Sem a persistência de uma papiloscopista de Lages e a comunicação de policiais civis catarinenses e gaúchos, o crime brutal da mulher esquartejada que teve as partes do corpo abandonadas em uma mala em São Joaquim, na Serra catarinense, poderia levar anos para ser elucidado ou até mesmo entrar na lista de nunca descobertos ou impunes.

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Simone Macedo Ramos, papiloscopista com 10 anos de profissão em Lages, passou as duas últimas semanas de intenso trabalho para descobrir a identidade da vítima, a mineira e moradora de Porto Alegre, Cíntia Beatriz Lacerda Glufke, 34 anos.

Durante quase duas semanas, apenas braços, mãos e pernas de um corpo de uma mulher haviam sido localizados pela polícia. A cabeça e o tronco foram ocultados em Porto Alegre pelo autor do crime, conforme divulgaram nesta sexta-feira policiais civis e gaúchos.

A partir da coleta de impressões digitais no corpo, no domingo (dia 9), quando foi encontrada a mala num terreno a 400 metros da rodoviária de São Joaquim, Simone passou a confrontar as digitais de pessoas cadastradas em SC no Instituto Geral de Perícias (IGP) a partir da carteira de identidade – as informações ficam no sistema AFIS (Automated Fingerprint Identification System).

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Hoje, o banco digital de impressões digitais conta com 3,2 milhões de pessoas em SC que fizeram a carteira de identidade ou a segunda via depois de 2005.

Foram analisadas manualmente por Simone 1.391 possíveis pessoas com características próximas, mas em nenhuma deu sinal positivo. O mesmo aconteceu com a análise do prontuário de mais de 30 mulheres desaparecidas em SC e cujas digitais foram comparadas pela profissional.

Desaparecidas do Rio Grande do Sul

O passo seguinte foi a solicitação dos prontuários digitais de outros estados, que enviassem a SC.

Ao mesmo tempo, policiais da Delegacia de Desaparecidos de Florianópolis e policiais civis de São Joaquim pediram à polícia gaúcha a lista de mulheres desaparecidas no Rio Grande do Sul.

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Com os prontuários escaneados e as digitais das desaparecidas do RS enviadas por email ao IGP catarinense, Simone passou a compará-las. Ao todo, foram 44 casos de mulheres sumidas analisadas até que a da moradora de Porto Alegre que estava sumida desse positivo.

Polícia é avisada e localiza autor

A partir da identidade da vítima descoberta por Simone, na terça-feira (18) e repassada à polícia de São Joaquim, o delegado Diego Azevedo e o agente Neto viajaram a Porto Alegre para ouvir os familiares de Cíntia e checar as informações prestadas no boletim de ocorrência, que havia sido feito pelo sogro dela.

No documento, o sogro relatou que da última vez que soube da nora, ela teria um almoço com Vandré Centeno do Carmo, 25 anos, que passou a ser considerado suspeito e depois confessou o crime.

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– Acho que a nossa persistência, o boletim de ocorrência do desaparecimento feito no Rio Grande do Sul e a sintonia entre as forças de segurança foram as peças fundamentais para se chegar a identificação e a elucidação do crime – resume a papiloscopista Simone.

Durante o trabalho, Simone chegou a ir na casa de uma outra mulher que está desaparecida em Lages para coletar impressões digitais dela no quarto como tentativa de fazer a comparação com a do corpo de São Joaquim, pois ela não tinha o prontuário.

– A impressão digital é certeira, não tem nenhuma dúvida. Então não adiantou ocultarem a cabeça achando que não iam descobrir – comentou a papiloscopista.

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Circuito da rodoviária de São Joquim flagrou imagem do suspeito.