Enquanto o prefeito Antídio Lunelli (PMDB) e os servidores públicos não chegam a um acordo para encerrar a greve em Jaraguá do Sul, a população busca alternativas para amenizar os impactos da paralisação que completa um mês nesta quinta-feira. A greve começou após a Prefeitura encaminhar para a Câmara de Vereadores um pacote de projetos que prevê, entre outras coisas, a redução dos benefícios concedidos aos servidores.

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A meta é gerar economia ao município por meio dessa medida.Segundo a Prefeitura, das 60 unidades de educação do município – entre escolas e centros de educação infantil –, 16 estão sem atendimento e 44 com atendimento parcial. Sem aulas para as crianças, muitos pais que trabalham durante o dia não têm onde deixar seus filhos e precisam se desdobrar para achar uma solução.

A faccionista Rafaela Aparecida Avi, 34 anos, trabalha em casa durante todo o dia e decidiu ajudar os vizinhos do bairro Rio Molha durante o período da greve. Ela já cuidava de três crianças da vizinhança durante duas horas por dia após a saída da escola. No entanto, assim que a paralisação começou, passou a receber as crianças em casa, das 7 às 18 horas, de segunda a sexta-feira.

– Os pais vão trabalhar e não têm onde deixar as crianças. É complicado porque eles podem até ser demitidos se não forem para o serviço – conta.

As três crianças comem na casa e brincam com o filho e a sobrinha de Rafaela pela manhã e à tarde. O gasto com a alimentação mensal da família, composta por cinco pessoas, aumentou de R$ 500 para cerca de R$ 1 mil. O acréscimo nas despesas é bancado pelos pais das crianças, que pagam para a faccionista cuidar dos filhos.

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Para quem não tem condições de pagar um cuidador de crianças, a saída tem sido procurar ajuda com a família. A zeladora Elenildes Brito dos Santos, 26, tem dois filhos e mora no bairro São Luís. No último mês, ela passou a deixar Samuel, de quatro anos, e Bianca, de sete, aos cuidados da irmã Genilzete quando sai para trabalhar.

Genilzete mora no bairro Tifa Martins e leva cerca de meia hora a pé para chegar na casa de Elenildes e cuidar dos sobrinhos.

– Acaba sendo um problema (a greve) porque, com a escola, tenho um horário certo para deixar as crianças, e assim dependo da minha irmã para cuidar deles – explica Elenildes.

Embora ainda exista a falta de atendimento, o secretário de educação Rogério Jung afirmou que cerca de 20 novas turmas do ensino fundamental das escolas municipais retornaram às aulas na terça-feira. Os profissionais da área também trabalham na elaboração do calendário de reposição dos dias parados, visando ao cumprimento dos 200 dias letivos anuais.

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Justiça determina que servidores voltem ao trabalho em Jaraguá do Sul

Unidades de saúde fechadas

CAPS AD, UBS João Pessoa, UBS Estrada Nova, UBS Vieira, UBS Caic, UBS Amizade, UBS Rio Molha, UBS Boa Vista, UBS Chico de Paulo, UBS Três Rios do Norte, UBS Vila Nova, UBS Santa Luzia e CAM (gestantes que necessitam de atendimento de emergência devem ser levadas ao Pama 2, ou ao Hospital e Maternidade Jaraguá).

Centros de educação infantil sem atendimento

CEI Apolonia Stählin Junks, CEI Daniel Carlos Pretti, CEI Guilherme Tribess, CEI Jones Chiodini, CEI Márcio Klinkoski, CEI Mário Nicollini, CEI Prof.ª Ilse Dumke Giese, CEI Rodolfo Hufenuessler, CEI Rui Kroeger, CEI Sidnei Alexandre Berns e CEI Waldir Edson Theilacker.

Escolas municipais sem atendimento

Adelino Francener, Atayde Machado e Dom Pio de Freitas.

*Pelo menos 28 escolas do município estão oferecendo atendimento parcial, com aulas para algumas turmas e séries. Na área da saúde, também há postos e unidades de saúde com atendimento parcial.

Pacientes chegam cedo aos postos para garantir atendimento

A paralisação dos servidores também vem impactando o atendimento das unidades de saúde de Jaraguá do Sul, onde 13 estão completamente fechadas, 11 têm profissionais orientando a população sem atendimento médico e outras 22 mantêm atendimento parcial, emergencial ou de serviços essenciais.

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No Pronto-atendimento Médico Ambulatorial (Pama 1), o número de consultas diárias caiu pela metade nos últimos 30 dias, de acordo com os funcionários. A unidade atende a pacientes de urgência, oferece consultas médicas de clínica geral, pediatria e atendimento ambulatorial. Segundo os servidores que trabalham no Pama 1, os pacientes costumavam chegar cerca de 15 minutos antes da abertura da unidade para marcar as consultas.

Desde o início da greve, as pessoas chegam de madrugada para garantir uma vaga. Nesta quarta-feira, o pedreiro Gilberto Volski, 42 anos, e a esposa Lindacir Nunes, 40, acessaram o local antes do meio-dia em busca de uma consulta para Gilberto, que têm passado mal e nem consegue trabalhar.

– Fomos no pronto-socorro, mas eles dão só um remédio para dor. A gente queria uma consulta e aqui no Pama disseram que não tem mais vaga. Vamos ter que ir pra casa – disse Lindacir.

Grávida vai recorrer ao atendimento particular

A operadora de máquinas Roseli Bonfim Erthal, 31, está grávida de três meses e também tentou marcar consulta no Pama 1. Segundo ela, ainda não foi possível fazer a carteirinha para iniciar o pré-natal porque o posto de saúde está sem atendimento. O marido Valdecir Erthal, 38, afirma que o casal está com receio de que exista uma complicação na gestação e o atendimento restrito das unidades do município tem sido um problema.

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– Vamos ter que pagar um exame particular porque não encontramos nenhum lugar para fazer pelo SUS – explica.

Edital estipula volta ao trabalho em até 24 horas

A Prefeitura de Jaraguá do Sul publicou um edital ontem para convocar todos os servidores que aderiram à greve a retornarem ao trabalho no prazo de 24 horas a partir da publicação.

O documento defende a convocação com base em um processo ¿reconhecendo por três vezes a ilegalidade e abusividade da greve¿ e uma ação civil movida pelo Ministério Público de SC contra o sindicato ¿pela recusa do movimento paredista de retomar os serviços essenciais de educação, saúde, assistência social, tecnologia da informação e fornecimento de água e esgoto¿.

Em comunicado, o Sindicato dos Servidores Públicos (Sinsep) esclareceu que, mesmo com a convocação, foram mantidas a audiência de mediação entre a categoria e a Prefeitura no Ministério Público do Trabalho, além da assembleia geral de greve, marcada para as 18 horas desta quinta-feira.

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O Sinsep salientou que qualquer decisão em relação à continuidade ou não do movimento de greve será tomada na assembleia geral. De acordo com a categoria, o sindicato tem interesse na solução da greve o mais rápido possível, para o retorno dos servidores ao trabalho, o restabelecimento do serviço público e a normalização do atendimento à população, mediante negociação a respeito das reivindicações da categoria em greve.