A crise econômica brasileira ganhou papel de destaque no último dia da Expogestão 2016, que ocorre no Complexo Expoville, em Joinville. Para discutir o assunto, foram convidados dois especialistas: Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, e Samuel Pessôa, chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV).

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Frischtak foi o primeiro a falar. Na avaliação dele, o Brasil está na antessala de uma crise social e deu subsídios para essa constatação. Segundo Frischtak, as pessoas que perderam o emprego ainda sobrevivem às custas das rescisões contratuais e, quando essa “sobra” acabar, a tendência é haver um agravamento da crise. Para que isso não ocorra, ele considera importante o futuro governo de Michel Temer – já que considera o afastamento da presidente Dilma Rousseff como certo – tomar as decisões acertadas.

– O futuro governo Temer não terá margem para erros. Temos hoje uma crise econômica sem precedentes por causa de uma sequência inacreditável de erros cometidos de maneira irresponsável. O País está quebrado pelas decisões erradas tomadas entre 2012 e 2014 – afirmou.

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Para o presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, a economia brasileira está no “fio da navalha” e o governo carrega uma bomba de enormes proporções, que é a questão fiscal. Frischtak lembrou que o buraco no orçamento do País hoje é de quase 10% do PIB e isso enfraquece os fundamentos da economia e leva ao colapso de confiança.

– Temos uma dívida pública que está explodindo neste momento e que pode chegar a 90% do PIB até 2018. Isso é muito grave. Para estabilizar a dívida, o governo terá de fazer um ajuste de R$ 300 bilhões.

Samuel Pessôa também criticou as decisões do governo Dilma para deixar o País na iminência de um estado de insolvência, que é quando você não pode pagar a dívida contraída. Para ele, o crescimento dos gastos públicos nos últimos anos, associado à legislação vigente e ao número crescente de programas sociais deixaram a máquina pública deficitária.

Mas isso não foi tudo, disse Pessôa. Segundo ele, entre 1999 e 2010, a taxa de receita no Brasil cresceu sempre o dobro do PIB, o que, de certa forma, entorpeceu a sociedade e o setor público. Quando a receita voltou ao normal, ou seja, com taxas parecidas ao do PIB, o País começou a sentir dificuldades. Aí, o governo tratou de esconder o problema, criando os programas refinanciamentos de impostos (Refis), e ampliou a gravidade da crise, corroendo a atividade tributária.

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– Durante quatro anos (2010 a 2014), varremos o problema para debaixo do tapete. Por isso, temos essa crise fiscal aguda -sustentou.

Apesar dos sinais negativos, com taxas altas de desemprego e recessão, Pessôa acredita em uma melhora a partir de 2017. Conforme o economista, a expectativa é de que a inflação comece diminuir no próximo ano, o que resultaria na queda da Taxa Selic e a volta dos investimentos. Mas isso tudo, diz ele, está atrelado a mudança de governo.

– Essa crise foi produzida por nós mesmos, é uma crise do Estado brasileiro. Então, se fizermos os ajustes necessários e o mercado não se preocupar com a explosão da dívida pública, que é inevitável, há condições de voltar a crescer. A linha divisória será delimitada pelo Temer, e ele vai precisar do apoio do Congresso para aprovar medidas drásticas e resolver os problemas estruturais e fiscais do País – completou.