Geisa de Oliveira Malinovski, 27, acorda todos os dias às 5h15. Vai ao ponto e pega o ônibus da linha Chico de Paula, que sai às 6h15 do ponto inicial. Às 6h45, chega ao local de trabalho, no bairro Jaraguá Esquerdo. E aguarda por meia hora para começar suas funções na fábrica de cartonagem, às 7h15. O horário foi combinado com os patrões: enquanto as colegas começam às 7h30, Geisa antecipa alguns minutos para poder sair um pouco mais cedo, às 17 horas. Só assim é possível conciliar sua agenda diária com o horário do ônibus que a leva de volta para casa: sair às 17 horas do trabalho, pegar o ônibus até o Centro, depois embarcar no coletivo das 17h30. Se há um imprevisto e esse ônibus é perdido, a espera é longa: são mais duas horas até o próximo carro da linha, que sai às 19 horas.
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:: Preço da passagem aumenta para R$ 3,35 a partir de domingo ::
Atender a todas as necessidades da população e tornar o uso do transporte público cada vez mais atraente são desafios de longo prazo para a administração pública. Algumas bases já foram lançadas. Para o diretor de Trânsito da Prefeitura de Jaraguá do Sul, Rogério Luiz Kumlehn, confiabilidade é a palavra que deve determinar tanto a satisfação dos atuais usuários quanto a adesão de novos passageiros. A expectativa de melhorias reside no Plano de Mobilidade Urbana, estudo que está sendo realizado e deve indicar as características atuais e medidas futuras para todo o trânsito na cidade.
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– Queremos um novo sistema de transporte _ defende a supervisora de transporte público da diretoria de Trânsito, Thaís Liane Henning.
A ideia é traçar um novo desenho desse sistema na cidade, incluindo características como hierarquização de linhas (manter linhas principais e alimentadoras secundárias), mini terminais e melhorias na integração de linhas. A empresa Urbitec, licitada para a realização do plano, já começou a fase de pesquisa. Apesar de as informações sobre o transporte público fazerem parte do plano como um todo, foi acertado que esses dados serão entregues prioritariamente pela empresa, de forma a embasar o edital de licitação para o transporte público jaraguaense, que será lançado até o fim deste ano. A última licitação feita para contratação da atual empresa, a Canarinho, é de 1996. Apesar de aditivos no contrato, o documento é considerado um entrave para melhorias mais profundas.
– O contrato atual é fraco e a administração pública tem pouco poder jurídico e técnico de conhecimentos para acompanhar efetivamente o que ocorre _ acrescenta Kumlehn.
O novo contrato deve mudar essa situação. Enquanto isso, outras medidas deram mais poder à Prefeitura. Entre elas, a contratação, no ano passado, de uma empresa que fez auditoria nas planilhas de custos da Canarinho, permitindo ao município compreender melhor os dados apresentados. Outra ação foi a contratação de dois fiscais, que atuam diariamente conferindo o cumprimento de horários, itinerários e outros compromissos da empresa – e notificando-a em caso de descumprimento. A dupla já mostra resultados, porém, Kumlehn indica que o ideal seriam oito funcionários no cargo, atendendo separadamente diversas modalidades do trânsito.
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Desafios do poder público
Para elaborar o novo edital, foi criada a Comissão Especial para Elaboração do Edital de Licitação, com funcionários municipais de diversas pastas: um procurador, um membro da Controladoria, dois membros do Urbanismo, um da licitação, um do Gabinete do Prefeito e um do Instituto Jourdan. É esta a equipe que deve indicar os novos termos para o transporte municipal, embasados pelo estudo do Plano de Mobilidade.
– Organização das linhas. Hoje, a cidade conta com 23 linhas, porém mais de 400 itinerários (percursos). Só na linha de Nereu Ramos, por exemplo, são 84 itinerários. A supervisora de transporte público da diretoria de Trânsito, Thaís Liane Henning, explica que essa situação foi criada por causa de “pedidos especiais” feitos ao longo dos anos, solicitando que os ônibus passassem em ruas específicas. Do ponto de vista operacional, porém, a quantidade de percursos pode ser dispendiosa. Unificar percursos é uma forma de otimizar recursos.
– Diminuir a quilometragem morta (quilômetros rodados sem passageiros). Hoje, dos 464 mil quilômetros rodados por mês, 22 mil são de quilometragem morta. A readequação das linhas deve otimizar o uso da frota, resultando em economia. Pelos estudos já feitos, a reorganização do sistema já seria suficiente, não sendo necessário aumento da frota.
