Quando o cabeleireiro Ricardo Henrique Gomes Santos, 23 anos, curtiu o vídeo postado por um desconhecido no Facebook, ele não imaginava que quatro anos depois estaria casando com o autor da publicação. Ricardo e Fabricio Alexandre, 31 anos, são o primeiro casal homoafetivo a oficializar a união em um casamento coletivo em Itajaí. A cerimônia de casamento civil vai ocorrer às 14h deste sábado na Sociedade Recreativa e Cultural da Vila, bairro Vila Operária.

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O vídeo que serviu de cupido era sobre o seriado norte-americano Glee, de 2009. Ricardo conta que decidiu adicionar Fabricio porque era fã da comédia musical, os dois começaram a conversar e uma semana depois tiveram o primeiro encontro na Praia de Cabeçudas. Dois meses mais tarde assumiram o namoro.

_ Percebi que estava apaixonado quando não saía mais da casa dele (Fabricio). Passava mais tempo lá do que na minha _ lembra Ricardo, em meio a risos.

Há três anos morando juntos, Fabricio revela que a vontade de oficializar a união partiu dele.

_ A gente já tem um compromisso, é para ter o papel mesmo e pelo amor também.

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Roupas compradas com três meses de antecedência

Como o casal comprou um apartamento recentemente, a possibilidade de participar do casamento coletivo apareceu em boa hora, já que a cerimônia é gratuita. Para não deixar a data passar em branco, no sábado à noite eles vão jantar com familiares e amigos em um restaurante da Beira-Rio.

Apesar de afirmarem não estarem ansiosos, as roupas que vão vestir para o momento do “sim” foram compradas com três meses de antecedência. A cumplicidade do casal impediu o segredo no figurino, os dois compraram os ternos juntos e, inclusive, ajudaram na escolha do modelo e da cor da gravata um do outro.

Ao falar de Fabricio, Ricardo dirige naturalmente um olhar de ternura e um sorriso despretensioso toma conta de seu rosto.

_ Ele representa o crescimento que tive como pessoa. É o meu sorriso de todos os dias. A força que eu preciso, um amigo e companheiro _ disse.

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Mais contido, Fabricio deixou a timidez de lado e também homenageou o amado:

_ Ele é a metade que me completa. A pessoa que está comigo se está tudo bem ou mal. Sempre me dá conselhos e ajuda. Eu amo muito ele. Aprendi a amar com ele.

Cerimônia sem bênçãos pela primeira vez em oito anos

A presença de Ricardo e Fabricio entre os 75 casais que vão oficializar a união neste sábado em Itajaí causou estranhamento. Conforme a diretora de Políticas Temáticas da Secretaria de Desenvolvimento Social, Cristiane Stuart, esta é a primeira cerimônia em oito anos que não vai contar com as bênçãos de um padre e pastor. Serão apenas dois juízes de paz realizando o casamento civil.

A organizadora informa que padres e pastores foram convidados a participar, mas não aceitaram por conta da presença do casal homoafetivo.

_ A gente conversou com alguns pastores, padres e diáconos até, mas eles entendem que a igreja ainda não aceita o casamento gay _ afirma.

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No ensaio feito na quarta-feira à noite, Ricardo e Fabricio perceberam os olhares inquietos dos outros casais:

_ No começo foi meio tenso. Só tínhamos nós, aí todo mundo ficava olhando. Tinha gente com os filhos juntos que estranhou. Mas como ninguém desrespeitou a gente, tube bem _ disse Fabricio. Ao se inscrever, eles esperavam que haveria mais casais do mesmo sexo.

O padre responsável pelos padres da região de Itajaí, Valmir Debarbi, informa que a arquidiocese de Florianópolis, a qual Itajaí pertence, não permite que o sacramento do matrimônio seja concedido fora de uma igreja. A não ser em celebrações de bodas de prata, por exemplo.

_ A igreja não aprova o casamento entre homossexuais, mas respeita a opção de cada um. Não é porque uma pessoa é homossexual que ela não merece o amor da igreja _ afirma.

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O pastor da igreja Missão Evangelística Vide Amados Meus (Mevam), Edson Alexandre, explica que o posicionamento da igreja romana como um todo é de que “a mulher foi feita para o homem e o homem para a mulher”.

_ Prezamos a família tradicional. O criacionismo é que nos orienta. Para nós é errado. A comunidade cristã evangélica é unânime em não celebrar casamentos homoafetivos _ disse.

Assunto foi polêmica no ano passado em Balneário

Não é a primeira vez que a união de um casal gay em casamentos coletivos vira polêmica na região. No ano passado, a 6ª Promotoria de Justiça de Balneário Camboriú teve que fazer uma recomendação ao prefeito Edson Piriquito para que aceitasse a inscrição de casais homoafetivos candidatos para o evento, que ocorre tradicionalmente em julho na cidade. A recomendação foi expedida pelo Promotor de Justiça Rosan da Rocha, após apurar, em inquérito civil, a notícia de que o casamento coletivo em 2014 era restrito a casais heterossexuais.