A discussão de ciclistas usarem ou não o corredor de ônibus vai muito além do que diz a lei. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, os motoristas, motociclistas e ciclistas não podem usar a faixa da direita, quando ela é exclusiva a determinados tipos de veículos, como os ônibus. Mas em determinadas vias de Blumenau, como a Avenida Martin Luther, ruas São Paulo e Engenheiro Paul Werner, o ciclista não tem outra opção: ou ele vai andar no corredor ou na calçada, onde também é proibido.

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::: Como tornar o trânsito de Blumenau mais respeitoso e amigo da bicicleta

::: O que dizem as leis de trânsito

Segundo o diretor de Trânsito do Seterb, Lúcio Beckhauser, deveria existir calçada compartilhada onde há corredores, mas isso não ocorre na prática:

– Tudo depende do planejamento viário. Mas, em regra, deveria haver espaço para ciclistas onde houver corredor. Eu vejo claramente que a regra não permite ciclistas no espaço exclusivo dos ônibus, mas acho que este debate é salutar e importante ao município.

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É comum ciclistas usarem o corredor como rota alternativa. Douglas Fernando Nunes, 24 anos, é um deles. Ele pedala cerca de 70 quilômetros por dia e conta com a boa vontade do motorista para dividir a pista com os ônibus, já que não anda nas calçadas, que geralmente são estreitas.

Para o instrutor de motoristas de ônibus da Auto Escola Itoupava Norte, Christian Luis Koch, andar no corredor não é correto, mas se tolera em função do risco que o ciclista teria ao pedalar entre o corredor e a pista:

– O ciclista deve se comprometer também no trânsito. Estar visível, não fazer manobras bruscas no corredor, se usá-lo. É sempre bom lembrar que o maior deve proteger o menor e essa hierarquia deve ser respeitada no trânsito.

ENTREVISTA: JOSÉ CARLOS BELOTTO, PROFESSOR DA UFPR

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José Carlos Belotto é professor e coordenador do programa Ciclovida da Universidade Federal do Paraná. Ciclista e envolvido em associações pró-ciclovias no Brasil, Belotto defende o compartilhamento de ciclistas nos corredores de ônibus, caso não haja estrutura exclusiva para bicicletas, o que já acontece em Curitiba e em cidades da Europa.

Por que você defende o uso dos corredores de ônibus pelos ciclistas?

No corredor só trafegam motoristas profissionais, e isso já representa um ganho ao ciclista que está dividindo a pista. Normalmente, o volume de tráfego é menor do que nas outras vias e o pavimento pode ser melhor do que nos demais pontos. Só não defendo este compartilhamento de uso quando o ciclista tem uma infraestrutura exclusiva a ele na rua. Se não tiver, acredito que é perfeitamente viável e lógico o compartilhamento. O ciclista se sente mais seguro do que se for andar no bordo da pista dividindo espaço com outros carros.

Como você vê a relação de ciclistas e motoristas de ônibus no trânsito?

Às vezes falta treinamento para o motorista de ônibus. E não apenas para eles, mas para todos os motoristas que transitam nas cidades. Eles geralmente encaram a bicicleta como algo que está estorvando o trânsito. Na realidade, o ciclista está auxiliando, já que se houvesse um carro no lugar dele estaria ocupando mais espaço na via. Há uma cultura de que se o motorista tiver que esperar atrás de um carro, ele vai ter de aguardar, mas se ele tiver de reduzir a velocidade por causa de uma bicicleta, as pessoas já se revoltam.

E o ciclista em relação aos ônibus?

A mesma educação no trânsito que falta para os motoristas falta para o pedestre e para o ciclista. Tem de haver um investimento a longo prazo de educação e também na própria questão da fiscalização. As cidades foram crescendo, os espaços nas ruas diminuindo e a paciência também. Acho que a bicicleta tem este símbolo de modelo de cidade mais humana, mais ecológica.

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