A cidade da chuva pode ganhar outra denominação em breve. O de cidade dos raios, das tempestades e dos vendavais. Desde o início deste ano, em quase todos os finais de tarde, Joinville é atingida por fortes chuvas, carregadas de raios e trovões. Esse cenário tem deixado os moradores assustados, principalmente quando os temporais causam destruição.

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Foi o que aconteceu na última segunda-feira, em Pirabeiraba. A chuva e os ventos superiores a 70 km/h provocaram quedas de árvores, de postes de iluminação e destelhamentos de casas, pontos comerciais e prédios públicos, como o Hospital Bethesda.

Um dia depois, em outro ponto da cidade, choveu 70mm em apenas uma hora, quase a metade do volume esperado para um mês. Os bairros mais atingidos foram os da zona Norte e do Centro, e um grande número de ruas e avenidas ficaram debaixo da água. O que muitos moradores se perguntam é o que estaria acontecendo em Joinville? As condições do tempo estão diferentes? Os temporais, a partir de agora, serão mais intensos e devastadores?

Para o professor Paulo Ivo Koenhtopp, que leciona em disciplinas da área ambiental na Universidade da Região de Joinville, a situação pode piorar. Os meses de fevereiro e março costumam ser mais quentes na região, o que proporciona a chance de ocorrerem fortes tempestades.

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Na avaliação do professor, esses fenômenos têm sido cada vez mais comuns devido à poluição do meio ambiente e o aquecimento global.

– Vivemos um verão atípico – reconhece Koenhtopp.

Em 2010, o professor já previa um cenário preocupante. Em sua tese de doutorado em Ciências Humanas na Universidade Federal de SC, ele defendeu a implantação de uma série de medidas preventivas para evitar a ocorrência de catástrofes naturais. O trabalho teve o intuito de mostrar como Joinville reagiria ao aquecimento global.

À época, Koenhtoop concluiu que a cidade não estava preparada para lidar com as mudanças do clima e, passados cinco anos, entende que a situação só piorou.

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– Não temos infraestrutura adequada nem políticas públicas para enfrentar esses problemas. A curto prazo, a única solução é o reflorestamento de áreas desmatadas e a diminuição da emissão de gases – destaca.

Conforme o professor, os temporais e vendavais são reflexo do aquecimento global. Ele compara tais eventos climáticos a uma panela de pressão que está prestes a explodir. Para que ela não vá para os ares, precisa descarregar energia, ou seja, raios e relâmpagos.

– Quando se tem muita energia absorvida na atmosfera, ela precisa soltar e isso é o que acontece hoje – explica.

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Defesa Civil na retaguarda

A Defesa Civil de Joinville monitora diariamente as condições climáticas da cidade. Segundo o gerente do órgão, Márnio Luiz Pereira, Joinville conta com vários grupos de resposta que estão preparados para entrar em ação dependendo da necessidade. Esses grupos contam com a participação das secretarias do Meio Ambiente (Sema), de Proteção Civil e de Segurança Pública (Seprot) e de 65 entidades da cidade.

– A mobilização ocorre a partir do evento meteorológico. Se ele for grande, acionamos os grupos e pedimos ajuda às equipes da Defesa Civil no Estado e no País. É um sistema muito abrangente.

Para ajudar a população, avisos meteorológicos são divulgados com antecedência no site da Defesa Civil e distribuídos aos órgãos de imprensa. São orientações práticas (confira ao lado) de como agir em situações de risco.

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– É importante termos essa sinergia. Estamos atentos aos fenômenos que ocorrem e prontos para entrarmos em ação.

Somente neste ano, a cidade foi atingida por três grandes temporais nos dias 10, 12 e 19 de janeiro, sendo que no último, a região de Pirabeiraba registrou rajadas de ventos de até 70 km/h. Doações foram feitas para recuperar os estragos na região.

COMO SE PREVENIR

– Quando há tempestades com descargas elétricas (raios) e ventos fortes, a dica é permanecer em local seguro e não transitar em áreas abertas, próximas a árvores, placas publicitárias ou objetos que possam ser arremessados. Se houver granizo, proteja-se em lugares com boas coberturas, ao exemplo dos banheiros das residências. Feche janelas e portas, e não manuseie nenhum equipamento elétrico ou telefone devido aos raios e relâmpagos.

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– Em caso de alagamentos e inundações, é bom evitar o contato com as águas e não dirigir em lugares alagados. Não transitar em pontilhões e pontes submersas e ter cuidado com crianças próximas de rios e ribeirões.

– Em dias de mar agitado, há risco à navegação e às atividades de pesca.

– 199 é o número de emergência da Defesa Civil

Celesc registra problemas há quase um mês

Em reunião com o prefeito Udo Döhler, o chefe da Agência Regional da Celesc, Jefferson Benedet Arantes, relatou que problemas na rede elétrica são registrados desde o dia 28 de dezembro em Joinville.

Segundo ele, os maiores estragos causados pelos temporais aconteceram no dia 12 deste mês, quando 70 mil unidades consumidoras foram atingidas.

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Para atender à alta demanda, a estatal trabalhou com 28 duplas de plantão e nove caminhões, contando com a ajuda de equipes de São Bento do Sul, Florianópolis, Tubarão, Itajaí e Criciúma.

O tempo médio de resposta para recompor o sistema foi de oito horas, mas em algumas localidades ficaram mais tempo sem energia. Em Pirabeiraba, o temporal do dia 19 deixou 14,7 mil unidades sem luz e houve a avaria em sete postes de iluminação pública.

Limpeza de rios ainda é lenta

A falta de limpeza de galerias e margens de rios e córregos é um problema recorrente em Joinville. Por este motivo, a Prefeitura colocou cinco escavadeiras de grande porte e duas de pequeno porte para trabalhar quase que diariamente nas áreas mais críticas.

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O gerente da unidade de drenagem da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) de Joinville, Cassiano Garcia da Silva, reconhece que muita coisa ainda precisa ser feita para que novos alagamentos sejam evitados na cidade.

– O trabalho é constante, mas ainda falta a limpeza manual das margens dos rios, dos córregos e das galerias pluviais. Ela é muito importante para dar vazão à água e evitar os alagamentos – afirma.

A limpeza manual referida por Cassiano não vem ocorrendo porque, segundo ele, depende de licitação e hoje já não daria a resposta adequada, pois a temporada é de chuvas.

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– Isso (limpeza manual) deveria ter sido feito em setembro ou outubro, não agora – explica.

Pelo menos obras importantes como a macrodrenagem do rio Mathias, na área central de Joinville, foram iniciadas. Outras, como o alargamento e drenagem do rio Itaum, no bairro Itaum, com recursos do BID, e a dragagem de 95 mil metros cúbicos do rio Águas Vermelhas, no bairro Vila Nova, estão bem encaminhadas. Cassiano ressalta que a prevenção é a melhor saída para uma cidade que cresceu sobre uma infinidades de rios e córregos. Isso significa que mantê-los com as margens e leitos limpos é essencial para não haver mais alagamentos.