Afastado há uma semana pela diocese de Joinville da comunidade São Luiz Gonzaga, no Itinga, em Araquari, onde rezou missa por cerca de sete meses, o padre Luiz Facchini, 70 anos, 43 deles de sacerdócio, encontra defensores e críticos entre fiéis. Se por um lado a diocese informa que o acordo para afastamento do padre foi incentivado por grupos da comunidade, em especial os ligados à Renovação Carismática, por outro há pessoas que vêm sentido nas ideias defendidas por Facchini.
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Para completar, há quem mantenha sentimentos dúbios em relação ao padre – o nome por trás das cozinhas comunitárias no Norte de SC. O comportamento pouco convencional de Facchini, que sustenta a vertente esquerdista da Igreja Católica chamada de Teologia da Libertação, é motivo de atritos entre ele e a diocese há pelo menos duas gestões.
Vídeo: assista depoimentos da comunidade
Amigo de Facchini há 33 anos, o aposentado João Kuhnen, 77, um fundador da igreja São Luiz Gonzaga – na casa dele começaram a ser rezadas missas – diz que prefere analisar a situação de vários ângulos.
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– Facchini é bom padre, as missas dele são bonitas. Mas acho desnecessário discordar dos carismáticos (movimento de leigos que faz missas com propostas de cura e outros rituais). Já fui em missa carismática e é bonita também.
Enquanto foi vigário no Itinga, e nos 11 anos à frente da Paróquia Nossa Senhora de Belém, no Boehmerwald, Facchini foi contrário a atos de grupos de estudos do movimento, que passaram a atuar sob chancela do bispo Irineu Scherer.
Mulher no altar
O servente Valdir Gregório, 56, não poupa elogios ao padre.
– Foi o melhor que já passou por aqui -, diz.
Há um motivo para isso: Valdir é separado e o padre batizou um filho seu sem problemas.
– Outros padres se negaram -, diz o servente.
Nair Maria do Nascimento, 84, personagem de uma das polêmicas em que o padre se envolveu no Itinga, defende Facchini. Durante missa no Dia Internacional da Mulher, em março, na igreja inacabada que vem sendo erguida há cerca de um ano, Nair foi convidada por Facchini ao altar para dar a comunhão aos fiéis. É o ritual de entrega do pão e do vinho, que simbolizam sangue e corpo de Jesus Cristo em igrejas cristãs.
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Para coordenadores e fiéis que levaram o caso ao bispo, o padre descumpriu a doutrina: caberia aos ministros dar a comunhão, além do fato de Nair ter participado da consagração da eucaristia. Defensor de ideias progressistas como a possibilidade de padres se casarem, Facchini diz que quis fazer uma homenagem.
– Foi um reconhecimento às mulheres, que ajudam na maioria das atividades da igreja e participam de poucos atos no altar, o que acho errado.
Nair conta que chorou de emoção no dia.
– Trabalhei mais para a Igreja do que para minha própria casa em meus 84 anos. Se eu não for pura o suficiente para participar de um momento desses, vou mudar de Igreja.
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