Nem os baldes carregados de mudas e terra, nem os equipamentos de jardinagem, muito menos os 76 anos de idade são um peso para Leovaldo dos Santos. Diariamente, ele sai da casa de madeira pintada de verde e azul com vista privilegiada para a Baía Sul, em uma esquina da Rua dos Eucaliptos (a antiga Rua Cartucho ou Rua Dois), e sobe em direção ao pomar e jardim comunitário criado nas margens da principal via que corta o Alto da Caeira e a Serrina, no Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. A pai do pomar é outro morador, Rui Alves, que plantou as primeiras mudas há cerca de um ano e colocou plaquinhas que identificam as plantas. Mas é Leovaldo, experiente agricultor, que faz a manutenção diária. É terapia e trabalho para o idoso, que saiu há 20 anos do interior do Paraná rumo a Floripa e ajudou a comunidade a crescer. Hoje, ele e Rui fazem parte de um grupo pequeno, mas com uma grande pretensão: ajudar na revitalização do Parque do Maciço nas comunidade que fazem parte do morro.
Continua depois da publicidade
Leovaldo é pai do atual presidente da Associação de Moradores do Alto da Caeira, Carlos Santos. Ele conta que o jardim — que vai do campinho de futebol que divide a comunidade com a Serrinha até o cruzamento com a Rua General Vieira da Rosa — começou quando moradores tiraram o capim e começaram a plantar árvores nativas. A partir de então, foram criados mutirões para dar conta do trabalho. Agora, há árvores frutíferas e flores plantadas ali. Além de mudas doadas pela Floram, Rui e Leovaldo cultivam algumas em casa.
— É um incentivo do grupo, mas a prefeitura tem alguns projetos de remanejo no parque todo. Gostaríamos de espalhar isso por outras comunidades, fazer mutirões. Poderia até ser um trabalho pra alguma pessoa — sugere Carlos.
Ele lembra que, anos atrás, a UFSC se envolveu em ações como esta no Maciço. É este tipo de parceria que ele quer retomadas através da associação, com envolvimento dos moradores. Além dos jardins comunitários, Carlos sonha com outras estruturas que ajudarão na revitalização do bairro: um posto de saúde, que está para ser construído ao lado do campinho, e uma academia ao ar livre, voltada às crianças e a terceira idade. São esses os pedidos que a Associação fará à prefeitura.
Continua depois da publicidade
Homem da terra
Leovaldo sonha junto com o filho. E só faz isso porque sabe que o envolvimento da comunidade com as necessidades do local em que vive dá certo. Mais de 20 anos atrás, quando chegou à Capital catarinense seguindo o caminho dos filhos que já haviam escolhido Floripa, o então produtor de hortaliças se instalou em um local pouco habitado. Ao lado de outras moradores, ajudou a abrir, “na base do muque”, como recorda, a rua que se tornou a principal do Alto da Caeira.
— Agradeço a Deus que fui privilegiado — diz o idoso sobre o local em que construiu sua casa, a vista que tem de lá e o desenvolvimento do bairro.
Depois dos 25 anos dedicados a produzir hortaliças, em Florianópolis Leovaldo começou a trabalhar com reciclagem. Ainda faz isso, mas com mais calma que anteriormente. Em sua casa, de maneira organizada, já havia plantado bananeira, cerejeira, palmeira, batata-doce — colheu uma de mais de quatro quilos. Mas quando o vizinho Rui surgiu com a ideia de fazer o replantio da área às margens da rua, viu ali a oportunidade de voltar a mexer na terra, como sempre gostou.
Continua depois da publicidade
— Luto com muda — resume o senhorzinho, simples e orgulhoso do que faz. O exemplo inspira a família. Carlos, o presidente da associação, é jardineiro.
Como colaborar
A Associação de Moradores conta com a ajuda da comunidade tanto com doações de mudas quanto para a participação nos mutirões e na tentativa de expandir o trabalho para outros locais do maciço. Quem quiser se envolver pode entrar em contato com Carlos pelos telefones (48) 8831-2064 e 3225-9591.
Projeto social dá aulas de ciclismo para crianças e adolescentes no Morro da Cruz