Mais da metade dos nascimentos no Brasil é realizada por meio da cesárea, o que faz do país o líder mundial no procedimento. Considerada uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a cirurgia alcança o índice de 84% na rede privada brasileira e de 40% na pública – a recomendação da OMS é de 10% a 15%. Com números tão altos, a ideia de parto humanizado, que incentiva o nascimento natural e menos “medicalizado”, tem ganhado força no país e, inclusive, incentivo do Ministério da Saúde.

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Mas o assunto ainda é polêmico e divide opiniões. O texto da colunista de ZH Rosane de Oliveira “Parto Humanizado em Hospital”, publicado em 14 de junho, é um exemplo da controvérsia que o tema causa. Diante da posição da jornalista de que “não precisamos de modismos que coloquem em risco a vida de mães e bebês”, ao citar o caso de mães que buscam o realizar o parto em casa, diversos leitores se manifestaram argumentando que a volta de um parto mais natural é necessária para reduzir o número de cesáreas, enquanto outros reforçaram a importância da estrutura hospitalar para dar segurança ao procedimento.

É possível ter alta hospitalar poucas horas depois do parto?

Segundo o obstetra do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Jose Geraldo Lopes Ramos, a polêmica ainda vai longe. A preferência de médicos e pacientes pela cesárea depara com um crescente movimento de resgate do naturalismo que, em seu emprego mais extremo, promove a volta do parto domiciliar.

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– Não devemos ir nem tanto ao céu, nem tanto à terra. É preciso encontrar um equilíbrio entre a segurança e a naturalização – afirma o obstetra.

Saiba o que defende cada uma das pontas dessa polêmica:

Em defesa do parto no hospital

O obstetra Jose Geraldo Lopes Ramos defende que não se pode abrir mão de realizar o parto no hospital.

– Desde que o procedimento foi levado para o ambiente hospitalar, é raro ouvir que uma mulher “morreu de parto”. Cerca de 80% dos nascimentos ocorrem de maneira adequada, com situações que são fáceis de manejar. Mas de 10% a 20% dos partos terão complicações graves, que necessitam de intervenções médicas. Ainda assim, não há como justificar o índice de cesarianas que temos nos hospitais privados – pondera.

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Segundo Ramos, há uma busca nos hospitais para tornar o parto mais natural.

– Humanizar não significa perder a segurança, que é fundamental e já salvou muitas vidas – afirma o obstetra.

A coordenadora da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, Rita Sanchez, acredita que os hospitais privados brasileiros ainda estão longe de alcançar uma humanização do parto que reverta a cultura da cesárea criada nos últimos anos.

É justamente esse o objetivo do programa Parto Adequado, desenvolvido pelo Institute for Healthcare Improvement, dos Estados Unidos, pelo Hospital Israelita Albert Einstein e pela Agência Nacional de Saúde Complementar, em parceria com o Ministério da Saúde. Ainda em fase piloto, a estratégia busca aumentar a segurança do parto normal e revisar as práticas de atendimento antes e depois do parto.

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– É preciso criar condições que permitam esperar pelo parto normal – conclui Rita.

Em defesa do parto domiciliar

A parteira Marília Largura tem mais de 40 anos de experiência e já realizou mais de 5 mil partos. Segundo ela, o parto domiciliar é um resgate do procedimento como algo orgânico, fisiológico e natural.

– O parto em casa leva em consideração a mãe, seu modo de vida, sua cultura. Faltam informação às mulheres para que elas possam ser protagonistas desse momento tão importante – defende.

“O parto foi desnaturalizado pela cultura moderna”, diz parteira profissional

Ainda que seja “radicalmente contra a cesárea”, a parteira afirma que o procedimento deve ser realizado em casos de risco – em até 25% dos casos, segundo Marília. Para ela, mesmo quando o nascimento ocorre em casa, garantir a segurança para a mãe e o bebê é fundamental.

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– É preciso ter uma equipe experiente e um aparato de cuidados. A segurança depende muito de quem vai fazer o parto e da preparação da mãe. Ela precisa se informar para ter certeza de que isso faz parte da sua cultura de vida – pondera.

O que é um parto humanizado

Conheça algumas indicações do Ministério da Saúde para tornar o nascimento mais natural:

– Garantir à mulher o direito de escolher um acompanhante que ofereça apoio físico e emocional durante o trabalho de parto.

– Disponibilizar variadas formas não medicamentosas de alívio da dor, como banheira ou chuveiro, massagens, bola de pilates, compressas quentes ou frias, entre outras.

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– Oferecer à mãe líquidos e alimentos leves durante o trabalho de parto.

– Disponibilizar cuidados para reduzir as chances de ter de submeter a mulher a procedimentos invasivos como a indução do parto, a cesárea e episiotomias (corte do períneo).

– Garantir ambiente tranquilo e acolhedor, com privacidade e iluminação suave.

– Caso seja da rotina do estabelecimento de saúde, autorizar a presença de doula comunitária ou voluntária em apoio à mulher.

– Permitir que mães, pais ou responsáveis tenham acesso livre ao recém-nascido, 24 horas por dia, dentro do hospital, mesmo que os bebês estejam na UTI neonatal.

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*Zero Hora