Desde que foi instituída a reeleição, em 1997, os eleitores dos três principais colégios eleitorais do Estado têm sido generosos com seus prefeitos. Nas sete vezes em que gestores de Joinville, Florianópolis e Blumenau buscaram o segundo mandato, apenas em uma delas ele não venceu a eleição.

Continua depois da publicidade

Upiara Boschi: Vem por aí um verdadeiro prefeiticídio

Em meio à crise política e econômica e com dificuldades para tirar do papel as promessas que os levaram aos cargos em 2012, os prefeitos Udo Döhler (PMDB), Cesar Souza Junior (PSD) e Napoleão Bernardes (PSDB) lutam para não entrar no time minoritário — até agora formado apenas por Carlito Merss, de Joinville.

Rafael Martini: Prefeito de Florianópolis faz tour para apresentar obras

Continua depois da publicidade

O caso de Florianópolis, governada por Cesar Junior, é o que está mais em evidência. A cidade que reelegeu Angela Amin (PP) em 2000 e Dário Berger (PMDB) em 2008, convive há meses com rumores de que o pessedista não vai disputar o segundo mandato. A cúpula do PSD estadual deu ao prefeito um prazo até o final do mês para decidir se encara a disputa. Nos bastidores, já estaria encaminhado um acerto para o partido apoiar Angela Amin.

O prefeito da Capital não retornou os contatos para entrevista. Na quinta-feira, fez um roteiro com jornalistas, vereadores e assessores para mostrar obras de sua gestão.

_ A pressão para que eu concorra está muito grande, mas eu só vou tomar um decisão no final do mês — afirmou o prefeito ao colunista Rafael Martini, presente no roteiro.

Continua depois da publicidade

Em Joinville, cidade que reelegeu Luiz Henrique (PMDB) em 2000, Marco Tebaldi (PSDB) em 2004 e que negou o segundo mandato a Carlito em 2012, o cenário está menos consolidado. Em seu primeiro cargo eletivo, o empresário Udo Döhler aposta na ausência de escândalos de corrupção. O peemedebista enfrenta dificuldades para compor alianças — apenas PSC e PCdoB estão garantidos. Mesmo assim, diz estar confiante.

— O que me anima de prosseguir neste momento é esta é a grande oportunidade que estamos encontrando para enfraquecer o clientelismo político — diz o joinvilense.

Das três maiores cidades do Estado, Blumenau é a que tem o cenário eleitoral mais indefinido. O prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) garante que disputa a reeleição, mas também enfrenta dificuldades na conquista de apoios. Depois de furar a polarização entre os candidatos endossados pelo ex-prefeitos Décio Lima (PT) e João Paulo Kleinübing (PSD), ambos reeleitos quando ocuparam os cargos, o tucano enfrentou dificuldades de gestão e de consolidação de uma base política.

Continua depois da publicidade

— A reeleição também é a oportunidade de mostrar, com o coração aberto, que o máximo possível foi feito — diz Napoleão.

OS CALOS DOS PREFEITOS

Cesar Souza Junior (PSD), Florianópolis

— Diálogo turbulento com entidades

Em diversos momentos, Cesar Junior teve como principais adversários entidades da sociedade civil. Durante a discussão do novo Plano Diretor, foi bombardeado por construtores e ambientalistas.

— Aumento do IPTU

O prefeito passou mais de um ano brigando na Justiça para conseguir aumentar o IPTU, em um episódio considerado divisor de águas na popularidade da gestão. Embora o reajuste médio fosse de 30%, havia casos em que o aumento superava 100%. Depois de muitas liminares, o Tribunal de Justiça julgou o aumento legal, mas deu um teto de 50% para os novos valores. Cesar Junior diz que sem esse reajuste, hoje não estaria conseguindo pagar os salários em dia.

