Quem esteve na inauguração do Mirante do Boa Vista na última quarta-feira, aniversário de Joinville, pode ter presenciado uma cena bastante comum das pessoas que visitam o local: a de tirar selfies. De costas para a baía da Babitonga, o servidor público Paulo Sérgio Suldóvski era uma dessas pessoas. Ele buscava o melhor ângulo para tirar o autorretrato. Queria aparecer em primeiro plano na imagem e ter a cidade e a baía ao fundo.

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Até aí, nada de muito diferente do que outros visitantes faziam. O inusitado é que Paulo não enxerga absolutamente nada. Mas a dificuldade não o afastou do objetivo. Com a ajuda de um amigo, Paulo conseguiu enquadrar o corpo da forma como queria e tirou a selfie no Mirante.

Mais tarde, ele próprio compartilhou a foto nas redes sociais. A iniciativa de Paulo, que é presidente da Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais (Ajidevi), teve um propósito: o de mostrar às pessoas portadoras da deficiência, ou às que estavam ali naquele momento, de que é possível, sim, uma pessoa cega ter uma vida normal e “contemplar” belas paisagens como a do Mirante do Boa Vista.

– Nunca recebi tantas curtidas no Facebook (risos) como com essa foto. A repercussão foi enorme – diz Paulo.

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Feliz pelo resultado, o presidente da Ajidevi quer agora colocar em prática um outro projeto, que também tem a ver com o Mirante. Trata-se de um áudio que vai descrever todos os detalhes da paisagem para as pessoas que não enxergam subirem até lá. O projeto é desenvolvido pela Ajidevi em parceria com o Ippuj, a Fundação Cultural e a Rádio Joinville Cultural. Quando estiver pronto, o áudio poderá ser baixado nos sites dessas instituições.

– É uma forma de desmistificar a ideia de que pessoa cega é pouco ou nada produtiva. Isso não é verdade. Temos limitações, sim, mas podemos fazer muitas coisas, inclusive tirar selfies. Hoje, já existem celulares e computadores adaptados para isso – reforça Paulo.

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Ajidevi comemora 35 anos neste sábado

Joinville tem atualmente 1.300 cegos e 12.500 pessoas com deficiência visual grave. Deste total, apenas 912 estão associados à Ajidevi. O número mostra que há muitas pessoas sem acompanhamento ou orientações da entidade. Paulo ressalta que o joinvilense pode ajudar as pessoas cegas a terem uma vida relativamente normal promovendo a inclusão social e diminuindo as barreiras.

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– O cego não é uma pessoa incapacitada. Ele pode trabalhar, passear, conhecer novos lugares. Basta querer e contar com a ajuda de alguém – destaca Paulo, que é cego há dez anos devido a um problema genético.

Mas quem diz que isso é um problema para ele? Mesmo sem enxergar, Paulo transmite muita alegria e otimismo. À frente da entidade desde 2014, ele espera reunir mais de 300 pessoas no almoço comemorativo dos 35 anos da Ajidevi que ocorre neste sábado, a partir das 11h30, na rua Jornalista Hilário Müller, no bairro Floresta. Haverá apresentações artísticas e musicais. O ingresso custa R$ 20.