Em meio a um café típico de fazenda, com pão caseiro feito em fogão a lenha, mas onde é preciso ficar com os braços abertos em volta do prato atento a simpáticos gatunos de quatro patas, dona Lúcia conta mais histórias do trabalho voluntário — e muito pouco da vida pessoal. Vegetariana, ela lembra que desde jovem “estragava” as refeições da família ressaltando aos pais e tios o sofrimento dos animais abatidos para consumo. Uma ligação com os bichos que só aumentou — muito em razão dos resgates marcantes que ajudou a fazer.
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Um dos que mais a sensibilizou foi o caso de Gorda. Na ânsia de se livrar do animal, os antigos donos atearam fogo na cachorrinha. Ela ficou com dificuldades de locomoção por meses e a dor intensa de Gorda também machucou Lúcia. O tratamento só foi possível graças a doações de curativos de uma empresa têxtil do Vale como os oferecidos em alas de queimados de hospitais — material de altíssimo preço, toda a recuperação teria custado um carro popular, estima Lúcia.
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Um pedido de socorro de uma voluntária que passava pela BR-101, em Tijucas, e via uma cachorra prestes a ter cãezinhos foi outra história marcante. Graças ao resgate rápido, a cadelinha conseguiu dar à luz a nada menos que 17 filhotes — o que lhe rendeu o batismo como Lili Carabina. Foram 18 vidas salvas naquele dia, contabiliza Lúcia. Mas não se pode vencer todas. No caso de uma égua grávida que ela ajudou a socorrer em Balneário Piçarras, por exemplo, tanto o animal quanto o filhote morreram dias depois.
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— A gente tem que lidar com a morte muitas vezes, mas tu te apegas de um jeito a eles que tu não imaginas — admite.
O sonho da Dona Lúcia
Por muitos anos, Lúcia manteve em segredo o trabalho que fazia. Aos poucos, o temor de que algo pudesse acontecer com ela e o projeto não tivesse continuidade a fez divulgar e dar mais visibilidade às ações, mesmo não ficando tão à vontade com holofotes.
— Vieram mais adoções, mais doações, mais voluntários, mas também mais denúncias e mais abandono — pontua Lúcia.
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:: Voluntários auxiliam no trabalho de resgate e cuidados com animais
Ela tem um sonho. E até já imagina como seria se alguém como Luciano Huck aparecesse no sítio para conhecer Lobo, Laica, Canisso, Vitória e companhia e quem sabe realizá-lo.
— Eu iria pedir um Castramóvel e iria tentar fazer valer as leis — sinaliza Lúcia, que vê na conscientização sobre esse tema (e também em ações concretas do poder público) a única forma de evitar que histórias como a dos animais hoje abrigados se repitam.