Continua depois da publicidade

— Obras empacadas na mobilidade

Mobilidade urbana foi um dos eixos da campanha de Cesar Junior, mas pouca coisa saiu do papel. A licitação do transporte coletivo trouxe poucos efeitos visíveis à população. Sem recursos próprios, o prefeito apostou nas obras em parceria com os governos estadual e federal, mas a crise econômica levou a atrasos — especialmente no prometido anel viário ligando o Centro à UFSC.

— Operação Ave de Rapina

O prefeito não foi indiciado pela Polícia Federal na operação que atingiu em cheio a atuação da Câmara de Vereadores e diversos órgãos da administração. Mas o episódio, no final de 2013, derretou sua base de apoio parlamentar. Desde então, Cesar Junior enfrentou dificuldades para reconquistar maioria e aprovar projetos importantes – com a tentativa de vender a dívida pública.

Udo Döhler (PMDB), Joinville

— Saúde

As dificuldades na área da saúde pautaram as últimas duas eleições para prefeito de Joinville e continuam em evidência. O MP-SC chegou a pedir à Câmara de Vereadores que abrisse uma comissão processante para afastar Udo Döhler do cargo por ter, de acordo com a promotora local, ignorado decisões liminares que determinavam que fossem zeradas filas de cirurgias. O peemedebista reclama que utiliza 40% da arrecadação com a área, quando a obrigação constitucional é 15%.

Continua depois da publicidade

— Asfaltamento de ruas

Uma das principais promessas de Udo na campanha eleitoral foi o asfaltamento de 300 quilômetros de ruas no município. O próprio prefeito admite que vai ficar muito longe da meta estimada quando candidato. Alega que desconhecia a situação das contas do município e que priorizou pagamento de fornecedores.

— Servidores

Udo Döhler enfrentou uma relação tensa com os servidores. Enfrentou greves em 2013 (12 dias) e 2014 (24 dias), além da paralisação dos funcionários do Hospital São José em 2015.

— Apoio político frágil

Até por questões de estilo, o prefeito tem dificuldades no diálogo com os vereadores. Mantém maioria fluída na Câmara dos Vereadores, mas não suficiente para aprovar projetos estruturantes. Um exemplo claro foi a votação do pedido do MP-SC para abertura de comissão processante. Dos 19 vereadores, 11 votaram pela abertura. Eram necessários 13 para que a comissão fosse instalada.

Continua depois da publicidade

Napoleão Bernardes (PSDB), Blumenau

— O impasse da ponte

Quando João Paulo Kleinübing (PSD) saiu do governo deixou pronto um projeto para construção de uma nova ponte sobre o Rio Itajaí-Açu, no centro da cidade. Napoleão Bernardes (PSDB) contrariou o projeto durante a campanha eleitoral e apresentou um novo traçado. Ao vencer, ignorou que o primeiro projeto já tinha sido aprovado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e estava à espera de licitação e licenciamento ambiental. Tentou uma nova aprovação do BID, mas não teve êxito. Agora está com duas frentes de atuação, uma com cada traçado.

— Manutenção

A dificuldade financeira está exposta na falta de manutenção da cidade, principalmente na limpeza e na roçada das vias públicas. Priorizou saúde e educação.

— A troca da empresa de ônibus

Herdou o dilema do transporte coletivo na cidade. Durante a gestão do PSDB, a população viveu semanas sem o transporte coletivo por conta da falência do Consórcio Siga. É criticado por demorar demais oara rescindir o contrato de concessão e agora quem atua na cidade é uma empresa contratada temporariamente, sem licitação. As empresas que integravam o consórcio atribuem ao prefeito boa parte do prejuízo que tiveram por conta da determinação da tarifa abaixo do reivindicado. Agora trabalha para lançar um novo edital de concessão.

Continua depois da publicidade

— Fama de indeciso

A postura de Napoleão na prefeitura em meio aos conflitos fez com que ganhasse da oposição a pecha de indeciso. A fama foi absorvida por boa parte do eleitorado, de acordo com pesquisas internas feitas pelos partidos.