passa ao lado da serra e serve para o abastecimento da cidade. Se um material tóxico cair no local pode afetar a distribuição de água para quase 600 mil pessoas.

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De acordo com Therezinha, o rio Cubatão tem um plano de bacia hidrográfica em que se discute o transporte de cargas perigosas, mas até o momento foram feitas apenas capacitações dos órgãos competentes para fazer a contenção em caso de acidente. Soluções têm sido debatidas ao longo dos últimos anos, como a proibição de circulação de caminhões carregados com cargas tóxicas durante a noite, porém nenhuma ação foi tomada.

Monitoramento da água e possível multa após acidente

O coordenador regional da Defesa Civil, Antônio Edival Pereira, explicou que após a contenção e limpeza do material do rio São João será feito o monitoramento da água, para ver se ela voltou ao normal com o passar do tempo. Ele explica que ontem era possível ver peixes vivos próximos da ponte sobre o rio São João. Segundo ele, a mancha dos produtos tóxicos também está diminuindo.

O coordenador também afirmou que os órgãos vão se reunir para avaliar tudo que houve e estudar o que pode ser feito para minimizar os danos em caso de acidentes e melhorar a atuação de resposta. Outra possível medida será definir quais multas poderão ser aplicadas às empresas proprietárias dos caminhões envolvidos no acidente. Para isso será feita uma reunião entre Defesa Civil e técnicos do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e do Ibama.

Os trabalhos de limpeza e remoção dos materiais químicos seguem no rio São João, entre Garuva e Guaratuba. Cerca de 25 mil litros de diesel e 13 mil litros de Osmose K33 – inseticida altamente corrosivo, usado exclusivamente para preservação de madeira – foram derramados no rio no momento do acidente.

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Os produtos impactaram uma área de 12 quilômetros de extensão. As equipes lideradas pela WGRA – empresa contratada pelos proprietários dos caminhões envolvidos no acidente – seguem coletando peixes mortos e material químico que param nas barreiras de contenção instaladas ao longo do rio. Também está sendo removida a terra contaminada.

A carga dos caminhões entra no rio São João por meio de um córrego, localizado próximo de onde ocorreu o acidente. Na segunda-feira, as equipes fizeram a contenção desse córrego, trancando a parte limpa e bombeando para outro riacho. A intenção é evitar que o material químico continuasse a descer para o rio.

Continua valendo a orientação para que a população não use a água do rio para consumo, banho ou pesca até que os trabalhos sejam finalizados. A contaminação não afetou a distribuição e o abastecimento de água do município, que é feita pelo rio do Braço.

Autopista faz trabalhos de prevenção

Em nota, a Arteris Litoral Sul informou que atua com o objetivo de prevenir acidentes com essas características, investindo em ações de melhoria na infraestrutura e operação das rodovias, além de promoção de campanhas de conscientização. Desde 2008, R$ 2,9 bilhões já foram investidos em obras que contribuem nesse sentido.

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Também na linha de prevenção, a Arteris Litoral Sul realiza em conjunto com a PRF a campanha de fiscalização Serra Segura na BR-376, em Tijucas do Sul. A campanha atua com foco na orientação dos motoristas sobre a importância da revisão dos sistemas de freio e, desde 2014, já fiscalizou 1700 veículos pesados, sendo que 950 receberam autos de infração por apresentar irregularidades.

Dessa forma, a Arteris Litoral Sul registrou redução de acidentes envolvendo caminhões na BR-376, com queda de 33% no número de ocorrências neste ano na comparação com o mesmo período de 2017 (entre 1º de janeiro e 8 de abril). O total de feridos em acidentes de caminhão também caiu 25%, de 58 para 43. O número de mortes se manteve com 2 registros.

Em outra frente, a Arteris mantém a operação 24 horas das rodovias com equipes de campo e monitoramento por meio de sistema inteligente de transporte com 187 câmeras. A dinâmica de operação está organizada para pronta atuação em caso de acidentes e início imediato do Plano de Acionamento de Emergências (PAE) da concessionária nos casos de ocorrências com produto perigoso.

O plano prevê o contato imediato com órgãos de emergência, como corpo de bombeiros e defesa civil dos estados do Paraná e Santa Catarina, e empresas responsáveis pelo transporte da carga. O objetivo é garantir que empresa transportadora tome todas as medidas possíveis para contenção e limpeza de qualquer possível contaminação de recursos naturais.

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