O Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC) pediu e a Justiça autorizou a quebra de metade do valor da fiança paga por Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, motorista do Camaro que atropelou três pessoas, matou uma e feriu gravemente outras duas na madrugada do Réveillon de 2017, no bairro dos Ingleses, norte da Ilha, em Florianópolis.
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No valor total de R$ 70,2 mil, a fiança foi estipulada ao réu depois de ele permanecer mais de seis meses foragido da Justiça. Ao se apresentar na Capital, Bueno pagou o valor e ganhou o direito de aguardar a tramitação do processo em liberdade, sob condição de cumprir uma série de medidas cautelares, entre as quais não ser preso.
Como voltou a se envolver em um crime, após ser flagrado furtando energia elétrica no Rio Grande do Sul em 11 de janeiro deste ano, sendo inclusive preso em flagrante, o MP/SC observou o descumprimento da medida e pediu a decretação da prisão preventiva contra Bueno e que o valor pago no ano passado fosse quebrado.
A juíza substituta Andresa Bernardo, contudo, negou o pedido de prisão, mas autorizou o quebramento da fiança em metade de seu valor, no caso R$ 35,1 mil. Assim, o acusado, caso venha a ser absolvido na ação penal, não terá direito a reaver a metade da fiança paga em 2017.
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“Tenho que não é caso de decretação da prisão preventiva em relação aos presentes autos, devendo, todavia, permanecer hígidas as demais medidas cautelares alternativas à prisão impostas na decisão de p. 512-518. Diante dessas considerações, determino a quebra da fiança em desfavor do réu Jeferson Rodrigo de Souza Bueno, com a consequente perda da metade do seu valor, devendo permanecer incólumes às demais medidas alternativas à prisão que lhe foram impostas”, narra magistrada.
Na madrugada de 1° de janeiro de 2017, Bueno atropelou Cristiane Flores, 31 anos, que morreu no local, o esposo dela, Nilandres Lodi, 36 anos, que teve as duas pernas amputadas, e Gean Mattos, 22 anos. O motorista conduzia um Camaro com placas de Sapiranga e fugiu do local dos atropelamentos. Após ser preso no Rio Grande do Sul em janeiro deste ano, Bueno foi solto no dia seguinte ao flagrante.
A reportagem tentou conversar com o advogado Ademir Campana, que defende Bueno nos processos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, mas não o localizou em seu telefone celular.
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Justiça prorroga prazo para que IGP conclua laudo sobre divergências de velocidade
O despacho da juíza Andresa, assinado em 19 de março, também deferiu o pedido de dilação de prazo feito pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) para concluir o laudo sobre as razões de dois levantamentos diferentes terem apontados velocidades desiguais referentes à velocidade do Camaro naquela madrugada.
O laudo feito por um perito particular, contratado pela defesa de Bueno, estipulou em 45km/h a velocidade do Camaro no momento do choque – enquanto o Instituto Geral de Perícias (IGP) assinala 88 km/h. Em síntese, o advogado do motorista do Camaro entende que o culpado pelo atropelamento foi o motorista de um Audi – também envolvido no acidente – e divide essa alegada culpa com uma das vítimas, Gean Mattos, 22 anos, proprietário de uma Hilux que estaria mal estacionada no local, sustenta a defesa.
“Considerando o teor da mensagem eletrônica de p. 1136, defiro o pedido de dilação formulado pelo IGP e concedo o prazo improrrogável de 90 dias para a conclusão do laudo, com a ressalva de que a contagem do prazo requerido se dê a partir de 7/3/2018, data do encaminhamento do ofício”, diz a magistrada.
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Esse laudo está sendo produzido desde novembro do ano passado e, desde então, essa é a segunda dilação de prazo para sua conclusão.
Nilandres coloca próteses, quer Justiça, mas teme “que não dê em nada”
Nilandres, que no atropelamento perdeu a esposa e também teve as pernas amputadas, voltou com os filhos para Passo Fundo (RS) após o acidente. Ele retornou para Florianópolis pela última vez no início deste mês, onde concluiu a colocação das próteses, e retornou para Passo Fundo para dar sequência ao tratamento de fisioterapia. O dinheiro para o procedimento, quase R$ 50 mil, veio através de uma vaquinha entre amigos.
Sobre o motorista do Camaro, Nilandres, que tem conhecimento da prisão de Bueno no Rio Grande do Sul, diz esperar que se faça Justiça. Ele receia, porém, que as protelações da defesa acabem fazendo com que o caso “não dê em nada”.
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— Tenho esse medo. Mas espero que a Justiça cumpra seu papel.
O acidente
Bueno atropelou Cristiane Flores, 31 anos, que morreu no local, o esposo dela, Nilandres Lodi, 36 anos, que teve as duas pernas amputadas, e Gean Mattos, 22 anos. O motorista conduzia um Camaro com placas de Sapiranga. Por volta das 3h, o carro invadiu a calçada em frente à loja RMS Auto Som, na rodovia Armando Cali Bulos. Nilandres era proprietário do estabelecimento e retornava com a esposa para a casa da família, que fica nos fundos do local. Lá, familiares e os filhos, uma menina de 13 anos e um menino de 5, os aguardavam.
Antes de atingir as três pessoas, o Camaro bateu em um Audi – que era conduzido por Robson de Jesus Cordeiro e está em nome de Valdir Luiz Vieira – e numa Hilux. Nilandre e Cristiane eram de Passo Fundo (RS) e estavam juntos há 8 anos, três deles morando em Florianópolis. Bueno fugiu do local do acidente.