Nos últimos dias, a revolta tomou conta de parte da população ao ter contato com um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cujo resultado revela que 65% dos entrevistados concordam total ou parcialmente com a frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
Continua depois da publicidade
Uma onda de protestos surgiu nas redes sociais e chegou a outras mídias, com movimentos como #EuNãoMereçoSerEstuprada, criado a partir da indignação da jornalista Nana Queiroz, 28 anos. Joinville também entrou no debate.
Confira abaixo a entrevista de Nana para A Notícia.
A Notícia – Qual foi sua reação quando teve contato com o resultado da pesquisa produzida pelo Ipea? Como a avalia?
Continua depois da publicidade
Nana Queiroz – De absoluta revolta. O Ipea tem credibilidade, mas sua metodologia foi questionada por usar a palavra “atacada” em vez de “estuprada”. Eu não concordo com essa crítica. Acho que a palavra atacada foi acertada por incluir todo tipo de agressão física, psicológica e sexual.
AN – Em que momento decidiu criar o evento #EuNãoMereçoSerEstuprada? Como foi a preparação para a foto? Como você lida com a exposição do seu corpo nas redes sociais?
Nana – Eu não me importo com a exposição de meu corpo em um contexto de protesto. Só não o permitiria ser mero objeto de satisfação masculina. Decidi criar o evento no momento em que vi os resultados da pesquisa. Fui fortemente inspirada pela Marcha das Vadias e pelo Pussy Riot, da Rússia.
Continua depois da publicidade
AN – De que forma você tem encarado a repercussão de sua foto e do evento? Como lida com os comentários depreciativos?
Nana – Não tenho mais medo neste momento, pois me sinto protegida também pela exposição. Com posicionamento da presidência e membros do Congresso a meu favor, precisaria muita coragem ou falta de juízo para me atacar.
AN – Chegou a receber ameaça, certo? Como você procedeu? Esperava um retorno tão negativo e forte de determinadas pessoas?
Continua depois da publicidade
Nana – Fui à Delegacia da Mulher de cara e denunciei ameaçadores. Esparava ofensas, mas ameaças, jamais. O que mais me espantou, no entanto, não foi a reação do machismo, mas do humor brasileiro. Muita gente entrou na onda do “Eu não mereço ser estuprada” para fazer piada, como se estupro fosse algo engraçado. Não vejo nenhuma vítima rir. Não eram, entretanto, adultos de opinião (mal) formada que faziam apologia ao estupro, mas adolescentes que mal iniciaram (ou não iniciaram) a vida sexual. Esses meninos precisam ser educados. Por isso focamos o movimento, agora, na aprovação da inclusão de questões de gênero no Plano Nacional de Educação.
AN – Qual a importância da militância feminista na atualidade? Por que ela se faz necessária?
Nana – Se faz necessária e sempre será enquanto existir o machismo.