Responsável por aumentar os níveis de chuva quando atua sobre Santa Catarina, o fenômeno climático El Niño tem 70% de chances de se configurar a partir do fim do inverno e começo da primavera, segundo estimativa do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos. A previsão de intensidade, entretanto, aponta para uma atuação que vai de fraca a moderada.

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Por ser a próxima estação um período tipicamente mais chuvoso na região, a Defesa Civil admite que o segundo semestre será de alerta em Santa Catarina. Prevendo possíveis impactos, o Estado promoveu quinta e sexta-feira, 24 e 25, a primeira edição do workshop sobre a preparação para o enfrentamento de possíveis impactos do El Niño. Estiveram no evento representantes da Defesa Civil dos três estados do Sul, de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.

Meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Anna Bárbara Coutinho de Melo, palestrou no workshop sobre a atual condição do fenômeno, que começou a se formar a partir de abril no Pacífico.

Com a redução no aquecimento das águas subsuperficiais nas últimas semanas, a previsão de uma atuação rigorosa diminuiu, fazendo com o El Niño agora possa ter impactos menores no clima de Santa Carina. O fenômeno ocorre, dentre outras variações climáticas, a partir do aquecimento das águas do oceano Pacífico.

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– Ele está em pleno desenvolvimento, só que a gente observa que há uma tendência que ele não fique tão forte como a gente esperava. Não sabemos se vai se estabelecer mais próximo do Pacífico Leste ou na parte mais Central do Oceano. Se ele ficar na parte Central então não causa tanto excesso de chuva – explicou a especialista, lembrando que o aumento de chuvas também pode ocorrer também por outras interferências climáticas.

Ação de Resposta depende das previsões

A Defesa Civil catarinense trabalha para que, na ocorrência do El Niño, as estruturas de resposta estejam prontas para os impactos. Para isso, o secretário da Defesa Civil estadual, Rodrigo Moratelli, afirma que o trabalho nos próximos meses será de monitoramento.

– Nossa preocupação é a assertividade nas previsões. Se não for dessa forma, não conseguimos saber como devemos atuar – declarou o secretário da Defesa Civil.

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Um dos palestrantes do evento foi o comandante do Corpo de Bombeiros do Estado, coronel Marcos de Oliveira. Ele explicou que a corporação atua desde 2013 com a recuperação de áreas atingidas, além do socorro:

– Tentamos fazer a volta à normalidade no tempo mais breve possível – afirmou.

ENTREVISTA

Adriano Pereira, Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil

“Temos que nos preparar melhor”

Presente no workshop promovido pelo Estado na sexta-feira, 25, o secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil admitiu que o momento é de aperfeiçoamento do órgão no país. Ao DC, ele falou sobre a evolução da Defesa Civil e a necessidade da desburocratização envolvendo recursos para recuperação de cidades atingidas por catástrofes climáticas.

Diário Catarinense – O senhor fala em tornar mais eficientes os repasses para os municípios atingidos. Como o senhor percebeu isso?

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Adriano Pereira – Foi criada uma legislação que facilitou burocraticamente a parte do governo remeter recursos, transferir para auxiliar os estados e municípios atingidos por desastres climatológicos. Essa facilidade está prevista em lei, mas não houve um aprofundamento na legislação da área de controle. Então, em uma obra de Defesa Civil, o recurso chega mais facilmente, mas, depois da primeira parcela, a burocracia ainda é a mesma, como se fosse uma obra não emergencial. Temos uma série de legislações que precisamos enquadrar. A obra emergencial tem um tratamento diferenciado daquilo que é previsto para uma obra planejada. A Defesa Civil avançou muito, mas começou a encontrar outros problemas. Precisamos conseguir que os recursos sejam efetivados com menos burocracia e dividir mais a responsabilidade. Para qualquer obra, tenho de mandar especialista para vitorias e avaliações. E a maioria das obras são de pequeno porte, mas dão o mesmo trabalho.

DC – O que o senhor pensa em colocar em prática diante da previsão de passagem do El Niño?

Pereira – Temos de melhorar o funcionamento da Defesa Civil, o apoio que o governo federal fornece aos estados e aos municípios. Não na qualidade, que é boa, mas na melhoria da prontidão. Nosso foco tem que ser na prevenção, que começa com a previsão climatológica. Se tivermos um sistema eficiente, conseguimos informar a população, dar alerta e retirar antes que ocorra um cheia, por exemplo. Essa parte precisa passar por um aperfeiçoamento, criando contato ainda mais forte entre órgãos federais e estaduais. Temos estados que têm órgãos de meteorologia muito preparados. SC é um deles, está instalando radares. Precisamos fazer com que o sistema faça uma integração melhor, discutir quem vai dar o alerta, o alarme. Temos também de pensar na parte de socorro à população atingida. Será que as condições em que recebemos essas pessoas que saem de casa e vão conviver um tempo no abrigo estão sendo recebidas com a dignidade necessária?

DC – O senhor falou em sua palestra no aperfeiçoamento da chegada dos materiais para os Estados. Como o senhor pretende realizar isso?

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Pereira – Já tínhamos um estoque estratégico colocado em cinco depósitos gerenciados pela Secretaria. Estamos passando agora a não ter esses depósitos e a fazer esse depósito no próprio estado, entregando o material à Defesa Civil estadual. Isso é para que o material possa chegar ao atingido de forma mais rápida. Tentamos eliminar esse tempo de transporte até o estado receber e distribuir aos municípios. Estamos criando, inclusive, a possibilidade de o estado e o município aderirem à licitação e complementar o pedido de material necessário. O governo federal deve complementar a ação de estados e municípios.

DC – Santa Catarina avançou muito após a catástrofe de 2008. Como multiplicar a experiência para outros estados?

Pereira – Não é só Santa Catarina. O Rio de Janeiro tem uma estrutura que vem crescendo, assim como São Paulo. A verdade é que não tínhamos a cultura de Defesa Civil. A partir de alguns desastres, isso foi muito forte em Santa Catarina, está se criando essa consciência nacional. Certo é que os desastres estão sendo mais intensos e mais frequentes. Tivemos diversos eventos em sete meses em todo país. Então, temos de nos preparar melhor. Todos os estados estão trabalhando para melhorar o atendimento. Santa Catarina é um grande exemplo, até porque sofreu muito. Tanto na prevenção quanto no socorro e na assistência às vítimas, o Brasil está melhorando. Isso é muito bom.

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