Coração de mãe não se engana. Dona Margarida Felisberto, 56 anos, tem certeza disso. Hoje, faz exatamente uma década que ela se agarra à fé e à intuição materna para ainda olhar pela janela à espera do filho Alexandre Felisberto, o Chiclete, que desapareceu em Balneário Barra do Sul pouco antes de completar seis anos. Era o caçula dos cinco filhos criados por ela e pelo padrasto, Wilson de Almeida, 48.

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Desde o dia 22 de agosto de 2004, muita coisa mudou na pequena comunidade do bairro Conquista, a poucos quilômetros do Centro de Barra do Sul. Campinhos de futebol da vizinhança perderam lugar para novos imóveis, a rua principal ganhou calçamento e mais moradores. Mas o tempo não se encarregou de aliviar o coração de Margarida. Aquele domingo marcado pelo sumiço do filho nunca terminou.

_ A dor da morte a gente supera, mas essa eu nunca vou vencer. Não tenho uma cruz para deixar flores. Fico em casa, sozinha, e penso nele. Dá uma tristeza no coração, sabe? Não mudo de lugar porque, se for viver em outra casa, a tristeza vai junto comigo _ desabafa.

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Versões sobre o que pode ter tirado o menino com fama de “danado” dos braços da mãe foram contadas e recontadas a cada esquina do bairro. A mais convincente, que ganhou atenção da investigação na época, indica que Alexandre e um primo de nove anos foram abordados por um desconhecido.

O homem teria convencido apenas Alexandre a dar uma volta com ele para comprar balas, sumindo com o menino. Com base nessa hipótese, a polícia chegou a pedir a prisão de um suspeito, mas a Justiça não aceitou e cobrou mais investigações. O caso, então, voltou à estaca zero e não avançou mais.

Uma técnica de progressão de idade permitiu à Polícia Civil elaborar uma imagem de como Alexandre estaria atualmente, prestes a completar 16 anos em outubro. O retrato partiu da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas, na Grande Florianópolis, no ano passado.

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À primeira vista, Margarida não admitiu que o menino já estaria completamente diferente daquela única foto mantida pela família. Mas, ao se dar conta de que ele já seria adolescente e poderia até ajudar nas contas da casa, mudou de ideia.

_ Talvez nem ele reconheça mais a gente. É capaz de até aparecer aqui com netos, já pensou? Acho que eu desmaiava de alegria. Espero e coloco nas mãos de Deus _ diz.

Tem informações que podem ajudar? Disque 181, Polícia Civil.

Delegado defende banco de dados

A criação da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas, em São José, permitiu a centralização dos principais casos de desaparecimento do Estado em uma única DP desde o ano passado. Assim, a investigação do desaparecimento de Alexandre Felisberto ganhou novo fôlego.

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Testemunhas foram ouvidas novamente, informações contraditórias foram cruzadas, além do trabalho de progressão da imagem de Alexandre, mas nada que chegasse perto de apontar o paradeiro do menino. Na avaliação do delegado Wanderley Redondo, o tempo trabalhou contra a apuração.

_ Muitos não se lembram, outros às vezes omitem alguma informação. Há contradições _ diz.

O que poderia ter dado outro rumo às investigações seria uma resposta mais imediata ao sumiço do menino, seja por meio de interceptações telefônicas e uso de cães farejadores, por exemplo. Naquele tempo, observa Redondo, era comum a suposição inicial de que a criança logo apareceria.

Hoje, conforme ele, a criação de um banco nacional de dados compartilhados poderia revolucionar os métodos. Há projetos, observa, que buscam tornar obrigatório o registro de impressões digitais de crianças e adolescentes, mas ainda sem efeitos práticos.

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