Identidade russa, mas de coração joinvilense. Neste sábado (10), Joinville se despediu de uma de suas cidadãs honorárias, a professora e bailarina do Bolshoi, Galina Kravchenko, em cerimônia realizada na sala do Bolshoi Brasil que leva o nome de seu marido e idealizador da Escola no País, Aleksander Bogatiriev. Vítima de câncer aos 73 anos, no último dia 9, ‘Galia’ como era chamada pelos colegas, recebeu as homenagens de amigos, fãs e companheiros da forma que gostaria que fosse: eternizada na Cidade da Dança, título que ajudou a enraizar nos últimos 18 anos.

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Nascida na Rússia e com uma carreira consolidada como solista do Teatro Bolshoi de Moscou por 21 anos, Galina desembarcou em Joinville em 2000 para realizar o sonho do seu esposo, e, no fundo o seu também, de constituir uma escola do Bolshoi fora do país natal. Desde então, como professora fez parte da trajetória de incontáveis alunos que com ela aprenderam.

Neste sábado, muitos deles, uniformizados prestaram homenagens a eterna professora. Foram 18 anos dedicados à Escola Bolshoi Brasil nas funções de ensaiadora, professora e coreógrafa, no qual, os últimos cinco, demonstrou força na luta contra o câncer, sem deixar de estar presente. No velório, a cerimônia do adeus às 15h30 na sede da Escola, foi o momento em que seu legado foi evidenciado pelos amigos de longa data e pupilos.

Uma delas, a bailarina Bruna Gaglianone, formada pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e hoje bailarina no Bolshoi de Moscou, que recorda os primeiros passos que deu na carreira com ajuda de Galina. Além do incentivo para que a jovem consolidasse carreira na dança, levando o nome de Joinville para o mundo, Galina deixou marcas na formação do caráter dos personagens interpretados pela bailarina.

— Galia foi a pessoa que talvez mais me incentivou a realmente seguir como bailarina. Aos 13 anos foi a primeira vez que ganhei um prêmio e viajei sozinha e fiz isso com ela. Foi a maior incentivadora para eu continuar na carreira e estar aonde eu estou. Ela deixa para mim a verdade do que é a vida de uma bailarina, a dedicação total que ela tinha, ela vivia isso, vivia para a escola — conta.

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Em movimento contrário à professora, que deixou a Rússia para morar em Joinville, Bruna mudou-se para a Rússia. A jovem acredita que a decisão de Galina tomada há quase 20 anos foi um gesto de generosidade.

— A professora Galia já tinha cumprido o papel dela como bailarina, então veio abraçar Joinville como a cidade para ela passar todo o conhecimento dela. Ela adotou Joinville como a cidade dela e acho até que já era mais brasileira do que russa — justifica.

Legado vai continuar

Durante a cerimônia de despedida da artista, o amigo e colega de trabalho Valdir Steglich, presidente da Escola Teatro Bolshoi no Brasil, destacou que foi dela o papel de atuar fortemente na divulgação da dança cidade afora.

— Fica o legado da professora Galia, de amor à arte, à cultura, à dança. E com certeza isso fez com que o Bolshoi Brasil crescesse tanto do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista de ser conhecida como uma das melhores escolas de dança do mundo. E fez com que realmente ajudasse Joinville a ser a cidade da dança, não só pelo seu festival, mas principalmente por causa da escola. A Galia é uma pessoa que deixa um legado muito grande de amor a Joinville, porque desde o momento que recebeu o título de cidadã honorária essa foi uma das maiores alegrias de sua vida, quando ela viu a realização dos seus sonhos — recorda Steglich.

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Para os membros da Escola Bolshoi a imagem que fica é de uma professora trabalhadora, dedicada, comprometida e que buscava sempre a perfeição. O também russo e hoje diretor geral do Teatro Bolshoi no Brasil, Pavel Kazarian, demonstra esse sentimento ao dizer que a trajetória de Galina vai permanecer.

— A gente trabalhou junto desde o Teatro Bolshoi de Moscou e pessoalmente para mim é uma grande perda, mas tentando colocar algo de positivo nisso eu realmente penso que enquanto os alunos, alguns que passaram pela escola, lembrarem das correções dela, das frases famosas e lembrarem da figura dela, ela continua viva.

Notas de pesar

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil destacou que Galia repetia constantemente que a Escola era a sua família, inclusive citando em uma entrevista que “Minha vida é mais completa nessa Escola. Sou realizada por todos esses anos de dedicação e muito trabalho, e feliz em fazer parte dessa grande família”.

Galia deixa um filho, Vladimir Bogatiriev, e milhares de admiradores que tiveram a oportunidade de tê-la como amiga, mestre e artista. “Nossa eterna reverência a esta grande artista!”, encerra a nota enviada pela Escola.

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A Prefeitura de Joinville também manifestou profundo pesar com o falecimento da professora russa e Cidadã Honorária de Joinville, laureada com o título em 2013. “Galina era uma pessoa que contribuiu muito pela cultura e reconhecimento de Joinville no cenário artístico, através da valorização da dança. O Município se solidariza aos familiares, amigos, artistas, professores e alunos da Escola Teatro Bolshoi”, .

Carreira na Rússia

Galina Kravchenko nasceu em Moscou, Rússia. Formou-se pela Escola Coreográfica Acadêmica de Moscou. Foi solista do Teatro Bolshoi de Moscou por 21 anos e dançou todo o repertório do Teatro Bolshoi. Participou de turnês por toda a Europa, América do Sul, Estados Unidos, África e Ásia, além de ter dançado em concertos de gala com grandes nomes, entre eles Rudolf Nureyev.

Diplomou-se no curso superior de dança do Instituto Estatal de Artes Cênicas de Moscou, especializando-se em direção de balé. Depois se tornou professora residente da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil nas áreas de dança à caráter, repertório e clássico. Atuou também como ensaiadora nas principais obras da Escola: Grande Suíte do Ballet Don Quixote, Suíte do Ballet Quebra-Nozes, Príncipe Igor, Raymonda e Giselle.

Sua última homenagem pública como ícone da dança foi em 2017. Na época, seu trabalho foi reconhecido durante a 35º edição do Festival de Dança de Joinville.

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