Os últimos três anos e meio não têm sido nada fáceis na Escola de Educação Básica Nossa Senhora dos Prazeres, o antigo Censp, em Correia Pinto, uma das mais tradicionais da Serra Catarinense e fundada há seis décadas. Desde fevereiro de 2011, cinco jovens alunos da instituição foram vítimas de acidentes de trânsito. Quatro morreram e um perdeu uma perna.

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A última tragédia aconteceu no sábado à noite, quando um Celta dirigido por Wilian dos Santos do Nascimento, de 14 anos, caiu de uma ponte. Wilian e o carona, Michael Douglas da Luz, 17, morreram afogados no rio. Os dois estavam no 1º ano do ensino médio da mesma escola.

– Os alunos perderam valores, estão sem projetos e perspectivas de vida. Não sabemos onde estamos falhando. O primeiro passo vai ser uma palestra com a Polícia Rodoviária Federal, mas vamos trazer profissionais para falar sobre drogas, violência, trânsito e tudo o que for necessário. Já fazemos isso, mas teremos que fazer com mais frequência – explica a diretora Cristiane de Souza.

O delegado Fabiano Schmitt iniciou nesta segunda-feira uma investigação para apurar a eventual responsabilidade criminal pelo acidente, pois ainda não está claro de quem é o carro e se o proprietário permitiu que Wilian dirigisse ou se o garoto pegou a chave sem autorização.

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Nos próximos dias os familiares e testemunhas serão intimados para prestar depoimento. O caso deve ser concluído em até 30 dias, e se ficar comprovado que o proprietário do automóvel consentiu que o menor assumisse o volante, ele será indiciado com base no artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê detenção de seis meses a um ano ou multa.

Enquanto isso, a comunidade escolar continua abalada. E os professores, destruídos por trocarem formaturas por velórios, decidiram pedir ajuda à sociedade para que seja feito um intenso trabalho de educação e valorização à vida entre os alunos. Antes que seja tarde demais.

Entrevista: Cristiane de Souza, Diretora da E.E.B. Nossa Senhora dos Prazeres de Correia Pinto

Diário Catarinense – De que forma esse tipo de acontecimento afeta a comunidade escolar?

Cristiane de Souza – Abala todas as estruturas da escola. Nós, professores, não estamos preparados para lidar com a morte como um médico, por exemplo. Passamos quatro horas por dia na vida dos alunos. Eles conversam conosco, falam de problemas e nos contam seus segredos. Com uma tragédia igual a essa nós ficamos sem chão. Parece que tudo o que fizemos foi em vão. A gente se sente inútil e incapaz.

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DC – E como os alunos reagem?

Cristiane – Na hora eles ficam chocados, choram e dizem que não vão cometer mais erros. Mas esse sentimento parece ser passageiro. Logo depois do sepultamento eles vão lá e fazem tudo de novo. Os adolescentes não têm medo da velocidade, do perigo, de nada. Perderam o amor pela própria vida. A base está em casa, mas a família não está do nosso lado.

DC – Como a escola pode lidar com essa situação?

Cristiane – Só nós, professores, não conseguiremos nada. Precisamos de parceiros. Todos os órgãos da sociedade devem se envolver. É necessário um psicólogo, um promotor de Justiça, representantes da igreja e da prefeitura. Temos que focar no bairro, onde há problemas como drogas, violência e desestrutura familiar. Os adolescentes não são cobrados em casa e os pais não vão à escola. Mas esses órgãos também não vão à escola, que está sendo ignorada justamente quando mais precisa.

DC – E sobre os alunos que morreram no fim de semana?

Cristiane – Eles eram bons alunos, nunca deram problemas na escola, não bebiam. Mas perderam a vida brincando com a velocidade, e mesmo não sendo do nosso sangue, são partes das nossas vidas que foram embora.

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Foto: Joao Junior/Jornal Nossa Terra

Carro caiu de ponte

Dois adolescentes, de 14 e 17 anos, morreram no fim da noite de sábado depois que o carro em que estavam e que era conduzido pelo mais novo caiu no Rio Canoas, no município de Correia Pinto, distante 25 quilômetros de Lages, na Serra Catarinense.

Wilian dos Santos do Nascimento, 14, e Michael Douglas da Luz, 17, estavam em um Celta com placas de Taió dirigido por Wilian na companhia de um terceiro menor, de 17 anos, que conseguiu se salvar com escoriações leves no rosto, no pescoço e nas mãos.

O acidente aconteceu na ponte de acesso ao bairro Nossa Senhora Aparecida, às margens da BR-116. A altura aproximada da queda foi de sete metros, e o carro ficou com o teto submerso no rio, cuja profundidade no local é de 1,5 metro.

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Wilian dos Santos do Nascimento dirigia o veículo

Foto: Reprodução/Facebook

Michael Douglas da Luz também morreu no acidente

Foto: Facebook/Reprodução