O jeito discreto do fundador da revista Newsweek Thomas John Cardell Martyn aliado à simplicidade das pessoas que o cercavam em Agrolândia, no Alto Vale de Itajaí em Santa Catarina, fizeram com que o histórico dele na cidade passasse quase que despercebido. O alfaiate Afonso Stahnke, cunhado do britânico, conta que Martyn tinha um amigo mais próximo, que era um farmacêutico alemão, mas já falecido na cidade.
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As anotações e livros os quais o fundador da Newsweek se debruçava noites inteiras foram queimados logo após a morte dele por seus familiares, que não perceberam a importância daqueles registros.
Stahnke lembra que escrever era a grande paixão do americano. Martyn era um homem que entrava noite adentro com a caneta no papel, depois datilografava na máquina de escrever. Boa parte do que produzia era encaminhada por cartas para fora do Brasil. Mas Stahnke não conhecia o conteúdo e nem para quem eram encaminhadas as correspondências.

Stahnke viveu junto com Martyn logo após a morte de sua irmã. O britânico não comentava seu passado com os cunhados. Não gostava de tocar no assunto. O pouco que Stahnke sabe veio de alguns comentários de sua irmã Mary Irmand.
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– Ele foi piloto na primeira Guerra Mundial (entre 1914 e 1918). Mas foi derrubado e mutilado. Tinha uma perna mecânica e um monte de platina pelo corpo. Ele tinha mulher e filho lá, mas parece que a família o rejeitou por causa do estado que ficou e veio para cá. Uma vez duas netas vieram visitar ele – comentou Stahnke.
Mas antes de vir para o Brasil, Martyn se tornou jornalista. Trabalhou em 1923 na recém-criada Revista Time como editor de notícias internacionais e 10 anos depois fundou a Newsweek. Mais tarde, em terras tupiniquins, o prestígio de ser o criador do semanário não era percebido na pequena Agrolândia.
– Às vezes, Tomy falava sobre a Newsweek. Mas, na nossa ignorância, não dávamos muita importância. Não tínhamos conhecimento do tamanho do jornal – diz Stahnke.
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O cunhado do britânico lembra que Mary e Martyn eram um casal apaixonado. E quando Mary estava para falecer, pediu para que Stahnke fosse morar com o marido dela na casa que compraram para viver na cidade.
– Ele era uma pessoa bem fechada, usava um português bem na gramática, e a gente aqui meio misturado com o alemão, não entendíamos muito. Ele era bem formal, rígido com horários, mas sempre ajudava, até financeiramente, as pessoas que precisavam – confessa.
Depois que Mary morreu, Martyn passou os dias sobre seus livros e escritos, apreciando as cachaças brasileiras e fumando seus charutos. Entregava seu carinho para o cão Fipi, ao qual o acompanhava até para dormir. Sua vida no Brasil guardará para sempre um ar de mistério e simplicidade.
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No cemitério da pacata cidade de Agrolândia, no Alto Vale do Itajaí, uma sepultura chama a atenção pelo tamanho de sua lápide em pedra, com mais de um metro de largura. Mas poucos moradores percebem a importância de quem descansa naquele túmulo imponente. Nele está escrito “Thomas John Cardell Martyn”. E logo abaixo: “Founder of Newsweek”, o fundador da segunda maior revista dos Estados Unidos.

– Como ele era mais idoso que minha irmã, acho que Tomy (diminutivo usado de forma carinhosa por Stahnke) quis trazê-la para perto dos familiares antes que ele mesmo morresse. Mas aconteceu de ela sofrer um câncer e ir antes dele – lembra Stank.

Mary morreu em 1973 aos 53 anos e Martyn no ano de 1979, aos 83 anos. Segundo a família, o britânico morreu por complicações respiratórias.
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Newsweek é uma revista de notícias semanal norte-americana publicada na cidade de Nova York e distribuída para os Estados Unidos e também internacionalmente. É a segunda maior revista semanal do país, superada apenas pela revista Time em circulação e ganhos com publicidade. Traz atualidades do mundo e tendências internacionais nas áreas de saúde , tecnologia , ciência , estilo de vida , negócios, política e economia.
Segundo dados publicados na própria Newsweek, o corpo de jornalistas chega ao número de 300 com mais de 3 milhões leitores em 193 países. A partir de 2013, a revista estará disponível exclusivamente em formato digital.
Originalmente chamada de News-Week, ela foi fundada por Thomas J.C. Martyn em 17 de fevereiro de 1933 . Em 1937 , Malcolm Muir tornou-se presidente e editor-chefe. Muir mudou o nome para Newsweek, enfatizando mais a interpretação de histórias, introduzindo colunas assinadas e edições internacionais.
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Ao longo dos anos, foi desenvolvido um vasto material de notícias, de grandes histórias e análises à reviews e comentários. A revista foi comprada pelo Washington Post em 1961. Newsweek é geralmente considerada a mais liberal das três maiores revistas semanais, em estudo feito recentemente pela UCLA sobre o ponto de vista das revistas norte-americanas.