– Não pude salvá-los… – lamenta Patrick Pelloux, médico e colaborador da Charlie Hebdo, chegou ao jornal minutos depois do ataque que dizimou a redação da revista satírica e, com a voz embargada, deu um depoimento comovente sobre a tragédia.

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Excepcionalmente, Pelloux não participou da reunião de pauta do semanário. Presidente da Associação de Médicos de Emergência da França, assistia na mesma hora, não muito longe do jornal, a uma reunião dedicada a melhorar a coordenação entre os serviços de emergência médica e os bombeiros.

– Estava nesta reunião quando Jean-Luc, o gráfico (do Charlie Hebdo), me ligou e disse: “você tem que vir rápido, atiraram em nós com kalachnikov” – contou Patrick Pelloux, entrevistado por telefone pela AFP.

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– Achei que era uma brincadeira… Mas não era. Quando cheguei, foi assustador – contou, soluçando. O ataque deixou 12 mortos, entre eles oito jornalistas e dois policiais, e onze feridos.

– Chegamos três minutos depois com um coronel dos bombeiros de Paris, que foi heroico, pôs em andamento todo o socorro. E enquanto cuidávamos das vítimas, eles (os assassinos) continuavam matando gente na rua…

– Não pude salvá-los – disse, chorando a morte dos colegas.

Segundo ele, para alguns, “não havia mais nada a fazer porque atiraram na cabeça”.

Feridos apresentaram melhoras nesta quinta-feira

Quanto a Charb, diretor da revista, morto ao lado dos outros cartunistas, Cabu e Wolinski:

– Acho que deve ter se levantado e chamado de imbecis ou sido ríspido, ou tentado tirar suas armas. Na posição em que morreu, estava entrelaçado à cadeira, é como se tivesse sido morto quando estava se levantando. Eu o conheço bem, era meu irmão, e sei que deve ter feito isso.

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Os feridos, entre os quais estão o cartunista Riss e os jornalistas Philippe Lançon e Fabrice Nicolino, estavam melhor na manhã desta quinta-feira, segundo Pelloux.

No estúdio do canal iTélé, Patrick Pelloux contou, ainda, ter ligado para o presidente François Hollande imediatamente após o ataque:

– Liguei para o presidente, ele passou ao telefone em seguida. Disse, “chego já”.

– O presidente quis nos ver quando viu que o jornal tinha dificuldades este verão. Fomos vê-lo. O presidente queria mudar a lei paa que os jornais continuem existindo – disse.

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A solidariedade manifestada desde o atentado “me faz ser otimista”, explicou à AFP o médico e cronista. As “milhares de pessoas” que se manifestaram na quarta-feira e “as palavras de François Hollande, de David Cameron e de Barack Obama são algo muito importante”.

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– As duas coisas que fazem os integristas fugir são a cultura e a liberdade de imprensa. Os países democráticos devem fazê-las viver – disse, acrescentando que o Charlie Hebdo será publicado na próxima quarta-feira, como de hábito.

– Todos temos nossas aflições, nossa dor, nossos medos, mas vamos fazê-lo de toda forma porque a estupidez não vencerá – concluiu.

*AFP

Vídeo mostra terroristas executando policial na saída da sede:

Confira imagens do local do atentado:

*Zero Hora com agências