O diretor de negócios de opinião pública e política do Ibope, Hélio Gastaldi, comentou os números da pesquisa que aponta um desinteresse em relação ao processo eleitoral por parte de 69% da população catarinense. Disse que há uma clara margem em relação aos números de Santa Catarina e os de estudos divulgados e até não divulgados. A pesquisa indica que ainda não entrou na agenda do catarinense o tema eleições. O assunto parece ser uma pauta mais da classe política e da imprensa neste momento do que do eleitor em Santa Catarina.
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DC – Este índice de 69% da população com pouco ou nenhum interesse nas eleições é uma exclusividade de Santa Catarina?
Hélio Gastaldi – De todas as pesquisas que temos no momento sim. Desponta claramente como a população mais alheia ao processo eleitoral.
DC – Há uma tendência nacional?
Gastaldi – Temos as duas coisas. De modo geral, o brasileiro não se declara muito interessado nas eleições. Esse interesse vai aumentando à medida que se intensificam o debate, a exposição da mídia e a iminência da eleição. Agora, em Santa Catarina isso está de uma maneira mais exacerbada.
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DC – Isso pode representar em 2014 um número alto de abstenções, votos brancos ou nulos?
Gastaldi – Esse é um tema que tem instigado muitos debates hoje. Em função das manifestações, muitos projetam a grande possibilidade disso. Muitos, inclusive, pregam isso em uma proporção maior do que nos outros anos. Então é possível sim que tenhamos um número maior de brancos e nulos como voto de protesto ou até a própria abstenção. Mas não se pode prever se a diferença vai ser de fato muito significativa. Eu diria que em Santa Catarina vai depender muito mais do desempenho dos políticos até a eleição do que do estado de ânimo dos eleitores. A população parece mais disposta do que o habitual de não participar muito intensamente do processo, mas acho que isso depende mais dos candidatos, das posturas deles em campanha, dos temas que vierem a ser discutidos.
DC – Há uma relação com as manifestações que ocorreram em junho em todo o país?
Gastaldi – O que o cidadão demonstrou nas manifestações recentes foi um desinteresse mais pela classe política – e uma revolta até -, de como a classe tem conduzido os assuntos políticos. Não é de fato um desinteresse pela política. A política se afastou do cidadão, não foi o cidadão que se afastou da política. Então esse resgate é possível. Basta que a agenda das eleições trate de temas do interesse do cidadão e com a devida pertinência. Se os políticos continuarem com temas estéreis e distantes do cidadão, a resposta das urnas pode ser um grande volume de votos brancos, nulos e abstenções.
DC – O que está se desenhando com os números não é que o cidadão estaria desinteressado por assuntos políticos, como Saúde, Educação, Segurança, e sim um desinteresse pelos processos tradicionais da política, de não enxergar mais a eleição como uma via de mudança?
Gastaldi – Exatamente, para o cidadão a política está se tornando um processo cada vez menos legítimo.
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