A loja RMS Auto Som, palco de uma tragédia familiar no Réveillon dos Ingleses em 2017, foi reaberta agora no dia 2 de maio. O proprietário é o Nilandres Lodi, que perdeu a esposa e teve as duas pernas amputadas depois que o casal foi atropelado por um Camaro em alta velocidade bem em frente ao estabelecimento. O empresário reinaugurou o comércio num prédio a poucos metros de onde aconteceu a colisão. Ele não teria condições psicológicas de reabrir no mesmo local onde tudo aconteceu. Mesmo assim, foi no bairro do norte da Ilha que, aos 37 anos, Nilandres resolveu recomeçar a vida.
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Após o acidente e da perda da mulher, Cristiane Flores, ele e os filhos voltaram para Passo Fundo (RS), cidade natal da família. Desde então, Nilandres passou a viajar para SC com frequência, onde fazia sessões de fisioterapia. Amigos se mobilizaram e ajudaram a comprar próteses para o empresário, que custaram mais de R$ 60 mil.
O motorista do Camaro, o também gaúcho Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, fugiu para Sapiranga após o acidente e responde em liberdade desde então. Nesse período, ele foi preso duas vezes, mas por crimes diferentes: uma por furtar energia elétrica e outra por receptação qualificada. A última movimentação do processo na Justiça foi em março, quando a juíza Andresa Bernardo autorizou a quebra da fiança em metade de valor, no caso R$ 35 mil. Assim, caso Bueno seja absolvido, não terá direito a reaver a metade da fiança.
A defesa de Bueno alegou que a culpa pela perda do controle do Camaro era de um outro motorista, que teria colidido lateralmente com o veículo, causando o acidente. O condutor deste carro foi ouvido pelas autoridades catarinenses, mas não foi indiciado.
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Em entrevista à Hora de Santa Catarina, Nilandres declarou que não tem confiança na Justiça. O empresário falou sobre a reinaguração da loja, a ajuda que está recebendo dos amigos como está a rotina com as próteses. Confira:
Por que recomeçar nos Ingleses? Você estava em Passo Fundo, por que voltar praticamente para o mesmo lugar em que o acidente ocorreu?
Foi pela força que eu recebi desde o início de tudo o que aconteceu. O pessoal deu muita força quando eu estava no hospital, em visitas no quarto. Depois fizeram uma vaquinha. Na verdade, antes de tudo isso já existia uma grande amizade. A gente tinha uma vida muito boa aqui, então essa é a vontade de querer voltar. De rever todo mundo, de retomar a vida. Na verdade, eram mais que amigos, a gente se considera uma família. Nessas horas que a gente vê que não são só nas horas boas. Nas horas ruins a gente vê quem está com a gente de verdade. E o pessoal não arredou o pé. Então minha vontade de voltar foi pelo apoio que eu recebi.
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As sessões de fisioterapia já encerraram? Como está o processo de adaptação das próteses?
Essa parte de fisioterapia eu fiz muito pouco. Foram alguns dias, porque a clínica ficava no centro, bem distante. E como eu tinha que vir pra cá fazer, acabei encurtando o tempo. A clínica queria oferecer um período maior, mas eu também não podia ficar. Meu filho estava lá no Sul e não conseguia ficar longe de mim. Acabei fazendo bem pouco tempo de fisio. Mas voltei, fiz as barras em casa, fiz tudo por conta, na verdade. Tinha pressa de voltar a andar e, graças a Deus, deu tudo certo.
Está conseguindo tranquilamente fazer as atividades de rotina?
Consigo, não como era antes, isso nunca mais vai ser. Mas já consigo me defender, levar meu filho na escola, buscar ele. Eu saio, hoje eu sou bem independente. Não preciso tanto de ajuda. Saio para fazer alguma coisa da loja, quando precisa fazer um serviço de banco, qualquer coisa que tenha na rua, não tenho mais dificuldades. Ainda é difícil, mas não é como estar na cadeira de rodas. Na cadeira de rodas era bem mais complicado.
E como está a questão judicial?
A Justiça, infelizmente, é a parte que mais dói. A Justiça é muito parada. Você imagina que, se não fosse pelo apoio que eu recebi das pessoas, até hoje eu estaria na cadeira de rodas. Porque a Justiça não determinou nada. Ele nunca mandou um real que seja. Eles nunca procuraram oferecer nenhum tipo de ajuda. O que veio foi do pessoal, dos amigos. Eu ainda tinha um pouco de reserva para me manter. Se não, sei lá. Talvez estivesse na cadeira, talvez estivesse morto. Porque dependi de muito exame, de medicamento, e se eu não tivesse condições para se manter, talvez até estivesse morto. Do Jeferson, eu espero que um dia ele pague, porque da nossa Justiça aqui da terra eu não acredito mais em nada. Meu sentimento da Justiça é muito ruim. Eu não acredito na Justiça. Eles têm tudo para julgar, provas, filmagens. Tiveram tudo nas mãos e até hoje nada fizeram. Se não fosse a mídia bater em cima, já tinha caído no esquecimento.
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Como está esse recomeço?
Eu não esperava tanto. A gente sempre teve muito movimento, sempre foi bem visto nos Ingleses, mas estou recebendo força de gente que eu nunca tinha visto. Às vezes, as pessoas param do nada e vem me dar força, conversar comigo. É incrível, é o dia todo. É muito bom essa força que vem do pessoal, é isso que faz eu querer recomeçar. Eu acredito muito que agora vai!