– Hierarquização das linhas. Hoje, a maioria das linhas saem dos bairros e passam ou têm seu destino final no Centro. Pensar em linhas principais e secundárias pode ser uma forma de otimizar o sistema. O uso de mini terminais nos bairros também seria uma opção, assim como micro-ônibus nas áreas de menor número de passageiros.
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– Criação de um Fundo Municipal de Transporte Público para subsídios. Hoje, não há subsídio municipal ao transporte público. Com o fundo, seria possível a criação de dias de passe livre ou o subsídio à gratuidade: atualmente, 7% dos passageiros não pagam passagem (idosos, por exemplo), 5% tem gratuidade na integração e 7% pagam meia passagem (escolar). O custo da gratuidade é refletido no valor da tarifa e o subsídio poderia resultar em redução na passagem.

Problemas relatados por moradores
– Moradores reclamam da superlotação em horários específicos em algumas linhas, como os de Nereu Ramos e as que passam pelos bairros Rio Cerro 1 e 2, Três Rios do Norte e Centenário nos horários de pico.
– Linhas têm poucos horários nos fins de semana, entre elas: Chico de Paula e Alto da Serra. As linhas Boa Vista, Águas Claras, Madre Paulina, Ribeirão Grande, Tifa Schubert e Centenário não têm horários aos domingos.
– Bairros distantes como Ribeirão Grande e Garibaldi têm poucas opções de horários. No Garibaldi, as linhas passam apenas na via principal e moradores reclamam da distância que tem que ser percorrida até o ponto. Uma opção que pode surgir com o Plano de Mobilidade é a utilização de micro-ônibus em linhas que entrem no interior do bairro.
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Contraponto
Segundo o gerente operacional da Canarinho, Rubens Missfeldt, o aumento de horários para linhas de bairros rurais não se justifica, já que a demanda é baixa. Ele acrescenta que hoje as linhas desses bairros já operam com déficit, pois o número de passageiros não cobre os custos do translado. Ele também afirma que o número de passageiros é controlado constantemente e quando há necessidade de novos horários, o pedido é feito à Prefeitura.
Missfeldt argumenta que as superlotações ocorreriam porque passageiros optam por embarcar no mesmo coletivo, ao invés de distribuírem-se nos carros diferentes que circulam nos horários de pico (que saem do ponto inicial com intervalos de dez a quinze minutos). Ele ainda afirma que horários com real superlotação ocorrem apenas em dias de chuva.
Atualmente, não há previsão de aumento no número de horários ou linhas. Missfeldt também explica que a quantidade de horários depende da frota. Hoje, seriam necessários mais dois ônibus de reserva para que a quantidade fosse ideal. Há 81 ônibus na frota vinculada e nove de reserva. Há exclusividade no contrato, o que significa que esses veículos só podem ser utilizados para as rotas contratadas pela Prefeitura de Jaraguá do Sul. Apesar disso, neste ano a Canarinho já foi notificada, pois um fiscal flagrou um ônibus da frota jaraguaense fazendo uma viagem até Schroeder.
Coletivo é para a maioria
Tanto o diretor de trânsito Rogério Luiz Kumlehn quanto o gerente operacional da Canarinho, Rubens Missfeldt, destacam que muitas das reclamações recebidas por parte de moradores teriam embasamento em pedidos individuais, que não representam a necessidade da maior parte dos usuários. Ao abordar o grande número de linhas da cidade, criado por pedidos de moradores, Kumlehn alerta:
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– Transporte público não é táxi. Temos que fazer o que é melhor para o maior número de pessoas e não atender a situações individuais.
Ele cita como exemplo a extinção de vagas de estacionamento em um dos lados da rua Bernardo Dornbusch para a criação de uma faixa preferencial para o ônibus. Apesar do descontentamento de lojistas, ele garante que a medida beneficia mais pessoas do que prejudica.
Pesquisa realizada em 2011 apontou 75% de satisfação em relação ao transporte público da cidade. Missfeld lembra que sempre há pontos que podem ser melhorados, porém, satisfazer a toda a população seria impossível.
Dados
– A média mensal de passageiros é 750 mil;
– Em pesquisa realizada em 2011 com 974 pessoas apontou que o nível de satisfação ficou em 45% bom; 30% regular; 11% péssimo; 7% ruim e 5% ótimo;
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– A mesma pesquisa apontou que 73% dos passageiros usam o ônibus para trabalho; 11% para escola e saúde; 5% para lazer; e o restante para outros fins;
– 71% dos passageiros são mulheres;
– 53% dos passageiros são de classe C e 23% de classe D;
– Um fator que influi no preço da passagem em Jaraguá do Sul é o horário: para atender aos três turnos das empresas, a Canarinho opera 21 horas por dia, elevando custos.