Uma tarde de lembranças, choros silenciosos e abraços demorados. Às 17h30min deste sábado, foi exibido pela primeira vez, o documentário Janeiro 27, dirigido por Luiz Alberto Cassol e Paulo Nascimento e produzido pelo ator Leonardo Machado durante a programação do I Congresso Internacional Novos Caminhos – A vida em Transformação.
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A solidariedade em cada gesto percorreu o salão de atos do campus I do Centro Universitário Franciscano (Unifra). Familiares, amigos e sobreviventes da tragédia de Santa Maria assistiram ao filme que teve, em média, uma hora de duração.
A opinião de quem assistiu
_ Gostei do que vi, foi sensível e nada pesado. Isso vai nos dar ainda mais força e ajudar alguns pais que precisam desse apoio e mal conseguiram estar aqui hoje.
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Jeneci Bicca de Oliveira, 49 anos, fiscal de lojas e mãe de uma das vítimas da tragédia de Santa Maria
_O filme traduziu a própria realidade: a de que nunca irá passar e deve ser uma luta constante. Enquanto assistia, eu relembrei tudo que ocorreu no dia, da minha situação e das minhas amigas. Foram 242 pessoas perdidas por irresponsabilidade e pela falta de fiscalização. O documentário vai nos ajudar ainda a seguir nesta luta!
Kelen Ferreira, 20 anos, estudante de terapia ocupacional e sobrevivente da tragédia.
_Cheguei de Santo André (SP) dia 24 para as homenagens aqui em Santa Maria. Eu não tinha nem ideia de como seria e fiquei com receio que fossem mostrar cenas da tragédia, mas foi tudo muito emocionante, principalmente assistindo ao lado de todas as pessoas envolvidas.
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Paulo Tadeu Nunes de Carvalho, 63 anos, aposentado e pai de uma das vítimas
_O documentário é uma forma de atingir outras pessoas, pois essa não é mais uma causa pessoal, mas sim uma tentativa de mudar as coisas. Quando lançaram o trailer, em 24 horas foram mais de 30 mil visualizações e espero que mais pessoas assistam. As imagens são tranquilas e emocionantes. O Cassol foi muito ético!
Sérgio da Silva, 50 anos, Militar e pai de uma das vítimas
Um filme que não precisaria ser produzido
Esse é um filme que a gente não gostaria de ter feito. Tem que assistir, assimilar, tomar um soco no estômago. O documentário quer ser parcial sim. O nosso lado é o lado das vítimas _ diz o produtor Luiz Alberto Cassol.
O documentário não aborda questões judiciais, nem recorre a imagens do incidente para recontar a tragédia: são os depoimentos puros de pais, mães, primos e sobreviventes que fazem com que os espectadores revivam aquele dia e a vejam a luta dos familiares para que o incêndio não caia no esquecimento.
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Todos os envolvidos na produção do filme, que ainda não está 100% concluído, trabalharam de forma voluntária. Cassol ainda vai incluir mais 10 minutos com quatro depoimentos de familiares de tragédias semelhantes. Dois da discoteca República Cromañon, em 2004, na cidade de Buenos Aires, na Argentina, e dois da boate The Station, em 2003, em West Warwick, nos Estados Unidos.
Segundo Cassol, diversas entidades já solicitaram a aquisição do Janeiro 27, porém a reprodução e distribuição do material ainda não está definida e que essa será uma decisão conjuta entre os produtores do documentário e a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM). Ele adiantou, porém, que o material deve ser exibido em festivais de Direitos Humanos.
Outras atividades culturais
Também estarão em exposição, durante todos os dias do Congresso, trabalhos da artista ambiental Lia Sartori e a série fotográfica “Luto no Tapume: A tragédia na boate Kiss”, de Antonio F. Neto e Laura Fabrício.
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_ Para o tapume se deslocou a energia da alma coletiva para nele se edificar um olhar de permanência, como lembrança dos que se foram. E esse olhar criou a produção de escrituras que possibilitam o luto, as formas de manifestar a permanência bem como a ausência de entes queridos _ escrevem os autores.