Dos 537 ônibus da frota do Consórcio Fênix, conjunto de empresas que opera o sistema de transporte público de Florianópolis há décadas e de forma concessionada desde 2014, ao menos 30 deles estão sem as câmeras de monitoramento no interior dos veículos. Em 20 desses ônibus, o motivo pela inexistência das câmeras são ameaças sofridas por motoristas e cobradores por pessoas ligadas ao tráfico de drogas que entram nos veículos, quebram os equipamentos e, caso o ônibus não tenha câmera, advertem que se forem colocadas, elas serão quebradas. Assim, o Consórcio Fênix retirou alguns desses equipamentos e em outros nem chegou a coloca-las.
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Os casos são registrados desde janeiro em comunidades do Maciço do Morro da Cruz, norte da Ilha e região continental da Capital. Não há previsão para que 100% da frota esteja equipada com as câmeras, como prevê o contrato de concessão assinado entre o Consórcio Fênix e a Prefeitura de Florianópolis há quatro anos. Além dos ônibus sem câmeras por causa das ameaças do tráfico de drogas, outros 10 veículos não possuem os equipamentos por estarem em fase de substituição de carros antigos para novos.
A reportagem teve acesso a um dos Boletins de Ocorrência (BOs) registrados por um motorista do transporte coletivo da Capital, em 22 de janeiro deste ano. A vítima, que prefere não ser identificada, assim como a linha do veículo, relata que na ocasião dois homens, um deles menor de idade, adentraram o ônibus e perguntaram se havia câmeras de monitoramento. Diante da resposta negativa do motorista, o homem de aproximadamente 22 anos, disse que “estava tudo certo” e mandou um recado para os demais motoristas daquele itinerário: “avisa os parceiros que o próximo (ônibus) subir com câmeras a gente vai arrancar”. No relato, o motorista afirma ainda que outros ônibus sofreram depredações nas câmeras.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil, via assessoria de imprensa, para saber quantos BOs de violação e depredações de câmeras de monitoramento foram registradas na Capital este ano. Devido à véspera de feriado e consequente ponto facultativo nos órgãos do Governo de Santa Catarina, a instituição avisou que não teria como responder a pergunta nesta quinta-feira. Já o Consórcio Fênix, por meio da assessoria, disse que não iria se pronunciar sobre o assunto. Para a Prefeitura da Capital, o consórcio entregou os registros de três BOs.
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Prefeitura não estipula data para que 100% da frota ganhem câmeras
Marcelo Roberto da Silva, secretário de Transporte e Mobilidade Urbana da Capital, não quis explicitar os nomes das comunidades onde têm ocorrido as ameaças “para não prejudicar o trabalho” de conscientização que o município e as empresas pretendem fazer nesses locais. Segundo ele, não há previsão para que os 30 ônibus sem câmeras sejam equipados com o item previsto de forma obrigatória no contrato de concessão, já que o trabalho está em andamento.
— O prefeito vai procurar o Ministério Público (MP), queremos fazer uma reunião ampliada com o MP, a Polícia Militar, a Polícia Civil, a nossa Guarda Municipal, a Superintendência de Relações Comunitários, que envolve todos os conselhos de desenvolvimento, para que a gente passe para as comunidades o quão importante é hoje ter câmeras nos ônibus — explica Silva, que acredita serem as ações dos criminosos de ameaças, bem como de ataques a ônibus, “acontece devido ao bom trabalho das polícias em sufocar o crime”.
Em resposta aos questionamentos da reportagem, em um caso de assédio a uma jovem estudante da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) dentro de um ônibus, o Consórcio Fênix disse, na terça-feira, dia 27 de março, que 100% da frota estava equipada com câmeras de monitoramento, o que agora, sabe-se, não fecha.
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