Quatro ações distintas, mas complementares, são essenciais para se tentar o processo de recuperação da Duque, tradicional metalúrgica de Joinville mergulhada em uma crise financeira.
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O salvamento da companhia depende de: 1) a prorrogação do prazo de pagamento das dívidas por 15 anos; 2) da injeção imediata de recursos para capital de giro e retomada da produção; 3) da profissionalização da gestão; e 4) do enxugamento do quadro de funcionários.
Todas essas medidas estarão profundamente detalhadas em um levantamento que a Corporate Consulting, empresa com sede em São Paulo especializada em consultoria nas áreas de gestão e negócios, vai apresentar à metalúrgica na próxima quarta-feira, dia 5.
Em entrevista exclusiva ao jornal “A Notícia”, os executivos Luis Alberto de Paiva e Ricardo Vastella, da empresa de consultoria, apresentaram um panorama geral da situação da Duque. A metalúrgica deve R$ 180 milhões.
Metade desta quantia é de crédito de bancos e instituições financeiras, enquanto R$ 15 milhões correspondem ao que os fornecedores ainda têm a receber. Outros R$ 45 milhões são de impostos e taxas não pagos ao município, Estado e União. O restante são dívidas diluídas.
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A crise começou a se agravar a partir do segundo semestre de 2013. O resultado do segundo trimestre do ano passado (junho de 2013) já apontava claramente: as despesas financeiras roíam o resultado operacional.
E a empresa, listada em Bolsa de Valores, anunciava na publicação de seu balanço semestral que tentaria buscar recursos novos junto a instituições financeiras. Pedia compreensão e ajuda dos credores. Já estava sem crédito.
Antes de deixar de honrar seus compromissos, a Duque pagava R$ 4,5 milhões de juros mensais a bancos, rolando dívidas de curto prazo. Em 2013, a companhia faturava, em média, R$ 10 milhões por mês. Desde o início deste ano, porém, a receita é zero porque as atividades estão paralisadas.
Douat indicou a consultoria
A Corporate foi contatada pelo presidente da Duque, Mario Hagemann, a partir de uma conversa com o empresário Osvaldo Moreira Douat. A consultoria paulista já fez o processo de reestruturação na Douat Têxtil, também de Joinville. Lá, montou plano de recuperação judicial bem sucedido.
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Após alongar o pagamento do passivo por 12 anos e deságio de 35% com três anos de carência, o resultado de geração de caixa (Ebtida) já é de 12%. E o faturamento projetado para 2014 soma R$ 100 milhões. A consultoria está há um ano na gestão da Douat.
Empresa precisa retomar produção e trocar nomes na administração
Para recuperar o fôlego, a Duque precisa imediatamente retomar a sua produção. Por isso, a Corporate Consulting vai recomendar um aporte de R$ 10 milhões para reiniciar a fabricação de aramados e itens para bicicletas. Os recursos são necessários para dar capital de giro à companhia.
-Há conversas e já existem instituições financeiras que farão este aporte para reiniciar a produção. A Duque é plenamente viável-, avalia Luis Alberto de Paiva, sócio-diretor da Corporate.
O executivo também reforça a necessidade de se mudar o gestor.
-Isso é essencial. E de forma geral, isso tem de acontecer. O presidente deve passar para o Conselho de Administração e deixar a operação do dia a dia por conta da consultoria.
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O executivo Ricardo Vastella é o nome escolhido pela Corporate para administrar a empresa durante o processo de reestruturação. O trabalho já começou. Na próxima quarta-feira, dia 5, o plano, detalhado, será submetido ao presidente da empresa, Mario Hagemann. Se aprovado, as medidas serão colocadas em prática.
No caso de recusa, a consultoria se afastará e o empresário terá de escolher outra alternativa para enfrentar a aguda crise. Por enquanto, ainda não é caso de pedido de recuperação judicial. Mas Paiva não descarta essa possibilidade mais adiante.
Enxugamento de funcionários
Se a resposta for positiva, o objetivo da equipe liderada por Vastella será reiniciar os trabalhos na Duque com 200 trabalhadores. A lista dos profissionais será definida a partir de conversa com o Sindicato dos Mecânicos, depois da conclusão do diagnóstico. Atualmente, a empresa, segundo a Corporate, tem 800 funcionários.
-Aqueles que não ficarem serão liberados, com baixa na carteira de trabalho para procurarem outro emprego-, afirma Paiva.
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A Duque está com a produção totalmente paralisada desde o final do ano passado. Os salários não são pagos desde novembro – a empresa teria se comprometido a quitar os vencimentos daquele mês até o dia 31 de janeiro.
Espremida entre gigantes, mas ainda com nome forte no mercado
O ambiente de negócios no qual a Duque está inserida não favorece. A tentativa de disputa com fabricantes chineses no quesito preço de venda revelou-se desastrosa.
Na prática, a metalúrgica comprava aço (sua matéria-prima principal) de grandes corporações com mínima margem para negociação de valores e vendia seus produtos finais para multinacionais do setor de eletrodomésticos, que impõem preços menores do que os adequados para viabilizar rentabilidade satisfatória.
Apesar do momento desfavorável, com seguidos protestos de funcionários, há bom prognóstico para a metalúrgica joinvilense. O sócio-diretor da Corporate Consulting, Luis Alberto de Paiva, aponta os motivos do otimismo: o parque fabril é muito bom, os clientes reconhecem competência da empresa no que faz e os produtos importados não têm a mesma garantia de qualidade – e nem assistência técnica.
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-O mercado pede a retomada da Duque-, atesta.
Como recuperar a metalúrgica
1. Alongar o prazo de pagamento das dívidas da companhia por 15 anos.
2. Conseguir a entrada imediata de R$ 10 milhões iniciais, que serão capturados no mercado, para capital de giro e retomada da produção de aramados e itens para bicicletas.
3. Troca de gestão da companhia, com a passagem do presidente, Mario Hagemann, para o Conselho de Administração.
4. Reduzir o tamanho da empresa. Dos 800 trabalhadores, 200 permaneceriam sob a gestão da empresa de consultoria.
Opinião – A hora do desapego
Por Claudio Loetz
A Duque tem uma história cinquentária de empreendedorismo, avanços e sucesso, mas também de decadência. O embalo da industrialização brasileira, entre os anos 60 e 80 do século passado, tornou a metalúrgica referência nacional no segmento de produção de itens para bicicletas.
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O tempo passou. E sem modernizar gestão não é possível competir num ambiente globalizado. É isso que os administradores da tradicional metalúrgica deixaram passar: o tempo. Mesmo assim, ainda há tempo para a companhia sair da crise.
Uma administração profissional é a senha. Às vezes, o ensinamento budista do desapego serve, também, para os negócios. A hora chegou.