O leitor que desculpe. A derrota do Brasil para a Inglaterra por 2 a 1, nesta quarta, em Wembley, foi importante, até porque esse foi o primeiro jogo da volta de Felipão ao comando da Seleção Brasileira. Pois mesmo sendo assim significativa a partida, é preciso pedir de novo perdão ao leitor, porque se tornou imperioso começar o texto com o que se deu antes da bola rolar: com o minuto de silêncio.
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GALERIA: Veja fotos da derrota brasileira, nesta quarta, em Londres
Foi um minuto de silêncio em respeito às vítimas do incêndio da boate de Santa Maria, e, acredite, tolerante leitor, foi um minuto de silêncio denso, profundo e compassivo. Os jogadores das duas seleções, com tarjas pretas nos braços, eles estavam perfilados no campo, e nem se moviam. Os torcedores estavam de pé nas arquibancadas. E ninguém falava. Só se ouviam as vozes de alguns radialistas brasileiros, mas logo eles também se calaram e só restou o silêncio, e o silêncio gritou. Foi emocionante. De certa forma, o momento mais emocionante para os brasileiros nos 2ºC do inverno londrino.
Isso tudo porque esse time da reestreia de Felipão na Seleção Brasileira não foi um time de Felipão. Esse time começou a partida alegremente, com três atacantes, entre eles um centroavante que não foi bem um centroavante, já que Luis Fabiano parecia preocupado em voltar um pouquinho até o meio (só um pouquinho) para combater os zagueiros ingleses.
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Até tentou fazer isso, mas não conseguiu. Os outros dois, Neymar e Ronaldinho, os mais habilidosos do time, de quem se esperava magia, esses tentaram burlar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Não podia dar certo.
Não deu.
Com três atacantes confusos lá na frente, o meio ficou frágil. Oscar sacrificou-se jogando como uma espécie de ala pela direita. Os volantes, Paulinho e Ramires, acabaram envolvidos pela inteligente movimentação inglesa, sobretudo do camisa 10, Wayne Rooney. Esse foi o dono do primeiro tempo. Rooney buscava a bola atrás dos volantes brasileiros, tabelava, lançava e corria para se somar ao ataque. Muito chato. Graças a ele, os atacantes ingleses ficavam a todo momento diante das cabeleiras vistosas dos zagueiros do Brasil, zagueiros com nome de artistas, Dante e David Luiz.
As alvíssaras da Inglaterra começaram a se consolidar aos nove minutos, quando Julio César fez uma defesa de Gordon Banks numa cabeçada de Wilshere. Dois minutos depois, Neymar empreendeu um de seus sprints clássicos pela esquerda e passou para Oscar, que chutou por cima.
Aos 17, Ronaldinho deu uma enganchadinha na bola pelo lado esquerdo, na intenção de colocá-la no meio da área. Ela bateu involuntariamente na mão de Wilshere. Não era pênalti, mas o árbitro português Pedro Proença assinalou, talvez por amor à antiga colônia lusa. A torcida vaiou, indignada. Mas Ronaldinho cobrou fraco e o goleiro Joe Hart defendeu.
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Depois disso, a Inglaterra agigantou-se como se o próprio Churchill a estivesse convocando para a glória. Os torcedores cantavam e os jogadores perdiam gols. O perigoso Daniel Welbeck, um negro pernalta muito forte e muito veloz, perdeu aos 21. Glen Johnson chutou forte aos 25 e quase fez. Aos 26, depois de Cahill cometer um lançamento à la Zico, a bola sobrou para Rooney, que chutou no canto e abriu o placar.
O jogo estava surpreendentemente fácil para o English Team. Aos 43, os ingleses voltaram a entoar o God Save The Queen nas arquibancadas e, no gramado, Cahill, patrioticamente, arrancou rumo ao gol brasileiro, fazendo menção de que iria entrar com bola e tudo. Foi interrompido a tempo.
Na segunda etapa, Felipão corrigiu o posicionamento do ataque. Lucas entrou no lugar de Ronaldinho, e então não havia mais ninguém para atrapalhar Neymar. O anêmico Luis Fabiano foi substituído pelo muito mais interessado Fred, e Arouca entrou na vaga de Ramires. Melhorou. Aos dois minutos, Cahill errou na saída de bola, Lucas a retomou e tocou para Fred, que enquadrou o corpo e bateu de esquerda: 1 a 1. Dois minutos depois, em nova saída equivocada da defesa inglesa, Fred quase virou o placar: acertou no travessão.
Mas, depois disso, a Inglaterra valeu-se da famosa fleuma britânica: acalmou-se, reequilibrou a partida e, logo em seguida, retomou o domínio. Aos 10, Julio César praticou grande defesa numa cabeçada de Cahill, mostrando porque vem sendo chamado de “imperador Julio César” no Reino Unido. Aos 14, não conseguiu alcançar um chute perfeito de Frank Lampard: 2 a 1 para a Inglaterra.
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O resultado foi justo. A Inglaterra foi melhor, mais sólida, mais consistente. Parecia até um time de Felipão. Um daqueles antigos times de Felipão.