Uma relação inversa entre o aumento do número de crimes e a diminuição de pessoas para investigá-los. Essa é a situação da Delegacia de Polícia Civil de Gaspar, que perdeu um terço do efetivo em dois anos. Nos últimos 60 dias, quatro aposentadorias comprometeram ainda mais os trabalhos na corporação. O efetivo, que até 2014 era de 21 policiais, agora conta com 14 profissionais – oito agentes, três escrivães, dois delegados e uma psicóloga.

Continua depois da publicidade

A diminuição de um terço da equipe nesse período exigiu a transferência de membros do setor de investigação para áreas como plantão e expediente, prejudicando a apuração dos crimes. O número de inquéritos concluídos pela Polícia Civil em Gaspar caiu de 561 em 2014 para 430 em Gaspar – redução de 23,4% -, uma curva que pode se acentuar com os desligamentos dos últimos meses.

:: Policiais de Blumenau buscam alternativas para combater falta de efetivos na rua

Neste início de ano, casos de roubos a residência foram os que mais exigiram atenção da Polícia Civil. Já os casos com menor violência envolvida passam por um processo mais lento de apuração.

– Vamos pensar em uma linha de produção: se duas pessoas fazem determinada quantidade de peças, 10 fazem muito mais. Procuramos não deixar nada de fora, mas tenho que admitir que se chegam para mim um boletim de ocorrência de furto e outro de homicídio, vou colocar em cima da pilha o de homicídio, que é um crime mais grave – argumenta o delegado do setor de investigações da delegacia de Gaspar, Egídio Maciel Ferrari.

Continua depois da publicidade

:: Leia mais notícias de Segurança

A redução da equipe diminuiu também parte dos serviços. Desde o ano passado, somente as prisões realizadas entre as 13h e 19h são oficializadas na delegacia de Gaspar. Nos demais horários, a Polícia Militar conduz os suspeitos à Central de Plantão Policial, no bairro Garcia, em Blumenau, a 18 quilômetros da delegacia local. A situação aumenta o tempo de deslocamento e espera de policiais militares envolvidos em ocorrências, que chegam a levar de uma até cinco horas para encerrar uma condução e retornar às ruas.

A equipe de agentes e delegados de Gaspar dá apoio aos plantões na central de polícia em Blumenau. Um agente fica de prontidão durante a noite e os fins de semana em Gaspar apenas para atender a população e registrar boletins de ocorrência fora de horário. No entanto, até mesmo esse plantão pode ser interrompido.

– Eventualmente teremos que tomar essa medida drástica de fechar o plantão, mas ainda não batemos o martelo, estamos vendo como vamos organizar o trabalho – detalha o delegado regional da Polícia Civil, Rodrigo Marchetti, sem mencionar prazo para a definição.

OAB vai cobrar mais policiais

Os reflexos da falta de efetivo na delegacia impactam também o trabalho do Ministério Público. A 2ª Promotoria, que atua na área criminal, informa que o tempo de conclusão dos inquéritos que não envolvem réus presos vem ultrapassando a recomendação legal de até 60 dias. Além disso, o tempo maior de duração do levantamento de provas, na avaliação da promotora Chimely Louise de Resenes Marcon, em médio prazo pode elevar o índice de impunidade nos processos.

Continua depois da publicidade

:: Estado recorre da decisão que pede mais policiais em Balneário Camboriú

O pedido de reforço no efetivo é assunto também no Conselho da Comunidade, órgão que acompanha os assuntos da segurança pública, e em outras entidades. A presidente da OAB de Gaspar, Méri Terezinha Zibetti, informa que a entidade pretende enviar um ofício ainda esta semana à Secretaria de Estado de Segurança Pública para reivindicar o envio de mais policiais tanto para a Polícia Civil quanto para a Polícia Militar.

Curso para novos agentes e situação no Vale

Na última semana, o governo do Estado autorizou a nomeação de 486 novos policiais civis aprovados em concurso em 2014. Serão 66 delegados e 420 agentes de polícia que devem ser nomeados em junho. A partir de então eles passarão por um curso de 20 semanas de defesa pessoal e técnicas operacionais na Academia de Polícia Civil, em Florianópolis. A formatura está prevista para novembro e por enquanto não há informações sobre como será a distribuição dos novos agentes por município.

Em Blumenau, a diminuição do efetivo já forçou situações como o fechamento dos plantões na 1ª e 2ª Delegacia de Polícia e extinguiu divisões de investigação. O delegado regional de Blumenau, Rodrigo Marchetti, afirma que a nova turma de agentes traz perspectiva de reforços para toda a região. Além do caso de Gaspar, o delegado aponta como crítica a situação de Ascurra, que atende também os municípios de Apiúna e Rodeio e conta hoje com apenas cinco pessoas – um delegado, um escrivão e três agentes. O plantão no município já foi extinto.

– Essa redução de efetivo de fato cria empecilhos, sobrecarga. É um momento de dificuldade, mas o novo curso dá uma esperança. Temos que aguardar – avalia.

Continua depois da publicidade