Ações ligadas ao clima em Santa Catarina passaram a ser prioridade para os catarinenses principalmente após 2008, quando dezenas de pessoas morreram em deslizamentos no Vale do Itajaí. Nos últimos sete anos, Estado e municípios avançaram na estrutura de prevenção e reação a desastres. Porém, ainda há desafios a serem perseguidos que se baseiam em obras estruturais como barragens e um radar meteorológico. O avanço das construções também esbarra em falta de repasse de verbas, discussões com municípios e licenças ambientais.
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Enquanto o investimento não sai do papel, o Estado enfrenta um período com influência do rigoroso El Niño, apontado por especialistas como um dos mais intensos já registrados. O resultado são pessoas desabrigadas em diversas regiões e uma nova enchente no Vale do Itajaí.
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Nos últimos anos, as perdas financeiras se multiplicaram. No tornado ocorrido em Xanxerê em abril deste ano, foram pelo menos R$ 112 milhões em danos. Mais recentemente, na chuva deste mês de outubro, somente Itajaí teve perda de R$ 50 milhões por conta do fechamento do porto. No Alto Vale, Rio do Sul ainda calcula os prejuízos, que se somam aos R$ 283 milhões calculados na cheia de 2011 e aos R$ 100 milhões da enchente de 2013.
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As perdas vão além das cifras com mortes registradas em função dos efeitos climáticos. Somente nesse último período chuvoso de outubro, quatro pessoas perderam a vida no Estado.
Com cidades levantadas ao redor de rios e ribeirões, o monitoramento e prevenção são fundamentais. O governo tem uma programação de obras que se estende para além de 2020. Parte delas está em fase de projetos e algumas em andamento. Outras sofreram atrasos, como é o caso da sobrelevação da barragem de Taió, que deveria ter ficado pronta em julho deste ano e será inaugurada no começo de 2016.
Coordenador do Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (Ceops), Dirceu Severo avalia que não há como enfrentar o clima diretamente, por isso é importante minimizar os impactos dos desastres com obras e antecipação da previsão. Em Blumenau, o Ceops, que pertence à Universidade Regional de Blumenau (Furb), consegue alertar para determinado nível do Rio Itajaí-Açu com 10 a 12 horas de antecedência.
– Talvez a solução seja conviver com essa situação (da chuva e seus efeitos). Temos que nos preparar para nos adaptarmos às mudanças que vierem. Precisamos de alertas com boa antecedência e melhorar a previsão para que as pessoas possam minimizar os prejuízos.
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Um dos pontos que Severo destaca é que o monitoramento das bacias, como é feito no Rio Itajaí-Açu, deve ser mantido. Isso porque, uma das intenções do Estado é ter uma central de monitoramento em Florianópolis. O coordenador acredita que o trabalho nas bacias deve ser mantido e fortalecido.
Veja as obras prioritárias na área de Defesa Civil em Santa Catarina:
ENTREVISTA | José Cláudio Caramori (PSD)
“Temos que estar preparados para socorrer”
Presidente da Federação Catarinense de Municípios, José Caramori explica a importância de as prefeituras administrarem os recursos para a prevenção e recuperação das cidades.
O quanto é o importante o investimento em prevenção e monitoramento de eventos climáticos?
Sabemos que os cientistas já anunciaram que estamos num corredor dos granizos e ventos fortes, e sabemos que vamos enfrentar muitas situações adversas como enchente, granizo e vendaval. Mais do que nunca precisamos ter o Estado aparelhado em pronta resposta de ocorrência de sinistros. Os municípios têm sido orientados e têm criado estruturas. Estamos evoluindo bastante. Aplaudimos a iniciativa do governo no aumento das barragens no Alto Vale do Itajaí, bem como o radar que funciona em Lontras e outro que deve vir para a região Oeste, que vai ajudar a alertar para que em tempo hábil possamos nos prevenir.
Como os municípios podem evoluir para serem mais eficientes?
Temos que levar em consideração o tamanho da cidades. Um município de 100 mil habitantes é diferente de um de 5 mil. Cada cidade tem que receber informações da Defesa Civil estadual e criar sua estrutura de pronta resposta, agindo de forma integrada. Nessas últimas enchentes, vimos pronta resposta do Estado, até pelo deslocamento de técnicos para ajudar no levantamento de informações. O primeiro a ser feito é proteger as pessoas. Passado isso, o que se precisa num segundo momento é a parte burocrática, com decreto de situação de emergência. Nesse caso é necessário profissionais especialistas. Muitos municípios pequenos não têm esse profissional e aí precisa ter articulação regionalizada. Com certeza temos um longo caminho.
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O maior desafio dos municípios é esse aparelhamento e estruturação da Defesa Civil?
Tudo estoura no município, é mais uma vez a comprovação de que as cidades precisam ter mais recursos. A resposta se torna mais rápida quando o município pode resolver seus problemas locais, sem depender de repasse do Estado e do governo federal. Seria mais fácil se tudo se resolvesse no município.
Os recursos para a recuperação e prevenção têm demorado a chegar?
Lamentavelmente, o país é muito burocrático. É um erro que deve ser corrigido, não pode concentrar na mão do governo federal. Tem que deixar maior parcela com o prefeito. No município fica mais fácil. Temos que estar preparados para socorrer.
Qual região do Estado preocupa mais atualmente?
O que tem nos causado mais apreensão tem sido o Alto Vale, em relação às enchentes, e os vendavais no Oeste.