Em 8 de abril de 2016, A Notícia publicou a primeira entrevista de Jony Stassun como presidente do Joinville. Na ocasião, o empresário, hoje com 49 anos, revelava que seus grandes sonhos eram tornar o JEC campeão catarinense e retornar à Série A do Campeonato Brasileiro.

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O título estadual até esteve perto em 2016, mas a Série A passou de sonho a pesadelo.Dois anos depois, em nova entrevista exclusiva, Jony revelou que a falta de preparo do Joinville para enfrentar a Série A pesou na Série B de 2016, que rebaixou o clube para a Série C. Apesar de apontar problemas da época, reconheceu que cometeu erros e deu razão às críticas do torcedor.

O dirigente ainda afirmou não ter confiança de que receberá tudo o que investiu no clube. Segundo ele, a nova gestão não dá a ele segurança em razão dos pedidos de impeachement feitos enquanto alguns dos novos diretores eram apenas conselheiros.

– Sou muito franco e claro: como confiar em pessoas que pediram teu impeachement? – afirmou o cartola.

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Confira a entrevista do agora ex-presidente abaixo:

Qual é o balanço que você faz da sua gestão?

Jony Stassun – Quando eu e o Jurandir (da Silva, vice-presidente) assumimos a direção do clube, nós sabíamos do desafio que iríamos ter em razão da queda da Série A para a Série B, que naturalmente nos causaria uma queda de renda. As rescisões dos atletas da Série A e de outros jogadores também seriam um problema. Só estes custos (de rescisões) somavam uma conta de R$ 7 milhões a longo prazo. Ainda assim, iniciamos o trabalho na Série B com R$ 1 milhão em caixa. Sempre pensamos em pagar os atletas em dia, em manter as contas equilibradas. Mas a queda de recursos, a queda dos sócios, a própria campanha ruim na Série B nos prejudicou bastante.

Sua gestão ficou marcada por muitos pontos negativos. Houve pontos positivos?

Jony Stassun – Conseguimos recuperar a base do Joinville. Melhoramos a questão de alojamentos, trouxemos pessoas especializadas, como o Júnior Gaino, que fez um trabalho muito bom. Captamos jogadores que estavam sem serem aproveitados em grandes clubes. Desenvolvemos e criamos ativos para o clube, como o Madson, o Marlyson, o Janderson, que está lá na base. Demos oportunidades a eles durante a disputa da Primeira Liga no ano passado. Acredito que conseguimos ter 60% dos atletas sendo aqui de Joinville e região, que era algo sobre o qual éramos muito cobrados.

Se pudesse voltar no tempo, você assumiria o Joinville?

Jony Stassun – Eu assumiria porque sabia do desafio que teria pela frente. Quando estava junto com o Nereu (Martinelli, ex-presidente), percebia as dificuldades que teríamos em relação à busca de patrocínios e recursos para o clube. Era patrocinador desde 2011. Depois assumi a parte financeira. Tinha consciência desta dificuldade que é manter a folha em dia. Creio que a coisa ficou difícil após a Série A. Ela exige muito mais do que foi feito. O Joinville não tinha uma estrutura pronta para a Série A. O trabalho não foi ruim, mas se fosse bom, teríamos permanecido. É claro que é difícil competir pela disparidade nas realidades e, em razão disso, acabamos herdando também este problema.

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Você de alguma maneira se sente injustiçado?

Jony Stassun – O futebol mexe muito com as pessoas porque é o esporte número 1. Mexe com o torcedor, com a imprensa que faz o papel dela. Posso dizer que entrei sem experiência de mandatos anteriores e em algum momento eu também fui injusto com as críticas que recebi. Isso tudo acontece porque somos levados pela emoção. Mas entendi que quando você não está dentro do clube, vai ter outra visão. Não me considero injustiçado. O torcedor tem toda razão. Se eu não fosse presidente, estaria do outro lado como conselheiro e também não estaria contente em ver meu clube ir da Série A para a Série C.

Qual foi o maior erro da sua gestão?

