O número de homicídios registrados neste ano em São Francisco do Sul mais do que dobrou em relação a 2015. O assassinato de um homem de 30 anos na madrugada da última quinta-feira foi o 34º registrado este ano. Em 2015, foram 16, de acordo com a Polícia Militar. O indicador já havia superado o número de assassinatos do ano passado no primeiro semestre deste ano, quando foram registrados 18 mortes na cidade do norte catarinense.
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A Polícia Civil diz que dos 34 homicídios deste ano, 11 envolvidos já foram presos. A média de idade das vítimas, de acordo com a PM, é de 24 anos. A maioria são homens de classe média ou baixa, mortos por armas de fogo, como pistola e revólver.
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Nesta quinta-feira, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou que São Francisco receberá o reforço de 16 novos policiais militares. A novidade, no entanto, é vista com pouco otimismo pela Polícia Militar. O major Jailton Franzoni de Abreu explica que esses novos policiais serão distribuídos em Itapoá, Barra do Sul, Araquari e Garuva. Apenas nove ficarão em São Francisco, que hoje tem um efetivo de 54 policiais.
– É uma situação que está fora do nosso alcance. Porque as coisas acontecem onde a viatura não vai. Eles aguardam a viatura passar, eles não deixam suspeitas. Temos um problema sério de falta de efetivo. Estamos colocando o máximo de policiais na rua”, diz o major, reforçando que a maioria dos homicídios ocorrem por brigas motivadas pelo tráfico de drogas. Um dos casos registrados foi de crime passional, em janeiro.
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Jailton diz que a falta de efetivo fez com que a PM criasse alternativas com a comunidade, Ministério Público, Judiciário e Polícia Civil. Ele conta que a investigação na cidade foi reforçada e pontos de tráfico de droga estão sendo fechados.
– São batidas em bares, estabelecimentos com suspeitas. Muitos pontos (de venda de droga) foram fechados, recolhemos armas e produtos de furto, como aparelhos eletrônicos. Em acordo com o Judiciário, a gente faz a devolução para os proprietários. Quando se confirma que é uma boca de fumo, nós fechamos . É uma medida preventiva, mas não é suficiente, em virtude da falta de efetivo – disse Jailton.
O policial diz que a população está preocupada, mas entende a situação da corporação. Para o ano que vem, ele fala que a tendência é que o número de mortes violentas diminua por causa do acréscimo do efetivo e das novas alternativas.
– A segurança pública não se faz só com a Polícia Militar. Todo mundo faz parte da segurança pública. A sociedade civil organizada está cobrando das autoridades em Florianópolis para que esse quadro mude. Estamos implantando a rede de vizinhos, onde cada um vigia a casa do outro – diz.
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Assassinatos em São Francisco do Sul já superam número total de 2015
Já o delegado da Polícia Civil de São Francisco do Sul, Marcel Araújo de Oliveira, não acredita que o número de homicídios vá diminuir. Pelo menos enquanto a prevenção em relação ao crime organizado, principalmente sobre o tráfico de drogas, não for intensificada. Marcel acredita que atualmente a prevenção em relação ao tráfico de drogas tem sido falha e que ela precisa ser trabalhada num sentido mais amplo. Para isso, ele cita a educação, o saneamento básico e o emprego.
– A prevenção deve ser entendida como segurança pública. É a prevenção que a Constituição definiu e que deve ser adotada. Infelizmente, estamos virando as costas para a prevenção. Enquanto não se voltar de forma eficiente para isso, os números serão cada vez maiores. Ninguém vai conseguir impedir uma pessoa irada de cometer um crime, mas é mais do que necessário que se modifique o pensamento sobre a problemática da drogas. Senão, ano vem serão 50, depois 70 e em 2019 serão 100 – diz.
De acordo com o delegado, dos 34 homicídios, a Polícia Civil já prendeu 11 pessoas este ano. Outros 12 homicídios já tem autoria determinada, ou seja, já há pessoas indicadas como autores, mas ainda faltam elementos para comprovação e prisão. O número de presos pela Polícia corresponde a 32% do total dos crimes, considerando um autor para cada homicídio. O indicador de autoria determinada corresponde a 35%. Juntos, estes dois indicadores correspondem a 67% dos casos. Isso só aconteceu, segundo o delegado, depois de investigação e de apoio da comunidade através de denúncias anônimas ou de pessoas que procuraram a delegacia pessoalmente.
– À Polícia Civil cabe apurar e temos feito isso na medida do possível – defende o delegado, que garante que nenhuma das mortes em São Francisco do Sul podem ser apontadas como latrocínio, o que o preocuparia ainda mais.
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Sobre a possibilidade de articulação de facções criminosas, o delegado Marcel afirma que o “crime organizado não tem nome”.
– Como autoridade policial eu não reconheço existência de grupos com nomes e siglas. Nem aqui e nem em lugar em nenhum. O que existem são pessoas que atuam no tráfico e acabam resolvendo as suas situações muitas vezes com a violência extrema. Alguns deles dizem que são de algum grupo, outros dizem que não são. Eu sei quem tem criminosos e redes criminosas, isso eu tenho certeza. Eles se articulam para facilitar o cometimento do crime. Assim como as padarias se articulam para vender pão, as concessionárias para vender carros, os vendedores de drogas também se articulam. Infelizmente estamos falando de uma atividade criminosa – diz.