Sexta-feira, a cena política tinha seus olhos voltados para a decisão da ex-senadora Marina Silva, que na véspera tivera negado o registro do Rede Solidariedade pelo Tribunal Superior Eleitoral. Presidente nacional do PSB, Eduardo Campos telefona para Jorge e Paulo Bornhausen para informar uma operação em curso: Marina se filiaria ao PSB para apoiá-lo à Presidência da República.

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A notícia que surpreendeu o país e mudou o tabuleiro da sucessão presidencial foi consumada no sábado e começou a se desenhar quando Marina viu naufragar o sonho de fundar o próprio partido. O registro da Rede Sustentabilidade foi rejeitado por problemas na validação das assinaturas de apoiadores. Com 20 milhões de votos na bagagem, a ex-ministra do governo Lula teve 48 horas para repensar o futuro. Chegou a marcar uma entrevista coletiva apenas para dizer que não havia decidido nada. Por fim, fez o que analista nenhum havia sido capaz de prever.

Depois de receber convites de várias legendas dispostas a lhe dar protagonismo no pleito de 2014, acabou optando pelo PSB, que já tinha Campos definido como cabeça de chapa. A repercussão foi imediata. Líder do PPS – partido preterido por Marina -, Roberto Freire classificou a decisão como “suicídio político”. Candidato à Presidência pelo PSDB, o senador Aécio Neves não fez críticas. Limitou-se a saudar a adversária, embora saiba que terá mais dificuldades pela frente.

Em Santa Catarina, a composição foi recebida com entusiasmo por parte do PSB e ressalvas dos redistas – especialmente entre os mais jovens do grupo que ajuda Marina a criar o novo partido no Estado.

No comando do PSB catarinense desde 30 de agosto, Paulo Bornhausen comemora a adesão de Marina ao projeto de Eduardo Campos. Acreditam que a manobra impulsionará a candidatura e que surge um novo cenário eleitoral para ano que vem.

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– Em nível estadual, pouco muda com a vinda de Marina. Já no nível nacional, uma terceira via se fortalece. Iremos trabalhar para que a disputa não fique polarizada entre PT e PSDB, como sempre esteve nos últimos anos. A ideia é apresentar uma alternativa, uma via que que se diferencie dessa velha política que os dois partidos estão fazendo. Haverá um debate nacional mais rico no qual os eleitores terão ao menos três alternativas – diz Paulo Bornhausen.

O pessebista garante que a legenda está de portas abertas para receber redistas e demais apoiadores de Marina Silva e que está disposto ao diálogo. Adiantou que alguns membros da rede já procuraram pelo PSB, mas nenhum com intenção de lançar-se candidato.

– Não temos nenhum tipo de preconceito, nenhum tipo de fator que impeça uma aliança com qualquer tipo de partido. No caso da Rede, acho que as diferenças não podem ser maiores que as convergências.

Mesmo assim, o acordo nacional não deve facilmente reproduzido em Santa Catarina. Nas redes sociais, boa parte dos redistas catarinenses se mostra desconfortável. Alguns membros da Rede acusam os Bornhausen – especialmente o ex-senador Jorge Bornhausen, pai de Paulo – de representarem velhas oligarquias do Estado e de serem conservadores nas questões ambientais.

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A tendência é que os redistas continuem coletando assinaturas para que o registro do partido ocorra antes das eleições. Para Mauro Beal, membro das comissões provisórias estadual e nacional da Rede, a notícia da filiação de Marina no PSB foi surpreendente, mas bem recebida, uma vez que a aliança viabiliza a candidatura da ex-senadora, mesmo que no posto de vice de Campos.

– Na próxima reunião iremos tentar estabelecer um plano que seja do agrado de todos. Acredito que em termos ideológicos, uma aliança com PSB do Bornhausen seria complicada, sobretudo para os membros mais jovens. Mas também devemos pensar em termos políticos de modo que seja possível fortalecer a candidatura da Marina, que é um dos nossos objetivo principais.