Jony Stassun – Acho que o número de contratações. Independentemente de querer buscar o melhor, depois vem a conta, como veio da Série A. Deveríamos ter um cuidado maior, como foi no Catarinense deste ano. O que posso dizer também é que, às vezes, somos criticados porque estamos sozinhos. Mas convites foram feitos para termos apoiadores. Só que o futebol acaba deixando uma imagem de dificuldade, de que você precisa colocar dinheiro, de que haverá exposição. E algumas pessoas têm muito receio disso. Quando a bola entra, tudo fica mais fácil. Do contrário, você estará sujeito a críticas.

O que mais incomodou? Críticas da imprensa, ataques pessoais, o pedido de impeachment do conselho?

Jony Stassun – Essas críticas de pessoas que não aparecem me incomodavam porque também citavam minha empresa e eram situações que não tinham nada a ver com o futebol. Mas do conselho vieram muitas questões de gestão temerosa, impeachement. Existia uma oposição velada, não oficial, mas forte. Procurava argumentar e mostrar que não estava tendo má-fé, que eram situações que aconteceram e vieram até de gestões anteriores. Mas eu nunca critiquei gestões anteriores porque quando assumi, estava ciente disso. Quando você assume, sabe que tem dívida e que vai ter que colocar dinheiro no clube. Mas nas reuniões do conselho surgia algo novo, se criavam fatos para que em todas as reuniões houvesse gente colocando mais lenha na fogueira.

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Como sua família reagiu à tanta rejeição?

Jony Stassun – Quando assumi o clube, conversei bastante com a minha família. Sabia que essas questões, principalmente as críticas, iriam surgir. Isso acabou acontecendo e, infelizmente, precisei até colocar seguranças em minha empresa, na minha residência etc. Mas combinamos que ninguém iria para redes sociais para criticar, defender, debater. Cada ação gera uma reação e, nas redes sociais, gera uma cadeia muito grande. Da parte deles, sempre houve um sentimento de tristeza por não ter dado certo, pelo menos, de se manter na Série B. Houve apreensão também pelas ameaças.

Qual é o montante do recurso investido pelo presidente no clube? Como recuperá-lo?

Jony Stassun –Num montante geral, ultrapassa os R$ 4 milhões. No fim do ano, fiz operações financeiras para garantir alguns valores. Mas alguns empréstimos que fiz em meu nome precisavam ser pagos pela nova diretoria e tive dificuldades para receber. Hoje, essas situações estão resolvidas. Já estou vendo com meus advogados uma forma de receber de forma mensal, em valores menores. Mas o sentimento é que fica, né? Sou muito franco e claro: como confiar pessoas que pediram teu impeachement? Prova foi esta questão financeira, que toda hora eu precisava falar. Lógico que sabemos da situação. Mas, adiantamos os patrocinadores por necessidade. A nova diretoria também fez. Não tem mudança de fórmula, a menos que você venda um atleta.

Você pretende continuar no conselho ou no clube como diretor em outra gestão?

Jony Stassun – Eu vou continuar no conselho. Lógico que vou dar tempo para que a gente possa refletir sobre tudo o que aconteceu. Foi uma experiência muito grande sobre o que vivemos no futebol. O futebol traz muitos relacionamentos e os positivos são maiores do que os negativos. Saio contente por isso. Mas vamos respirar e quando tiver tempo vou voltar à Arena para assistir aos jogos e para não perder esse elo.

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Alguma última mensagem?

Jony Stassun –Independentemente de quem vai tocar o clube, temos que pensar no Joinville. O JEC já deu muitas alegrias ao torcedor. Os períodos são cíclicos e, por algum motivo, após algumas conquistas, às vezes as coisas não acontecem. Acredito que a cidade é muito grande, embora nem todos estejam envolvidos em razão da nossa presença na Série C. É um momento que estamos passando. É algo passageiro. Mas aproveito para agradecer aos patrocinadores que estiveram ao nosso lado. Ao Jurandir (da Silva, vice-presidente) que sempre esteve ao conosco, ao Edcarlos (Natali, ex-superintendente administrativo) e ao Diogo (Amato, ex-diretor de marketing).