Assim que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) corrigiu os dados da pesquisa divulgada no dia 27 de março, informando que o porcentual de brasileiros que acreditam que uma mulher que usa roupas curtas merece ser atacada é de 26%, e não de 65%, teve início uma intensa repercussão nas redes sociais e entre integrantes dos movimentos que lutam contra a violência sexual.

Continua depois da publicidade

Leia mais:

Pesquisa errada do Ipea gerou revolta no Brasil e no mundo

Correção do Ipea vira piada na internet

Confira na íntegra a errata do Ipea sobre pesquisa “Tolerância social à violência contra as mulheres”

Continua depois da publicidade

Informada pelo Estado de que os resultados da pesquisa haviam sido alterados, a jornalista Nana Queiroz, criadora do movimento #NãoMereçoSerEstuprada, que convocou mulheres de todo o país a postar fotos nas redes sociais com cartazes repudiando as agressões, foi surpreendida pela notícia.

– Estou surpresa. Mas espero que seja verdade, que eles tenham errado, que o número seja menor. Isso me deixa feliz, não triste – afirmou Nana.

De acordo com a jornalista, a campanha continua, independentemente da mudança nos números. Para ela, “26% ainda é um número enorme, revela um machismo gigantesco”:

– O ideal seria que tivéssemos 0%, 3% – disse Nana.

No Facebook, o movimento Eu Não Mereço Ser Estuprada, criado por Nana, contava com 45,3 mil confirmados até as 20 horas de ontem.

Continua depois da publicidade

A também jornalista Juliana de Faria Kenski, de 29 anos, teme que a alteração nos dados do Ipea possa enfraquecer os movimentos que combatem a violência contra a mulher.

– Tenho medo de como essa correção pode ser usada para tirar a legitimidade da luta contra a violência – afirmou.

Ela é criadora da campanha Chega de Fiu Fiu, contra o assédio sexual em espaços públicos e lançará na segunda-feira um mapa colaborativo em que as vítimas poderão denunciar onde sofreram assédio sexual nas ruas. O mapa poderá ser visto no endereço chegadefiufiu.com.br

A socióloga Bárbara Castro lembra que essa não é a primeira vez que o tema da violência contra a mulher ganha força.

Continua depois da publicidade

– É um assunto que sempre volta à pauta. Aconteceu o mesmo quando foi criada a Lei Maria da Penha, por exemplo. Mas é sempre importante que o tema volte, para debatermos um assunto que não estava sendo discutido. É importante destacar que, desta vez, foram iniciativas individuais, não de grupos organizados – afirma a socióloga.