A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta para o Brasil como o líder em cesáreas e alerta que o aumento nas práticas em partos se transformou em uma “epidemia“. A declaração foi feita em Genebra, em uma tentativa de convencer médicos, hospitais e mulheres para que repensem os partos.

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Conveniência, medo e desinformação transformam cesárea em epidemia nacional Ministério da Saúde e ANS criam normas para reduzir cesarianas

Mitos e verdades sobre o parto

Para a OMS, cesáreas somente devem ser realizadas quando existem “motivos médicos“.

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– Desde 1985, sempre dissemos que a taxa ideal de cesáreas seria de 10% a 15% dos partos em um país, mas o que vemos é um aumento dramático – disse Marleen Temmerman, ginecologista e diretora de Saúde Reprodutiva na OMS.

Em 20 anos, todas as regiões do mundo registraram um aumento nos casos de cesáreas.

– Há uma epidemia, mesmo quando não existe uma necessidade médica – declarou a diretora, indicando que mesmo na àfrica a taxa também aumentou.

Em média, a taxa de cesárias na Europa é de 20% a 22%, contra 15% há 20 anos. Já nos Estados Unidos, a taxa é de 32,8%. Sobre o Brasil, a OMS não poupa críticas:

– O Brasil é o líder mundial – informou.

Partos normais oferecem menos riscos que cesarianas

Sem motivo médico, cesáreas chegam a 88% no setor privado

Com mais da metade dos nascimentos no país realizados por cesáreas. Hoje, apenas dois países do mundo vivem essa situação em que partos naturais são minoria. O outro é o Chipre.

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– O que vemos é que, em duas décadas, os casos no Brasil aumentaram de forma exponencial – disse a diretora.

Dados da OMS de 2011 mostram que 53,7% dos partos no Brasil eram cesáreas, a maior taxa do mundo. Em 2010, essa taxa era de 52,3%. As estimativas, porém, apontam que ao final de 2014 a taxa já teria chegado a 55%.

Matin Gulmezoglu, coordenador do Departamento de Saúde Maternal da OMS, admite que governo e entidades brasileiras estão tentando reduzir a taxa. Mas alerta que “não será uma tarefa fácil, já que a prática parece estar disseminada”.

Pelo banco de dados da OMS, que de fato não consegue incluir todos os países por falta de informação, a Colômbia apresenta um número elevado, de 42%, contra 43% na República Dominicana. No Chipre, a taxa chegou a 50%, contra 47% no Irã.

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Segundo ele, existem diversas razões para o aumento da prática.

– Em primeiro lugar, essas operações são mais seguras hoje, com antibióticos e anestesia – disse.

Mas a diretora da OMS culpa os médicos e hospitais por ter dado início à “epidemia”.

– Quando há a medicalização dos partos, vemos um aumento das cesáreas – disse.

– Para um ginecologista, é melhor fazer cesárias para que possam organizar suas agendas e hospitais puxam nessa direção para que tenham uma agenda determinada. É uma questão logística, não financeira.

Outro alerta da OMS é de que as práticas passaram a fazer parte da “cultura” de certas classes sociais.

– Precisa haver uma conscientização de que, apesar de segura hoje, trata-se de uma intervenção cirúrgica que pode ter impacto negativo para a mãe e a criança – analisou a especialista.

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