O contrato com uma grande editora tornou o catarinense Carlos Henrique Schroeder ainda mais exigente com o que escreve. Nem bem teve seu primeiro título pela Record publicado – As Fantasias Eletivas sai na segunda quinzena deste mês -, ele trabalha no próximo “filho” que levará o mesmo selo. O romance História da Chuva deve chegar às livrarias em 2015.

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– São livros ousados, com temas delicados. A responsabilidade aumenta, mas a literatura é sobretudo risco – diz.

A história de As Fantasias Eletivas se passa em Balneário Camboriú. Renê, um recepcionista de hotel, tenta reconstruir a vida e encontra na amizade de um escritor travesti, obcecado por fotografias, a oportunidade para dar a volta por cima.

Radicado em Jaraguá do Sul, Schroeder lançou o primeiro livro em 1998, O Publicitário do Diabo. Por As Certezas e as Palavras recebeu o prêmio Clarice Lispector de Literatura em 2010.

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O autor realiza a Feira do Livro de Jaraguá do Sul, que terá a nona edição em 2015. É criador do Festival Nacional do Conto, que reúne contistas do Brasil em Florianópolis e ainda comanda a Design Editora.

Nesta entrevista, Carlos Henrique Schroeder fala de planos, da “passagem de bastão” da Feira do Livro de Jaraguá e do novo momento.

Confira a entrevista:

A assinatura com uma grande editora era algo que você perseguia?

Eu queria entrar numa grande editora para ter uma distribuição maior, para ver meus livros circularem melhor. Fiquei surpreso e muito feliz por conseguir espaço no difícil mercado brasileiro.

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O primeiro livro com a Record ainda não foi lançado, mas você já tem uma nova produção. Como será?

Eu estou trabalhando no História da Chuva ainda, espero entregar a última versão no final do ano. Reviso incansavelmente para ter o controle total da narrativa. É um livro difícil, cheio de camadas e que necessita de uma pesquisa intensa, pois um dos temas é o teatro de formas animadas.

Se fosse traçar o próximo passo para a sua carreira, qual seria?

Tenho um longo caminho ainda, me considero um iniciante, o que eu quero é que cada vez mais pessoas possam ter acesso aos meus livros, só isso. Também quero ajudar os autores do Estado, talvez consiga levar alguns para a editora.

Parece lógico por ser o teu lugar de origem, mas Santa Catarina está presente nas tuas histórias e é onde você se esforça para realizar eventos de literatura. É uma forma de agradecimento?

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Eu vivo aqui, respiro aqui, meus fantasmas são daqui, então é natural que minhas histórias aconteçam aqui. É um Estado de riquezas financeiras e turísticas, mas anda provinciano em muitos aspectos. Eu tenho duras críticas à gestão estadual, o governo do Estado está matando a cultura aos poucos, nada funciona direito. Eu faço a minha arte e a minha parte.

Você tem planos de se afastar da Feira do Livro de Jaraguá do Sul. Por quê?

Meu ciclo na Feira do Livro de Jaraguá do Sul terminou, eu ajudei a fundá-la e já estou há oito anos comandando o evento, vou passar o bastão (comandarei a nona edição ainda) e ajudar outros municípios a fundarem eventos literário. Precisamos profissionalizar esse mercado no Estado. Há muito amadorismo. Literatura é coisa séria. Deixarei a Feira de Jaraguá consolidada e internacional, pois ano que vem traremos dois autores estrangeiros e livros estrangeiros. Tenho a certeza de que a feira continuará sua trajetória de sucesso, focada numa programação de qualidade e na formação de leitores.

Como proprietário de uma editora, você tem contato com diversos autores. Como está o nosso cenário?

Eu sou um entusiasta da literatura catarinense, o Estado é pródigo em grandes autores, em todas as regiões surgem jovens e talentosos autores. Vou citar apenas alguns, com menos de quarenta anos: de Lages; temos o Guille Thomazi. De Florianópolis, a Patrícia Galelli. Do Oeste, o André Timm. Da região Norte, o João Chiodini, que está trabalhando há anos num romance maravilhoso. Do Sul, a Helena Schmidt. Mas não há uma tendência perceptível em todos eles, são escritores muito diferentes, mas antenados com o que melhor se produz no Brasil e no mundo, e isso é importante, sempre olhar para além do umbigo, do próprio quintal.

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A boa escrita é o único atributo indispensável para ser um bom escritor?

Um grande escritor é, sobretudo, um grande leitor, alguém que lê de tudo, sem preconceitos, que percebe seu tempo e que persegue implacavelmente a si próprio, e não o sucesso. Eu escrevo para mim e não me importo com o que vão pensar sobre meus livros, que são cheios de personagens atípicos e amorais.