A mãe do autônomo Sérgio Luiz Carvalho, dona Elza Carvalho Lemos, sonhava em se mudar para um dos apartamentos que estão sendo construídos para 88 famílias da Ponta do Leal, no Balneário Estreito, em Florianópolis. Ela morava numa das casas de madeira da comunidade que fica na beira do mar, assim como mora Sérgio até hoje. A idosa já estava até comprando coisinhas para a casa nova, conta o filho. Há quatro meses ela faleceu, sem realizar o sonho.
Continua depois da publicidade
— A gente fica chateado, angustiado. “Será que as casas serão para nós mesmos?”, nos questionamos. Mas queira Deus que estas obras fiquem prontas logo — desabafa Sérgio.

O prazo inicial para entrega dos quatro blocos do residencial era fevereiro deste ano. Foi adiado: a segunda previsão ficou para agosto de 2016. No fim do mês, os prédios ainda estão sem pintura e sem acabamento. Cerca de 70% da obra está pronta, informou a Secretaria de Habitação de Florianópolis.
Por falta do repasse de verbas por parte do Governo Federal aos projetos do programa Minha Casa Minha Vida, os trabalhos foram paralisados ao longo deste semestre, afirmou ainda a secretaria. Na semana passada, um acordo entre a construtora responsável, Vita, e a Caixa Econômica Federal, que repassa o dinheiro, foi firmado e os trabalhos serão retomados na primeira semana de setembro. A entrega agora é prevista para fevereiro de 2017.
Continua depois da publicidade
A aposentada e pensionista Josefa Ramos Carvalho mora há mais de 40 anos na Ponta do Leal, nas casinhas de palafita, junto de três filhos e netos. É viúva do pescador João Geraldo Carvalho, um dos líderes comunitários que lutou por uma moradia para a comunidade. Assim como os demais vizinhos, Josefa está apreensiva.
— Eu pensei que eu já estaria arrumando as minhas coisas e fazendo a mudança. Estou com problemas na estrutura da casa. Queria arrumar o banheiro, a sala. Mas não posso gastar um dinheiro assim, se existe a possibilidade de me mudar — explica.
A comunidade acompanha todos os passos da construção e recebeu a informação de que uma pedra enorme no terreno também ajudou a atrasar as obras. No entanto, acredita na retomada nos próximos dias.
Continua depois da publicidade
— Já temos o cronograma de trabalhos. Esperamos que todos os repasses ocorram de forma correta a partir de agora, porque também temos interesse em entregar os apartamentos o quanto antes — afirmou o responsável técnico pela obra do residencial, Newton José Schwinden Filho.
Luta desde 2005
Desde 2005 que os moradores lutam pela qualidade de vida da região. As conversas iniciaram após uma decisão do Ministério Público Federal (MPF) que determinou que o município resolvesse os problemas de ligações clandestinas de esgoto, a retirada das casas do local e inclusão dos moradores em um projeto de habitação. Num primeiro momento,a prefeitura indicou a mudança dos moradores da Ponta do Leal para casas no Jardim Atlântico e no Monte Cristo. Apartamentos oferecidos de 36 metros quadrados não agradaram. Depois de muito diálogo, a comunidade conquistou apartamentos de 58 metros quadrados no terreno que fica nem perto das palafitas, na própria Ponta do Leal.
As obras dos quatro blocos, com 88 apartamentos, começaram em julho de 2014 e tinham prazo de 18 meses para serem entregues. A área de 4.135 metros quadrados, na rua Quinze de Novembro, pertencia à União e ao Município e foi doada ao Fundo de Arrendamento Residencial para a construção.
Continua depois da publicidade
Os apartamentos terão sala, cozinha, área de serviço, sacada e banheiro. O condomínio terá ainda um playground, 15 vagas de estacionamento para carros e 30 para motocicletas. Cada proprietário irá pagar 10% do valor total do imóvel, que custa R$ 64 mil, em parcelas que não ultrapassem 5% da renda total da família.
A Secretaria de Habitação vai realizar reuniões sobre a mudança e também vai acompanhar o pós-mudança, com o objetivo de ambientar os moradores à nova realidade.
Revitalização da área
Com a mudança dos moradores aos apartamentos, a Prefeitura de Florianópolis já possui um projeto de revitalização da área. As casas e ranchos serão removidos e a ideia é construir uma passarela, um deck e até novos ranchos para os pescadores no local. Mas o projeto ainda depende da aprovação do estudo de impacto ambiental, informou a Secretaria de Habitação.
Continua depois da publicidade
Jardim Atlântico será mais rápido

A mesma construtora realiza as obras do residencial Jardim Atlântico – que terá 78 apartamentos – também na área continental de Floripa. As obras foram paralisadas pela mesma razão – falta de verbas – e serão retomadas no mesmo dia que as da Ponta do Leal, informou Newton José Schwinden Filho, da Construtora Vita. A obra já está 95% pronta, e devem ser entregues em 90 dias a partir de 5 de setembro.